Qual a importância da dose de reforço da vacina?

IFSC VERIFICA Data de Publicação: 26 out 2021 14:41 Data de Atualização: 25 nov 2021 15:08

O Ministério da Saúde anunciou em meados de agosto uma mudança no plano de imunização contra a Covid-19, com a aplicação de doses de reforço para pessoas idosas (com mais de 70 anos) e pessoas com alto grau de imunossupressão. Posteriormente, o público prioritário para esse reforço foi ampliado para aqueles com mais de 60 anos, além dos profissionais da área da saúde.

Os serviços locais de imunização contra a Covid-19 tiveram então que incluir, nos seus cronogramas, também esses públicos que devem receber a dose de reforço. Mantendo a rotina de vacinação dos grupos anteriores, organizados por idade, que na maior parte do país já atingiu o público adolescente.

Em 16 de novembro, o Ministério da Saúde anunciou a decisão de aplicar a dose de reforço para todas as pessoas com mais de 18 anos, independentemente de fator de risco. Em Santa Catarina, a dose passou a ser ofertada em 20 de novembro para a população maior de 18 anos com esquema vacinal completo. (Texto atualizado em 25/11/2021)

Neste post, explicamos o que é a dose de reforço e os motivos pelos quais ela não deve ser compreendida como uma “terceira dose” da vacina contra a Covid-19. Buscamos entender também quais são as especificidades que justificam a necessidade dessa dose extra, em especial nos grupos de idosos, imunossuprimidos e profissionais de saúde.

Prossiga com a leitura para entender:

- Por que o Ministério da Saúde resolveu recomendar a dose de reforço;
- Quais são os grupos prioritários para receber essa dose;
- Qual a diferença entre dose de reforço e terceira dose;
- Como a adesão dos públicos prioritários à dose de reforço pode contribuir para o controle da pandemia;
- Se há necessidade de cuidados especiais em relação à dose de reforço, ou ocorrência de reações adversas;
- As ponderações da Organização Mundial da Saúde (OMS) em relação à aplicação da dose de reforço neste momento da pandemia;
- A necessidade da manutenção das medidas de prevenção (máscaras, higiene das mãos, distanciamento físico) mesmo com o avanço da vacinação.

Por que a dose de reforço foi recomendada pelo Ministério da Saúde?

A decisão de recomendar a dose de reforço para pessoas idosas e imunossuprimidas foi anunciada pelas autoridades de saúde em meados de agosto. Na prática, isso significou uma nova etapa na campanha nacional de imunização contra a Covid-19, que teve início em janeiro deste ano. O aparecimento de variantes do vírus Sars-Cov-2 e o maior risco de contágio por pessoas dos grupos definidos como prioritários foram os motivos que levaram o Brasil a aderir à estratégia. Outros países também vêm aplicando doses de reforço para grupos específicos nos últimos meses.

Quais são os grupos que devem receber a dose de reforço? E por que motivos?

Idosos com mais de 60 anos, pessoas imunossuprimidas e profissionais da área da saúde são os três grupos que devem procurar os locais de vacinação para receber a dose de reforço. No caso dos idosos e dos profissionais da saúde, eles devem ter recebido a segunda dose da vacina há pelo menos 6 meses. Já os imunossuprimidos devem dar intervalo de 28 dias entre a segunda dose e a dose de reforço.

De acordo com a enfermeira Sandra Regina da Costa, que coordena o programa de vacinação contra a Covid-19 da Prefeitura de Florianópolis, o objetivo da dose de reforço é dar um novo estímulo para a formação de anticorpos em organismos que já passaram por esse processo com a aplicação das duas doses (ou, no caso da vacina da Janssen, da dose única), mas que, com o tempo, têm essa imunidade em queda. No caso dos idosos, observou-se uma diminuição no nível de anticorpos alguns meses após a imunização, o que deixou as pessoas mais suscetíveis a contrair a doença – inclusive com casos agudos que demandavam internação ou, até mesmo, levavam a óbito. Ela menciona que foram registrados surtos de Covid-19 em instituições de longa permanência, o que acendeu o alerta entre as autoridades municipais da saúde.

