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Pesquisador defende valorização econômica da araucária em aula magna para Agronomia

EVENTOS Data de Publicação: 13 mar 2019 14:00 Data de Atualização: 13 mar 2019 08:23

Fazer o pinheiro valer muito mais em pé que deitado é uma das missões do professor titular sênior da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Flávio Zanette, reconhecido como um dos maiores pesquisadores de araucárias do país. A proposta foi defendida na primeira aula magna do curso de Agronomia do Câmpus Canoinhas, na tarde desta segunda-feira (11), intitulada “A nossa araucária e o nosso pinhão”.

É justamente no pinhão que professor Zanette aposta suas pesquisas. “A forma mais segura de garantir a preservação da nossa tão amada araucária é a exploração econômica de seus produtos não madeiráveis, dentre eles o pinhão”, explicou. Para o pesquisador, o atual marco legal da araucária é um verdadeiro crime ambiental. “A Araucaria angustifolianão é peça de museu”, enfatizou Zanette, explicando que a legislação impede o corte das espécies existentes, mas não incentiva o plantio e nem sua exploração.

Com 39 anos dedicados à pesquisa das araucárias, Zanette estuda o cultivo sustentável da planta para a produção de pinhão, para que dê lucro ao proprietário rural e preserve as condições ambientais. Pelo método natural, um pinheiro comum costuma começar sua produção em torno dos vinte anos e chega a ter cem pinhas contendo em média 150 sementes cada. O objetivo é ampliar esta produção e de forma precoce. Neste caso, as experiências com enxertia estão dando ótimos resultados.

As pesquisas com enxertos de mudas de araucárias começaram em 2007, depois de experiências com clonagem e o pinheiro de proveta, que, segundo Zanette, trouxeram-lhe muita fama e pouca satisfação. Em 2017, o Grupo de Estudos para Valorização da Araucária da Universidade Federal do Paraná (Geva), coordenado pelo pesquisador, começou a comercializar mudas enxertadas de araucária com a garantia de que serão produtoras de pinhão. E, atualmente, Zanette se orgulha de ter o primeiro pomar do mundo de araucária enxertada.

“A enxertia é feita com brotos de plantas selecionadas por sua grande produtividade”, contou Zanette, que citou o exemplo de uma araucária localizada no município de Caçador, que, em 2015, chegou a ter 674 pinhas. “Para os enxertos, trabalhamos com um processo de seleção de matrizes de araucárias que produzam mais de 100 pinhas todo o ano”, disse. A coleta adequada do material para enxerto também possibilita a produção precoce. Enquanto pinheiros comuns costumam produzir em torno dos vinte anos, uma muda enxertada pode começar a produzir entre oito e dez anos.

Paixão contagiante

“Professor Zanette é um apaixonado por araucárias e sua paixão é contagiante”, enalteceu a professora de Agronomia e do técnico em Agroecologia do Câmpus Canoinhas, Crizane Hackbarth, que sugeriu o nome do pesquisador para a aula magna. “O tema tem tudo a ver com o curso, primeiro porque estamos em uma região em que os recursos florestais são muito importantes. A araucária fez e faz parte da história de Canoinhas e de Três Barras”, enfatiza.

Outro ponto destacado pela professora Crizane está relacionado à importância da pesquisa, já que muita gente tem renda no pinhão extraído de remanescentes de araucárias e pode se beneficiar com o plantio de pinheiros enxertados. “Sem contar o casamento perfeito entre a araucária e a erva-mate”, defendeu Crizane. Ela foi orientanda do professor Zanette em seu doutorado na UFPR, onde defendeu a tese “Aspectos morfológicos e fisiológicos do polimorfismo do caule da Araucaria angustifolia”, no ano passado. “É impossível não se apaixonar também.”

A aula foi inspiradora para o estudante Diogo Simão Sudoski, de 36 anos, que viu no IFSC a esperança de realizar o sonho de cursar Agronomia. Morador do município de Major Vieira, onde é atualmente vereador, Diogo vem de uma família ligada à agricultura, na produção e comércio agrícola. Depois do ensino médio, ele chegou a ingressar no curso de Veterinária, mas, como não era o que queria, acabou desistindo.

Então casado, com três filhas e trabalhando como caminhoneiro, o sonho foi ficando para trás, até o dia que soube que o IFSC ofertaria Agronomia em Canoinhas. “Em 2017, estava no caminhão, quando ouvi, na rádio, uma entrevista da diretora [Maria Bertília Oss Giacomelli] contando sobre o curso. Memorizei que uma vaga seria minha. Fiz o Enem no ano passado e aqui estou”, contou Diogo, que ficou ainda mais animado depois da palestra. “É isso que espero do curso, que não seja algo ‘enlatado’, mas que seja dinâmico e abra a nossa mente, trazendo alternativas para a nossa realidade.”

Sonho antigo de toda região do Planalto Norte, o curso de Agronomia do Câmpus Canoinhas vem com o diferencial de preparar profissionais para atuarem em diversos segmentos do setor agropecuário, com conhecimento em sistemas de produção vegetal e animal e em preservação ambiental. Para isso, além do ensino de qualidade, os novos alunos também podem contar com bolsas de pesquisa, projetos de extensão, oportunidades de intercâmbio e programas de assistência estudantil.

“O IFSC é uma instituição que planeja. Estamos nos preparando para ofertar o curso desde que começamos a atuar em Canoinhas. Nestes oito anos, contratamos servidores, melhoramos a infraestrutura e equipamos os laboratórios para tornar tudo possível, porque sabemos da nossa responsabilidade enquanto única instituição pública da região a ter o curso de Agronomia”, destacou a diretora do Câmpus Canoinhas, Maria Bertília Oss Giacomelli, durante a abertura da aula magna.

Para o prefeito de Canoinhas, Gilberto dos Passos, o novo curso do IFSC é muito bem-vindo por vir ao encontro das necessidades do município. “O setor agropecuário tem grande potencialidade para a economia da região. Precisamos melhorar a qualidade dos produtos e potencializar o desenvolvimento de toda região”, enfatizou o prefeito, que reafirmou o compromisso do município de doar uma nova área para garantir a ampliação do IFSC.

Em sua fala, a reitora do IFSC, Maria Clara Kaschny Schneider, também enfatizou a importância da Agronomia para o desenvolvimento e transformação social do país. “Que Agronomia vocês querem? Reproduzir o grande capital ou uma Agronomia para todos? Se for só para reproduzir, não teremos transformação. Para pensar que uma outra agricultura é possível, nós precisamos que os pequenos agricultores tenham melhores condições, precisamos reduzir os agrotóxicos e investir em sustentabilidade e produção de alimentos”, enfatizou.

“O que nós queremos para o país não é só formar agrônomos, mas cidadãos. E somente a educação é capaz de mudar o contexto”, completou a reitora, que ganhou o apoio do professor Flávio Zanette. “Esqueçam o diploma. O grande trunfo é o conhecimento. Se quiserem ser grandes agrônomos, foquem em sonhar, adquirir conhecimento e fazer a diferença com o conhecimento”, aconselhou o professor convidado aos estudantes da turma pioneira de Agronomia no Câmpus Canoinhas.

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