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Comitê de Direitos Humanos do IFSC promove campanha contra o preconceito

ENSINO Data de Publicação: 17 mai 2021 14:32 Data de Atualização: 17 mai 2021 17:04

De 17 de maio a 28 de junho, o IFSC irá pautar, em seus canais de comunicação, questões que envolvem preconceito relacionado à orientação sexual, identidade ou expressão de gênero. A iniciativa é do Comitê de Direitos Humanos do IFSC e a proposta é ampliar o diálogo sobre o tema. A cada segunda-feira apresentaremos informações mostrando como a homofobia é crime no Brasil (o Supremo Tribunal Federal (STF) enquadra a homofobia e transfobia na tipificação da lei do racismo), traremos informações sobre a “Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil: as experiências de adolescentes e jovens lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais em nossos ambientes educacionais” (2015) e promoveremos uma série de lives em nossos canais de comunicação. A campanha começa no Dia de Combate à LGBTFobia, em 17 de maio, e termina no Dia do Orgulho LGBT, em 28 de junho.   

Falar sobre esses temas no ambiente escolar é falar de permanência e êxito dos estudantes. Isso porque, muitas vezes, a escola se torna um ambiente hostil para o estudante LGBTQI+ ( lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais). Dados da Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil mostram que 60% dos entrevistados se sentiam inseguros na escola no último ano por conta de sua orientação sexual, 68% foram agredidos verbalmente na escola por causa de sua identidade/expressão de gênero e 56% dos estudantes LGBTQI+ foram assediados sexualmente na escola. 

“É necessário estarmos conscientes que existem violências dentro da escola e quero destacar, neste momento, as direcionadas a marcadores sociais como gênero, raça e orientação sexual. Isso tem que ser tema de reuniões, conselhos de classe e de processos formativos de servidores e servidoras. Nós precisamos garantir que as relações no ambiente escolar sejam saudáveis para todes, precisamos ter sensibilidade para acolher, para gerenciar conflitos que vão aparecer em sala de aula e para que esses temas sejam debatidos e não silenciados”, afirma o presidente do Comitê de Direitos Humanos do IFSC, professor Felipe José Schmidt (câmpus São Carlos).

O professor chama atenção para a importância do respeito à pluralidade das identidades dos sujeitos que chegam à instituição. “A escola é um espaço de cuidado com a vida de forma plena, em diversas dimensões. Não se resume em transmitir conhecimento, mas também é laboratório do exercício de cidadania. Muitas vezes é o primeiro lugar seguro fora da família. Precisamos dar espaço para a criação de culturas específicas e lugares de refúgio para grupos plurais de modo que possam fortalecer identidades e perceber que não estão sozinhos em sua estética da existência e na luta por respeito e dignidade. Quando falamos da importância de se exercitar a vida democrática na escola e no respeito à diversidade, estamos pensando no amadurecimento da sociedade.”

Não acredite quando alguém diz que você é menos por não ser heterossexual

Em sua dissertação “Sexualidades, gênero e Educação Física escolar: do silenciamento ao lugar de fala em uma produção audiovisual”, a professora Paula Zuanazzi (câmpus Itajaí) realizou uma série de entrevistas com estudantes e egressos LGBTQI+ e observou que as dificuldades de permanência e êxito escolar são recorrentes. "A escola é um direito de todos e é fundamental garantir condições de permanência e êxito. Muitos estudantes LGBTQI+ têm dificuldades em permanecer na escola. Primeiramente por a escola representar, para muitos, um espaço hostil e de violência em função de sua sexualidade e/ou identidade de gênero. Também pelo preconceito enfrentado socialmente e muitas vezes dentro de casa. Muitos estudantes são expulsos de casa ou a convivência com a família se torna inviável. Em muitos casos precisam entrar no mercado de trabalho prematuramente para garantir o sustento e têm dificuldade de conciliar o trabalho com os estudos. Costuma ser um período emocionalmente traumático. Todos esses fatores contribuem para que o rendimento destes estudantes possa ser comprometido e torna a evasão recorrente. Como professora costumo acolhê-los no sentido de fazer com que eles não desistam. Eu costumo dizer para os estudantes que não acredite quando alguém diz que você é menos por não ser heterossexual. O estudo pode abrir portas. Infelizmente a LGBTfobia é institucionalizada e naturalizada em muitos espaços educacionais, precisamos quebrar o silenciamento e começar a conversar sobre isso."

A professora acompanhou de perto a história de um estudante que teve conflitos com a família em função de sua orientação sexual, saiu de casa e foi morar com a avó. Mudanças que fizeram com que o rendimento dele em sala de aula baixasse muito. “Ele era um estudante que estava envolvido com projetos de pesquisa, havia ajudado a estruturar o grêmio estudantil, representava os estudantes em um conselho de educação, e que quase desistiu dos estudos porque foi um período emocionalmente muito difícil. Passou a morar muito longe da escola e enfrentou violências quando se assumiu homossexual. Quando se perde esse apoio da família, é comum pensar para onde eu vou voltar se tudo der errado?”  