O sistema imunológico dos imunossuprimidos, por sua vez, se comporta de forma diferente quando recebe vacinas, na comparação com pessoas não imunossuprimidas. Para entender melhor a importância da dose de reforço nesse grupo, é preciso compreender também o que provoca a condição de imunossupressão. Como explica o médico reumatologista Diego Vinícius de Magalhães, a imunossupressão pode se dar em função do uso de medicamentos para tratar doenças autoimunes ou neoplasias. No caso das doenças autoimunes, os anticorpos formados pelo organismo atuam contra estruturas do próprio corpo, não reconhecendo o que é benigno, e isso desencadeia uma cascata de reações inflamatórias. O tratamento dessas doenças é feito com medicamentos imunossupressores, que controlam a resposta “equivocada” dos anticorpos e, em decorrência, a inflamação sistêmica. 

“Quando a gente faz esses medicamentos, eles atuam de várias formas, diminuindo a ação do sistema imunológico e afetando também a resposta desse sistema imunológico a uma vacina que é administrada”, explica Diego. Nos organismos em imunossupressão, a resposta à vacina pode equivaler à metade da resposta observada em pessoas que não têm essa condição. “Em vez de produzir 20x de resposta à vacina, esse paciente produz 10x. Então eles precisam de uma dose de reforço para fazer com que sua resposta vacinal, a sua produção de anticorpos após a administração da vacina, seja efetiva”, acrescenta.

A dose de reforço para os profissionais da saúde se justifica em função da contínua exposição dessas pessoas à Covid-19 em suas atividades de rotina. “O profissional de saúde acaba tendo contato com muitas pessoas, e até mesmo pessoas que às vezes nem sabem que estão com Covid, que são os assintomáticos. E também pelos procedimentos que faz no atendimento, como procedimentos invasivos, intubação, atendimento odontológico”, observa a enfermeira Sandra. 

É dose de reforço ou terceira dose? Tecnicamente, qual a diferença?

Claro que, na prática, alguém que tenha tomado duas doses de vacina e receba uma dose de reforço pode dizer que tomou uma “terceira dose”. Porém, na área da saúde há diferença, e não se trata apenas de enumerar as aplicações. De acordo com a enfermeira Sandra Regina da Costa, que atua na Prefeitura de Florianópolis desde 1992 e tem larga experiência com imunização, a dose de reforço é um “booster”, um impulsionador da imunidade aplicado em quem já completou o ciclo vacinal.

O ciclo vacinal da maior parte das vacinas contra a Covid-19 utilizadas no Brasil compreende duas doses – caso dos imunizantes da Coronavac, Astrazeneca e Pfizer. Já o ciclo vacinal do imunizante da Janssen é considerado completo com apenas uma aplicação. Mesmo assim, quem tomou vacina da Janssen e está nos grupos prioritários deve fazer a dose de reforço. “A dose de reforço é exatamente isso, ela funciona com um efeito booster, para tentar uma elevação de anticorpos nesse público”, ressalta Sandra.

Para incrementar a imunização nesses públicos, a dose de reforço, por regra, é feita com o imunizante da Pfizer, mesmo que o ciclo inicial tenha sido feito com vacinas Coronavac, Astrazeneca ou Janssen. Quem fez o ciclo inicial com duas doses da Pfizer pode receber a dose de reforço da mesma vacina ou de outro fabricante. De a acordo com a coordenadora do programa de vacinação em Florianópolis, a alternância é uma tentativa de provocar uma alta formação de anticorpos em quem recebe a dose de reforço. 

A vacinação dos grupos prioritários com a dose de reforço pode contribuir para o controle da pandemia de Covid-19?

