Racismo e sala de aula: jornalista e influencer constata que maioria de relatos de racismo diz respeito ao ambiente escolar

EVENTOS Data de Publicação: 08 mar 2024 15:56 Data de Atualização: 08 mar 2024 16:05

Quando começou a escrever sobre questões raciais para o Facebook, o jornalista, ator, escritor e influencer Ernesto Xavier não imaginava a repercussão que suas postagens teriam: livro publicado, dissertação de mestrado e convites para palestras em todo o Brasil, como o Câmpus Gaspar, onde ele esteve durante a semana, a convite do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do câmpus.

Além de encontros presenciais com a comunidade interna e externa, na terça-feira (5), participou de uma live no canal do IFSC no Youtube, debatendo o tema “Discursos racistas e antirracistas presentes nas mídias sociais” com o professor e coordenador do Neabi do Câmpus Gaspar Luiz Herculano de Sousa Guilherme. 

Ernesto contou um pouco da sua história com as mídias sociais: ele começou a publicar conteúdos sobre questões raciais no Facebook quando, em 2015, fez uma postagem que alcançou mais de um milhão de visualizações, a mais vista naquela semana de setembro. A partir dessa repercussão, ele começou a receber muitos relatos de casos de racismo e, pouco tempo depois, criou a página #eusentinapele. A partir da página, em 2017 ele lançou seu primeiro livro, “Relatos sobre o racismo no Brasil, Senti na Pele”. Foi a partir da publicação que surgiu o tema da sua dissertação de mestrado em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), sobre relatos nas mídias sociais e na mídia tradicional.

Ernesto começou a perceber que as pessoas tinham a necessidade de compartilhar suas histórias, mostrar os seus rostos e se identificar com os relatos. Também constatou que cerca de 60% de relatos de casos de racismo a que teve acesso, seja nas mídias sociais ou na pesquisa para a dissertação, aconteciam no ambiente escolar. “São histórias muito tristes. Neste momento de formação do ser humano, essas histórias ficam marcadas mais profundamente”, avalia. 

Nesse sentido, ele acredita que as escolas, como o IFSC, têm papel importante no combate ao racismo, principalmente ajudando as pessoas a identificarem o que é o racismo e promovendo pautas positivas, como ensinar sobre as personalidades negras de destaque na história. “As pessoas precisam entender que esse país também foi criado por pessoas pretas”, afirma. O professor Luiz Herculano completa, afirmando que o tema do combate ao racismo e a história das pessoas negras no Brasil deve ser transversal às demais unidades curriculares.

Para que a conscientização aconteça, segundo Ernesto Xavier, é preciso que as pessoas se tornem antirracistas, não somente os negros, mas todas as pessoas: brancos, negros, acadêmicos e políticos se unam por esta causa. Além disso, é preciso combater o racismo institucionalizado, que faz com que pessoas negras sejam consideradas “a cor padrão para revista de policiais, mesmo de policiais negros”, e que sejam maioria entre a população carcerária, vítimas de balas perdidas e mortes violentas no Brasil.

Racismo e discurso de ódio nas mídias sociais

Desde que começou a atuar com mídias sociais, Ernesto convive diariamente com o discurso de ódio, os famosos haters da internet. Segundo ele, a maioria trata o tema como “mimimi” e que não existe divisão entre brancos e negros no Brasil. Também há ofensas mais sérias e até montagens com fotos suas, uma realidade que vários criadores de conteúdo sobre questões raciais enfrentam.

Nesse sentido, ele acredita que deve haver uma regulamentação das mídias sociais para prevenção do discurso de ódio e também punição aos haters. “O discurso de ódio viraliza seis vezes mais rápido que outras publicações. Precisamos de medidas que acabem com isso”, afirma.

Além disso, segundo o influencer, as mídias sociais são apenas “uma extensão da nossa vida real”, por isso a conscientização deve acontecer em todos os lugares. “O Brasil é um país racista que não se considera racista, é um país racista sem racistas”, afirma. Isso significa que é preciso, em primeiro lugar, ajudar as pessoas a identificar o racismo e combatê-lo de todas as formas, seja pela regulamentação das mídias, seja pela conscientização e divulgação do conhecimento sobre a cultura negra, sua história e relações étnico-raciais. 

Acompanhe o conteúdo do influencer Ernesto Xavier no Instagram.

Saiba mais

Ernesto Xavier já atuou como repórter e apresentador da Rede Globo nos programas “Encontro”, “É De Casa” e “Mais Você”. Foi editor de saúde, bem-estar, esportes e motor da revista GQ Brasil entre 2020 e 2022, apresentador dos programas “Rede Escola” e “Hora do Enem” da TV Escola. É formado em Jornalismo com mestrado em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), onde estudou os depoimentos de racismo nas mídias sociais. É autor de vários livros, entre eles “Relatos sobre o racismo no Brasil, Senti na Pele”, de 2017.

Assista à gravação da live na íntegra: 

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