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Estudando e pesquisando no Canadá

BLOG DOS INTERCAMBISTAS Data de Publicação: 17 out 2024 10:30 Data de Atualização: 17 out 2024 10:30

Hoje o nosso relato de intercâmbio é da Sofia Lopes Ribeiro, estudante da 3ª fase do curso superior em Design de Moda, do Câmpus Gaspar. Até dezembro Sofia estará na Universidade de Quebec em Trois-Rivières (UQTR), no Canadá, participando do programa de intercêmbio do IFSC, o Propicie. Em seu relato, ela nos contou sobre como está sendo o desenvolvimento do projeto na universidade estrangeira, quais suas maiores dificuldades por lá e as amizades que tem feito.

Além desse relato aqui, ela também postou sobre o intercâmbio em seu perfil do Linkedin.

Para saber mais sobre o projeto e das experiências da Sofia, leia o relato completo:

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Durante o mês de setembro pude ter vários novos aprendizados, inicialmente tivemos muitas leituras para que pudéssemos nos inteirar do assunto e do tema que seria pesquisado. O professor supervisor, Mathieu Piché, me passou alguns artigos escritos por ele mesmo para que eu entendesse melhor o assunto, já que era um tanto fora da minha área. No começo nada fazia sentido, mas logo fui entendendo do que se tratava e percebi que já conhecia alguns dos termos e conceitos presentes nas pesquisas científicas que eu estava lendo, todas envolviam assuntos como psicologia, dor e envelhecimento. O primeiro artigo, cujo título era “Cerebral and Cerebrospinal Processes Underlying Counterirritation Analgesia” fazia alusão a uma pesquisa experimental na qual doze voluntários (10 mulheres e 2 homens sendo 10 deles destros e 2 canhotos) na mesma faixa etária de 24 - 27 anos foram ligados a uma máquina de EEG (Eletroencefalograma) e suas reações à dor foram registradas (vale ressaltar que todos os participantes estavam cientes de como o experimento aconteceria e estavam familiarizados com os estímulos à dor).

A hipótese a ser comprovada nesse experimento é que o nível de dor que o ser humano sente é baseado não só em seu gênero, mas em sua sexualidade e a forma que o indivíduo se identifica na sociedade, ou seja, a partir do nível de masculinidade presente em cada um de nós. Durante o processo experimental foi percebido que quanto maior a masculinidade dos participantes, menos sensibilidade à dor ele teria, a partir disso a teoria da Analgesia foi testada. Analgesia, nada mais é do que a reação do nosso corpo ao surgimento de uma segunda dor em relação à primeira. Quando nos machucamos e logo em seguida outro estímulo de dor nos ocorre, uma dor diminui a outra, faz com que sintamos apenas uma delas com maior intensidade. Assim, o objetivo do estudo era exatamente explicar essa reação causada pela ligação cerebrospinal em relação aos mecanismos de dor por meio da contra irritação combinada com resultados de Ressonância Magnética Funcional e métodos Eletrofisiológicos. Como resultado foi comprovado que a sustentação do estímulo de contra irritação produziu dor e, ao mesmo tempo, uma forte analgesia na dor anterior.

No momento estou iniciando o segundo artigo, intitulado de “Reduced Pain Inhibition is Associated with Reduced Cognitive Inhibition in Healthy Aging”, e basicamente fala sobre a inibição de dor que aos poucos para de acontecer naturalmente durante o envelhecimento saudável. Quando começamos a envelhecer é comum que nossa memória não funcione da mesma forma que antes, é o que chamamos de declínio cognitivo, que afeta não somente as memórias, mas todos nossos sentidos. Inclusive, dentre as funções afetadas, uma delas é o processo de inibição a dores endógenas, o que pode contribuir em quão frequentes as dores crônicas são em pessoas da terceira idade.

Durante esse primeiro mês, também aprendi como manusear o material utilizado para a retirada dos EEGs, são eletrodos bastante delicados e sua bateria não pode ter contato nenhum com o gel que utilizamos para fazer a ligação do couro cabeludo com a máquina e muito menos com a água usada para a limpeza dos eletrodos. Pude participar ativamente no processo de preparação dos eletrodos em duas ocasiões até agora e foi uma experiência incrível e única, a cada vez que um eletrodo ficava verde era uma micro vitória para mim. Também tive a oportunidade de assistir um tratamento de Quiropraxia e foi uma experiência enriquecedora, já que aqui a profissão exige uma formação em bacharel que dura cinco anos.

No momento estou com os papéis com as informações da pesquisa experimental em mãos, estamos apenas aguardando o aceite do comitê de ética da faculdade para que possamos iniciar a busca por voluntários, o que deve acontecer agora em outubro. Além de ter todos os termos, também tenho em mãos os testes que serão respondidos pelos participantes durante o estudo, são questionários bem simples e que giram em torno da parte psicológica da coisa. Os questionários já são bastante conhecidos e utilizados para diagnósticos psicológicos e de dores crônicas, eles sendo: Pain Catastrophizing Scale (PCS), Pain Awareness and Vigilance Questionnaire (PAVQ) Fear of Pain Questionnaire, Self Evaluation Questionnaire STAI Form Y-2 e o Personal Attributes Questionaire (Spence, Helmreich & Stapp, 1973).

Meu supervisor também me convidou para assistir uma das aulas dele, uma aula de Análise de Dados Estatísticos em Ciências Biomédicas, é uma aula bastante complexa ainda mais por ser em francês, mas me esforçando um pouco para conseguir entender o que está sendo dito. Nela aprendemos a usar um software de análise de dados e nele aprendemos como comparar e contrastar as informações que obtemos em pesquisas experimentais.

No resto, a cidade é linda e as pessoas são acolhedoras, a equipe que trabalha comigo no laboratório também é maravilhosa e não tenho palavras para descrever o quanto o Mathieu me ajudou no meu processo de adaptação, ele sempre faz questão de perguntar como estão as coisas e não só no âmbito acadêmico, ele aparenta genuinamente se importar comigo e com a minha segurança aqui. Estou morando com uma moça chamada Noémie, ela se formou recentemente na UQTR. Por anúncios pelo Facebook eu pude alugar um quarto na casa dela. Ela foi super receptiva, tenta me ajudar com o francês e sempre que pode se põe a disposição para me ajudar, caso eu precise.

A única questão que tive foi a comunicação com pessoas fora do laboratório e fora da faculdade como um todo. Aqui dentro ainda encontro algumas pessoas que falam a língua inglesa, mas lá fora a comunicação se torna extremamente difícil, já que a primeira língua deles aqui é o francês, então coisas do dia a dia como pedir um café ou ir ao mercado se tornam um motivo de estresse. Mas com a ajuda dos meus novos amigos estou trabalhando nisso e tentando pegar pelo menos o básico do francês para conseguir me virar sozinha, sinto que já estou bem melhor já que estou pelo menos conseguindo entender parte do que me dizem às vezes até entendo frases completas. A faculdade tem um grupo de alunos internacionais e uma vez por semana eles fazem um encontro de interação, nele conheci um grupo de pessoas latinas e estamos nos dando super bem, sempre saímos e buscamos fazer programas juntos. Também, tenho a Celina, que é uma brasileira que veio fazer mestrado no mesmo laboratório que eu, então meu projeto de pesquisa será para auxiliá-la em seu trabalho de mestrado, ela é um porto seguro e alguém que estou gostando de conhecer melhor.

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