BLOG DOS INTERCAMBISTAS Data de Publicação: 01 fev 2024 10:30 Data de Atualização: 01 fev 2024 13:29
Para os estudantes que fazem intercâmbio pelo Propicie, o fim do semestre significa uma época intensa de finalização de projetos, viagens e despedidas. No relato de hoje, do Maykon Allan Soldati Quandt, aluno de Engenharia de Alimentos do Câmpus Urupema, vemos um pouquinho de tudo isso. Assim como outros colegas do Propicie 20, Maykon voltou no fim do ano passado ao Brasil e nos contou como foram os meses que se passaram depois do último relato que ele havia enviado para nós.
Veja a seguir as dicas e experiências que Maykon teve em seu período participando de um projeto no Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), em Portugal.
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Desde meu último relato, a intensidade do projeto aumentou, fazendo com que eu tivesse mais responsabilidades e tivesse que realizar mais testes. Por um lado isto é ótimo, pois notei a escassez do dinheiro que recebi pela bolsa, uma vez que 42% do valor da bolsa foram para as passagens e 19% para a moradia. Então me sobraram 39%, cerca de € 1200, para comer, viajar e aprender mais sobre Portugal e a situação da União Europeia.
Vou dividir o meu relato em coisas relacionadas ao projeto e estadia em Beja, e coisas relacionadas às viagens. Também acredito que o principal objetivo deste relato seja focar mais nos detalhes diferentes que possam ajudar futuros intercambistas, por isso, os detalhes vão focar em dicas de aplicativos, de sobrevivência e situações que possam se repetir com outros intercambistas.
Começando pela melhor parte, consegui me organizar para conhecer 4 lugares: Fátima, Setúbal, Évora e Veneza. Como estava limitado ao dinheiro da bolsa, fiz escolhas bem pragmáticas. Escolhi visitar Fátima para pagar uma promessa a uma professora do IFSC. Já Veneza é um dos poucos locais no mundo que eu queria conhecer pessoalmente, um dos meus principais sonhos. Conheci Setúbal devido à facilidade, uma vez que lá eu tinha conhecidos que me ofereceram estadia e regalias, às quais sou muito grato até hoje. E por fim, Évora é o local mais interessante da região do Alentejo Português, uma vez que sua história está muito conectada ao período da inquisição.
Começando por Fátima, a jornada já começou estranha. Quando nos movimentamos por Portugal, geralmente podemos utilizar os aplicativos para celular “MyRNE” para a utilização de ônibus, ou o “CP” que é a sigla para Comboios de Portugal. Quando utilizada a Rede Nacional de Expressos (RNE), a cidade aparece e é certo que você vai parar na rodoviária da cidade. Porém, o mesmo não acontece com o CP, já que você insere o nome da estação ao invés do nome da cidade.
Para o caso de Fátima, existe uma estação isolada de mesmo nome, com apenas 3 residências ao redor, sem sinal de civilização. Acabei pegando um comboio para lá e, próximo de descer na estação, perguntei ao cobrador se ele teria alguma dica sobre como eu poderia fazer para chegar a Fátima, e ele disse para parar na estação seguinte, que possuía alguns poucos ônibus para o meu destino. Desci numa vila chamada Caxarias e cheguei 5 minutos depois do ônibus partir.
Como o próximo só viria depois de 4 horas, resolvi pegar um Bolt, que é um meio de transporte comum em Portugal, similar ao Uber. Saiu caro, mas foi o resultado da falta de um planejamento detalhado.
Em Fátima, a visita aos templos e ao santuário são todos gratuitos, com muitas missas e eventos, todos detalhados em um cronograma disponibilizado na internet. Fiz uma videochamada com minha avó, que tem mais conhecimento da religião católica para fazer mais proveito do evento. Além disso, visitei o santuário de Fátima em um dia especial, portanto havia mais pessoas do que o normal, o que também foi muito legal. Recomendo planejar visitas a locais assim quando há datas especiais. Fátima não é apenas um local religioso, mas também muito conhecido por suas grutas e geologia. Lá visitei a Gruta das Moedas, que funcionava com visitas autoguiadas, por auxílio de QR Code, e também um museu geológico que ensinava as formações sedimentares, basálticas e outros tipos de formação. Lá tem rochas de diversos tipos e a visitação é gratuita. No entanto, não havia ônibus para essa região, então tive que ir caminhando. Quando se faz visitas do tipo, é comum seu celular ficar descarregado. Uma alternativa caso não possua powerbank é ir em qualquer McDonald 's da região, pois estes sempre possuem tomadas para carregar o celular. Programei a volta de ônibus, portanto tudo ocorreu sem problemas.
