Experiências na Universidade de Deusto

BLOG DOS INTERCAMBISTAS Data de Publicação: 26 out 2023 10:00 Data de Atualização: 26 out 2023 10:07

Nossa estudante Flávia Bueno Baraldi, da décima fase de Engenharia Elétrica, é mais uma participante do programa de intercâmbio do IFSC, o Propicie 20. Do Câmpus Joinville para o Mundo, a Flávia nos enviou um relato repleto de dicas sobre como é a vida de uma estudante Brasileira em Bilbao, na Espanha.

Confira a seguir as experiências e desafios da Flávia na Universidade de Deusto, onde ela realiza sua pesquisa no projeto Integration of a novel hardware control architecture in a real-time hardware-in-the-loop platform for control experiments.

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Um dos meus maiores medos antes de chegar aqui na Espanha era a comunicação. Pelo fato de a cidade de Bilbao ser muito antiga e ser a capital do País Basco, muito se ouvia falar que os moradores tinham certa resistência em conversar em inglês e que a maioria falava basco ou espanhol. Apesar de saber o básico de espanhol, aquele medo e frio na barriga sempre existiu, pois eu me garantia de fato no inglês. Entretanto, esse medo foi quebrado, pois a comunicação foi muito mais simples do que eu imaginava. Posso dizer que meu nível de compreensão em espanhol aumentou muito e até já arrisco ter alguns diálogos na língua. Na universidade, apesar de quase 100% das minhas interações serem em inglês, os professores forçam a conversação comigo em espanhol para que eu possa praticar também. Confesso que é um pouco difícil de entender o inglês dos jovens nativos aqui da Espanha, eles não fazem muita questão de caprichar na fala e acabam pronunciando muito rápido e com o sotaque bastante carregado, dificultando a compreensão de algumas palavras, mas faz parte, acredito que para eles também deve existir algum grau de dificuldade para nos entender.

Quando descobri que viria para cá, comecei a procurar um lugar para ficar. Porém aqui na cidade o programa Erasmus é muito forte, existem centenas de estudantes de outros países na universidade, o que acaba sobrecarregando os alojamentos para estudantes. O escritório de relações internacionais aqui da Universidade me ajudou a dar início às buscas, me enviando sites de residências para estudantes e o link de uma plataforma da universidade, na qual moradores locais se cadastram oferecendo quartos ou apartamentos inteiros para locação. A Universidade possui um alojamento chamado Colégio Major, entretanto, no primeiro contato já fui informada de que não havia mais vagas. Tentei contato com os moradores locais através da plataforma, visto que era uma opção mais barata, porém daqueles que me responderam os quartos já não estavam mais disponíveis. O que me restou foi a última opção, infelizmente a mais cara de todas, que é uma das residências para estudantes, onde são ofertados quartos do tipo studio individuais, com cozinha, ambiente de estudo e cama integrada. Além do quarto, o campus conta com uma infraestrutura de academia, lavanderia compartilhada, sala de tv, sala de jogos e sala de estudos. O nome do local se chama Residencial Mi Campus San Mamés, localizado na rua do estádio San Mamés, e a poucos quilômetros da faculdade.

Os costumes do povo daqui são bem diferentes do Brasil. A minha maior dificuldade nesse sentido foi a alimentação. Os horários e os tipos de alimentos são bem diferentes dos nossos. Por exemplo, eles não têm costume de almoçar arroz, feijão, carne e salada como nós. Logo nos primeiros dias sofri bastante com isso, pois estava me habituando com a cidade, então ainda não estava por dentro desses detalhes. A primeira surpresa foi que a maioria dos restaurantes abrem após às 13h, e nos shoppings normalmente as praças de alimentação abrem somente às 12h30. É muito difícil ver algum lugar que acompanha arroz e feijão nos pratos, para ser bem sincera, feijão ainda não encontrei, e arroz das duas vezes que comi fora de casa não estava muito bom. Aqui o almoço deles quase que 100% das vezes é batata frita acompanhada de alguma carne e pão, e o preço é bem elevado: nos restaurantes é difícil comer por menos de 12 euros. Nos mercados também não são todos os produtos que são encontrados aqui, tem feijão enlatado e feijão em grãos, que é bem caro. Para eles, o limão é o siciliano, até se encontra o Tahiti, porém custa mais de 5 euros o quilo. Frutas e verduras em geral achei o preço bem caro, já vi abacaxi por 7 euros o quilo. Mas, apesar de todas essas diferenças, comprar os ingredientes no mercado e fazer em casa ainda sim é a opção mais barata e mais saudável.