O objetivo primário da vacinação é evitar que as pessoas tenham formas graves da doença, o que geralmente pode levar à hospitalização e, muitas vezes, à morte. Porém, como explica o médico reumatologista Diego Vinícius de Magalhães, a vacinação também tem o objetivo de diminuir a circulação do vírus Sars-Cov-2 e controlar a pandemia. Como foi observada uma tendência no aumento de casos de Covid-19 entre pessoas idosas e imunossuprimidas, a estratégia de administrar uma dose de reforço visa deixar esses grupos menos suscetíveis à doença, ao atingirem uma resposta imunológica adequada à vacinação. E isso, somado às demais estratégias, poderá contribuir para controlar a pandemia.

Porém, além da adesão dos grupos prioritários à dose de reforço, é essencial que a população complete seu esquema vacinal, aplicando as duas doses da vacina – quando o imunizante disponível é Coronavac, Astrazeneca ou Pfizer. “Para ter uma situação epidemiológica satisfatória, é preciso ter uma cobertura vacinal alta e homogênea. Não se pode perder o foco na segunda dose”, afirma a enfermeira Sandra. A vacina da Janssen é de dose única e tem sido recebida em menor quantidade pelos municípios, explica. Por isso, as doses desse fabricante são reservadas para situações específicas, como pessoas em situação de rua ou moradores de locais extremamente isolados. Para a maior parte da população, portanto, o ciclo vacinal só fica completo com a aplicação de duas doses.

-> Saiba mais sobre as vacinas utilizadas no Brasil

A estimativa é que uma população com 75% das pessoas imunizadas seja o quadro favorável para controlar a pandemia. No Brasil, atingiu-se 50% da população com o ciclo vacinal completo (duas doses das fabricantes Coronavac, Astrazeneca e Pfizer ou dose única da Janssen) em 20 de outubro. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, na data de publicação deste post (26 de outubro), 115 milhões de pessoas (54% da população) haviam recebido o ciclo vacinal completo no Brasil. “É importante que tenha a dose de reforço, mas é preciso entender que as pessoas precisam tomar a segunda dose”, salienta Sandra.

Estou no grupo prioritário para tomar a dose de reforço. Preciso tomar algum cuidado? Posso ter reações adversas?

Não é incomum que as pessoas tenham medo de injeções e também sintam receio de possíveis reações adversas provocadas pelas vacinas. A imunização em duas doses com as vacinas mais comuns no Brasil provocou poucos efeitos adversos, como relata a enfermeira Sandra Regina da Costa, com raros casos de maior gravidade. Os relatos dão conta de efeitos mais perceptíveis entre as pessoas que tomaram as doses da Astrazeneca, de acordo com ela. Uma leve dor no local de aplicação, principalmente quando a injeção é feita no braço, é queixa recorrente da maior parte dos vacinados, tanto na primeira quanto na segunda dose.

Ao longo do primeiro mês de aplicação da dose de reforço em Florianópolis, segundo Sandra, os relatos de reações ou sintomas foram bastante raros e equivalentes ao ocorrido com quem tomou as duas doses. “Observamos muito pouco, às vezes relatos de dor de cabeça leve, um pouco de fadiga, cansaço, sintomas que chegam a durar duas ou três horas apenas”, diz a enfermeira. Nos raros casos em que a vacina provoca sintomas que, mesmo leves, dificultam as atividades do dia a dia, a recomendação de Sandra é que se faça repouso.

Uma alternativa para quem tem receio da dor no braço que pode ocorrer após a vacinação é que a aplicação da dose seja feita na região ventroglútea, recomenda Sandra. Nessa região o músculo é maior, e isso facilita a absorção das substâncias injetadas, o que tende a provocar menos dor. “No sistema drive thru é mais prático aplicar no braço, e muitas vezes as pessoas não gostam da aplicação na nádega porque é preciso abaixar um pouco a calça, mas o primeiro local de escolha para qualquer injeção intramuscular deve sempre ser a região ventroglútea, onde a absorção é melhor e provoca menos dor”, ressalta a enfermeira.