A viagem para Setúbal foi feita em uma rota entre Beja e Setúbal. Caso você utilize o MyRNE, o valor será fixo. Porém, você pode receber desconto se alterar a opção de viajante, uma vez que adultos pagam mais do que jovens. Outra dica é que, por uma opção da RNE, as viagens entre Lisboa e cidades turísticas de Portugal tiveram promoção, chegando a 4 euros. Saia mais barato ir de Beja para Lisboa, e de Lisboa para Setúbal, totalizando cerca de 9 euros, do que fazer a rota Beja-Setúbal, que totaliza 12 euros. No entanto, como estava indo com um colega, eu fiz essa rota. Este colega me ofereceu moradia, comida e carona para viajar para locais próximos com sua família. Graças a isso, consegui economizar e aproveitar muito a região. Recomendo fortemente para os intercambistas focarem em fazer amizades do tipo. Dependendo do tipo de pessoa que você conversa, você consegue entender se ela está mais aberta a te aceitar ou se fica desconfiada. Seja o mais receptivo possível, que provavelmente eles te receberão da mesma forma. Seja humilde e ouça tudo deles antes de falar sobre você. Usando esta filosofia eu consegui amigos que disseram estarem felizes de me conhecer. Setúbal foi um dos meus primeiros destinos, e também foi um dos últimos, pois precisei me despedir destas pessoas que me foram tão importantes.
Évora foi a última capital regional que visitei. Lá conheci uma colega do Propicie, a Juliana. Ela foi professora de história e foi importantíssima para eu compreender o que era a inquisição e seu conluio com o estado para manter as pessoas sob a religião majoritária. Portugal é um país fortemente influenciado pela igreja católica, e muito disso vem desta influência histórica.
No entanto, ao chegar na cidade, notamos a presença da igreja evangélica universal. O Brasil exerce muita influência em Portugal e a religião é um agente disso. Muitas pessoas que conversei possuem algum contato com pessoas evangélicas e isso está causando algumas mudanças na visão portuguesa sobre o Brasil, principalmente na questão política. Mas de restante, tudo foi muito protocolar nesta visita. Nada que agregue a este relato.
Agora a visita mais inesquecível para mim foi a Veneza. E aqui tentarei incluir o máximo possível nos detalhes. Ao viajar para um país fora de Portugal, primeiro deve-se observar os valores das passagens. Uma viagem bem planejada e não dependente de clima pode ser mais barata que o comum. Fiz a pesquisa das passagens aéreas pela empresa Ryanair, uma companhia do estilo low-cost, que oferece viagens com preços acessíveis. Ela é geralmente a principal opção, porém alguns também utilizam a easyJet. Os preços baixos geralmente estão associados a levar apenas uma mochila na viagem, então fiquei atento a quanta roupa levaria e tamanho de minha mochila, caso contrário, muitas multas são geradas. Para as viagens terrestres internacionais, geralmente as pessoas usam o FlixBus. A viagem com ele é muito fácil e geralmente é a opção mais barata dentre todas. O meu avião saiu de Lisboa, do terminal 2 do aeroporto, onde ficam todas as companhias low-cost. O destino foi a cidade de Bérgamo, próxima de Milão. Chegando no aeroporto, por ser uma viagem entre países do espaço Schengen, não foi necessário nenhum processo de imigração. Chegando lá, precisei de quase 2 horas para conseguir um chip telefônico, e com isso percebi que as coisas são muito burocráticas na Itália. Meu transporte para Veneza saia às 15h, sendo que cheguei às 11h, logo, havia tempo hábil para isso. Esperei pelo ônibus e fui direto para Veneza.