Uma dica para os futuros intercambistas, não somente para a Espanha, mas sim para a Europa toda, é baixar um aplicativo chamado To Good To Go. A Europa tem um programa de combate ao desperdício alimentar muito forte, sendo assim, nesse aplicativo existem alguns estabelecimentos comerciais cadastrados que publicam as chamadas “surprise bags”. As surprise bags, como o próprio nome diz, são sacolas surpresas recheadas de itens que não foram vendidos ao final do dia ou que estão próximos de vencer. Você pode escolher de onde quer comprar a sua sacola e assim consegue deduzir mais ou menos o que virá dentro dela. Existem mercados, panificadoras, frutarias, mercearias, bares e restaurantes cadastrados. Eu estou economizando muito com esse aplicativo aqui.

O transporte público é muito desenvolvido, sendo possível utilizar de diferentes meios para se deslocar dentro e fora da cidade. A linha de metrô cruza a cidade e leva até cidades metropolitanas, sendo a maioria delas lindas praias. Além do metrô, também tem um meio de transporte que se chama tranbia, que é parecido com os VLTs, a passagem custa menos de 1 euro. O transporte público é integrado, sendo assim, para usar esse e os demais meios, é necessário fazer a “tarjeta Barik”, tem um custo de 3 euros e você recarrega conforme for usando. Uma curiosidade é que não existem cobradores, o pagamento é feito em todos os pontos de parada, onde têm um pedestal com um sistema de aproximação de cartão, no qual cada cidadão deve aproximar o seu cartão antes de embarcar. Não é sempre que existe uma fiscalização, mas se houver e você for pego sem ter passado o seu cartão, é gerada uma multa de 50 euros.

Não consegui fazer muitas amizades por aqui, as pessoas são bem reservadas e não se misturam. A faculdade tem um programa de buddy, no qual alunos se candidatam para serem “guias” dos alunos de fora. Conheci três meninas, porém conversei com elas poucas vezes. Conheci também o Eduardo, que é aluno do curso técnico do campus de São Miguel do Oeste, que está aqui na Espanha. Confesso que sinto falta de interagir com as pessoas fora da universidade, a maior parte do tempo estou sozinha.

O projeto na universidade tem sido bem legal, já estamos na fase de testes de alguns métodos e muito em breve finalizaremos o primeiro artigo. Nesse projeto só participam eu e mais dois professores, que foram muito receptivos e solícitos comigo, me dando dicas e me ajudando no que fosse preciso. Eu tive o primeiro contato com a parte mais técnica do assunto do projeto no semestre passado, na disciplina de Sistemas de Controle, agora estou podendo aplicar os métodos de análise em processos reais. Existem poucos artigos publicados sobre o tema, então está sendo uma experiência bem proveitosa só pelo fato de poder descobrir coisas novas sobre o assunto, acredito que será de grande valia para o meu currículo. Além do desenvolvimento do projeto, também estou participando de uma disciplina optativa, na qual é abordado o software LabView. Nessa classe têm alunos de diferentes partes da Europa, então a interação na sala de aula tem sido bem bacana.

A cada dia que passa, a saudade dos que ficaram só aumenta. Existem dias difíceis que parecem durar uma eternidade para passar. Estar longe de tudo, num lugar diferente, com pessoas diferentes, cultura diferente é algo que vai muito além de só arrumar as malas e ir, mas, a partir do momento que você encara o desafio, tem que estar ciente que dias difíceis virão, e que eles vão passar. Semana que vem é meu aniversário e estou me preparando para passar, pela primeira vez, essa data longe da minha família e amigos. Sinto que mesmo de longe, eles estão todos os dias me mandando energias positivas e torcendo por mim.

Para os que estão pretendendo fazer um intercâmbio, minha dica é: vai. Sabe aquela frase “Ninguém volta igual de uma viagem ou de um livro”? Ela é real! Em um mês aqui sinto que muitas coisas já não são as mesmas, e que muitas delas mudaram para melhor. Aproveite esse tempo que você terá para se reconectar consigo mesmo, de ter a oportunidade de enxergar as coisas com outros olhos, de sair de sua zona de conforto. Além do crescimento profissional, pois uma experiência internacional conta muito no currículo, também existe um crescimento pessoal. Apesar de todas as dificuldades, no fundo valerá a pena todo o esforço e tempo desprendido.

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