Os imunossuprimidos que estão nessa condição por conta da utilização de medicamentos imunossupressores também devem ficar atentos ao tempo de intervalo recomendado entre o uso da medicação (que, no caso dos imunobiológicos, geralmente é via intravenosa) e a aplicação da vacina. Isso porque, como explica o reumatologista Diego Vinícius de Magalhães, o medicamento pode interferir na produção de anticorpos esperada com a aplicação da vacina. “Mas isso depende do medicamento que o paciente está utilizando e do grau de imunossupressão”, observa, acrescentando que as pessoas desse grupo devem sempre buscar orientação de seu médico antes de fazer qualquer tipo de vacina. “Pode haver casos em que é possível suspender por algum tempo o medicamento para que a resposta da vacina seja adequada, mas muitas vezes a situação do paciente é tão grave que ficar sem medicação pode representar risco de morte. Então essa é uma decisão compartilhada entre médico e paciente”, explica Diego.

O reumatologista ressalta também que, embora precise haver esse cuidado, a vacina contra a Covid-19 pode ser administrada com segurança em pessoas imunossuprimidas. Isso porque ela é feita com vírus inativado, ou seja, os “pedacinhos” de vírus usados na composição estão mortos, o que não representa risco. Já as vacinas com vírus atenuado, como é o caso do imunizante contra a febre amarela, não devem ser aplicadas em organismos em imunossupressão. “Se administrada num paciente imunossuprimido, a vacina com vírus vivo atenuado pode representar risco de que a pessoa desenvolva a doença ou tenha uma resposta vacinal grave”, detalha o médico.

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Qual a posição da OMS em relação à dose de reforço?

Perante uma série de países que passaram a administrar a dose de reforço da vacina contra a Covid-19 em grupos específicos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um pronunciamento no dia 10 de agosto, no qual faz várias ponderações em relação a essa estratégia. O órgão das Nações Unidas não faz objeções à iniciativa, desde que haja evidências científicas da necessidade desse reforço nos grupos prioritários. Porém, observa que a medida pode não ser pertinente levando-se em conta que, em muitos países, a vacinação com doses 1 e 2 anda a passos lentos.

“Oferecer doses de reforço para um grande número de pessoas, quando muitos ainda não receberam nem mesmo uma primeira dose, enfraquece o princípio de equidade nacional e global. Priorizar doses de reforço em relação à velocidade e amplitude da cobertura com dose inicial também pode prejudicar as perspectivas de mitigação global da pandemia, com implicações severas para a saúde e o bem-estar social e econômico das pessoas em nível global”, diz o documento da OMS, que pode ser lido na íntegra, em inglês, aqui.

“Essa consideração da OMS é muito importante, porque de fato temos países em que ainda não foi aplicada a primeira dose da vacina, inclusive na América Latina”, observa a enfermeira Sandra, coordenadora do plano de imunização de Florianópolis. “Nós sabemos que a dose de reforço tem justificativa científica, a estratégia foi adotada aqui, mas sempre é bom ter em mente que a vacina deve ser um patrimônio, que deve haver equidade. Enquanto a população mundial não tiver acesso, isso também é um problema nosso”, considera Sandra.

Estou vacinado, sou do grupo prioritário e já fiz a minha dose de reforço. Posso aposentar as máscaras?

Vamos com calma! O consenso entre as autoridades e profissionais da saúde é que, mesmo com a vacinação avançando, ainda não é possível deixar de lado os cuidados preventivos básicos. “Eu acho bastante importante sempre lembrar da importância do uso da máscara, da lavagem das mãos, do uso do álcool em gel, do distanciamento social. Receber a dose de reforço não significa que as medidas de proteção não precisam mais ser observadas”, alerta a enfermeira Sandra Regina da Costa, da Prefeitura de Florianópolis.

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