No meio do caminho conheci uma brasileira, trocamos contatos e a conversa foi bem produtiva. Percebi ali que o italiano é uma língua muito fácil de compreender, mesmo que você não entenda como falar. É uma sensação similar à compreensão do espanhol sulamericano por nós, brasileiros. Indo para Veneza, você pode optar por descer em Mestre, um bairro central da parte continental da cidade e que possui diversas conexões com a ilha por meio de ônibus ou trem. Optei por descer na própria ilha, em um estacionamento na ilha de Tronchetto. Para aproveitar a cidade, existe um sistema da própria câmara de Veneza chamada Venezia Unica. Existe a versão em aplicativo de celular e a versão em site, e nela você pode comprar passagens de vaporetto, gôndola, ou até para as atrações da cidade, como santuários, museus e igrejas. Na cidade, eu me mantive caminhando indo e voltando da minha pousada e aproveitei muito bem os três dias que fiquei na cidade. A volta aconteceu sem muito segredo, utilizando os mesmos meios que comentei anteriormente.
Para estas viagens, você sempre pode contar com a opção territorial de transporte. Em Portugal, as opções mais comuns são o RNE e o CP, já na Itália, é comum a utilização do Itabus ou o Tremitalia, e para cada outra cidade talvez exista um sistema próprio. Mesmo assim, os aplicativos internacionais, como Omio, Flixbus, Ryanair, entre outros, ainda funcionam. Para a estadia, o Booking é o principal aplicativo.
Agora, depois de comentar sobre minhas viagens, eu comentarei a experiência geral em Beja. O meu projeto necessitava de grandes repetições para atender o número mínimo de provadores para a análise sensorial. Fiquei repetindo diversas vezes e, depois de terminar, aplicamos um processo de monitoramento de temperatura utilizando arduíno e termistores. O projeto foi muito bem coordenado pelo professor João Dias, graças a ele obtive muito conhecimento na manipulação de dados por meio de arduíno. Inclusive, buscarei aplicar esse conhecimento em projetos de pesquisa futuros. As etapas aqui foram muito repetitivas, e julgo não ser necessário detalhá-las demais, por isso, termino aqui este tema.
Sobre a experiência com o Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), eu me surpreendi com o acolhimento. Após a viagem para Veneza, meu dinheiro se resumia em cerca de 30 euros para durar mais 20 dias em Portugal. Foi um sufoco, comprando apenas o mínimo necessário para cumprir algumas refeições no dia. Estando nessa situação, o atendente do restaurante universitário, o senhor Vital, sugeriu que eu tivesse uma entrevista com o responsável pelas senhas sociais, que dão direito a comer de graça. Então eu o fiz e, após explicar minha situação, o senhor Jerónimo, do setor de assistência social (SAS), me concedeu as senhas até o fim da estadia em Beja, apenas para o almoço. Ele me disse que os alunos do IPBeja que são atendidos, como alunos do Erasmus, podem receber direito a moradia estudantil, que custa cerca de 150 euros por mês. Este processo funciona muito pouco a distância, pois eu mesmo havia tentado este processo, porém, é altamente recomendável para quem for ao IPBeja realizar este processo presencialmente, pois o SAS te auxilia sempre que necessário.
Além disso, conheci uma ex-aluna do IFSC, que esteve em Beja também pelo Propicie, a Karina. Ela estudava no IFSC Câmpus Lages, e me contou que já estava há 5 anos no país, renovando o visto como estudante do IPBeja, e que estava terminando o mestrado e indo para o doutorado. Ela me auxiliou muito na reta final e viramos amigos por sermos de uma região muito próxima. Com ela, descobri muito da situação política em Beja. Ela e o professor João trabalham juntos, e ele me apresentou a ela. O professor João também me apresentou os doces conventuais de Portugal. Eles são doces feitos de ovos ou farinha, que não são tão doces comparados aos doces brasileiros, mas suaves e inesquecíveis. Planejo eventualmente voltar àquela cidade, com o objetivo de ficar.
Termino aqui este relato. Agradeço ao IFSC pela oportunidade, e espero que todo o relato tenha sido útil para a nossa instituição.