Eu já fui um estudante do IFSC que foi acolhido por servidores 

O agora assistente de alunos do Câmpus Floranópolis-continente Moisés Bernardino já foi estudante do IFSC. Ele fez o técnico integrado em Saneamento no câmpus Florianópolis. “Eu entendo a violência que o estudante sofre e enquanto servidor público eu trabalho para promover a inclusão. Eu sou um homem gay, negro e que veio de uma favela e que foi acolhido por servidores do câmpus Florianópolis na época em que era estudante, o que foi fundamental para a minha trajetória.”  

Moisés conta que na época em que era estudante, ele não se enxergava dentro do IFSC. “A questão da representatividade é muito importante porque cria referência. Precisamos falar mais sobre esses assuntos e fazer com que essas pessoas também ocupem os espaços decisórios da instituição. Precisamos pensar em cotas não só para negros, mas para LGBTQI+ e para pessoas com deficiência, por exemplo, no Conselho Superior do IFSC.”

O servidor também chama a atenção para o fato de que não há como falar sobre preconceito sem levar em consideração outros marcadores sociais como a questão da raça. “Eu sou gay, mas nem sempre as pessoas me identificam como tal. Agora eu não deixo de ser negro em nenhum dos espaços que eu ocupo. Nesse sentido, temos buscado nos fortalecer e criamos recentemente um coletivo de servidores negros do IFSC e organizamos o primeiro encontro de servidores negros dos institutos federais.”   

Você sabe o que é chegar nos lugares e não encontrar ninguém igual a você?

O professor Lino dos Santos (câmpus Jaraguá do Sul - Centro) lembra do acolhimento que recebeu de servidores do IFSC quando ingressou na instituição. “Eles me orientaram para que todos os meus direitos fossem respeitados. Mas precisamos fazer com que essas ações individuais dos servidores se transformem em políticas da instituição. Quando um estudante não consegue usar o banheiro porque tem medo e quando não tem o seu nome respeitado, ele está sendo expulso desse lugar.”

O professor Lino é o primeiro servidor transgênero a trabalhar na instituição. “Você sabe o que é chegar nos lugares e não encontrar ninguém igual a você? O IFSC é uma instituição pública gratuita e de muita qualidade e há uma obrigação legal de garantir a permanência e êxito dos estudantes. É nosso direito existir neste ambiente público. Precisamos pluralizar essas possibilidades de existência e ocupar esses espaços como todos ocupam." 

Lino ressalta a importância de se pensar nas questões de gênero de forma atrelada à raça e à etnia. “O movimento negro tem aberto muitas portas para que a população LGBTQI+ acesse a universidade. Eu acessei o IFSC, por exemplo, pelas cotas negros/pardos. Quando falamos do movimento LGBTQI+ estamos falando de uma série de sujeitos e quando olhamos por exemplo a forma como um gay branco é tratado é muito diferente da forma como uma travesti negra é. A travesti negra ofende.”

É preciso falar sobre

Quando os casos de homofobia chegam à sala de aula é preciso intervir, avalia a psicóloga do câmpus Araranguá Julyelle Conceição. Ela lembra de um caso em que um professor procurou a coordenadoria pedagógica por conta da fala homofóbica de um estudante. “Nós não podemos perder a oportunidade de intervir e de tentar desconstruir essas falas. Por conta dessa situação, realizamos uma live sobre o tema e foi a forma como encontramos para problematizar essa fala, precisamos ter esse espaço de debate. A  sexualidade constitui os indivíduos e num espaço onde você não pode ser você de forma integral em que você não pode expressar sua sexualidade, isso é muito ruim para a sua saúde física e psicológica.”

Ao falar sobre o tema, a psicóloga lembra ainda da importância do acolhimento e da escuta ativa dos estudantes. “Às vezes, as pessoas me perguntam o que é esse acolhimento e eu digo que muitas vezes não precisa falar nada, você precisa ouvir, dar um lencinho. Todos nós precisamos ter um mínimo de preparo para esse acolhimento porque o estudante irá falar com quem ele se sente mais à vontade na escola.”

Campanha promove live

Nesta terça-feira (18), às 19h, será promovida a live “O amor vive em todas as cores”, em referência ao Dia Internacional de luta contra a LGBTfobia. A atividade será transmitida pelo canal do câmpus Garopaba no Youtube. Para falar sobre o tema, foi convidado o presidente do Comitê de Direitos Humanos do IFSC, professor Felipe José Schmidt (Câmpus São Carlos) e o assistente de alunos do câmpus Gaspar Marlon de Amorim. A atividade está sendo promovida pelo grupo de pesquisa “Juventude e Educação Contemporânea” do IFSC e pelo Comitê de Direitos Humanos.

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