BLOG DOS INTERCAMBISTAS Data de Publicação: 21 nov 2024 10:30 Data de Atualização: 21 nov 2024 10:30
Nossa estudante Sofia Martins Pascoalini, do curso técnico integrado em Informática do Câmpus Gaspar, está desde Setembro participando do Propicie, o programa de intercâmbio do IFSC. Ela foi para a cidade de Bilbao, na Espanha, realizar um projeto na Universidade de Deusto, e por lá tem enfrentado desafios em relação à língua espanhola, feito amizades e conhecido mais da cultura e hábitos locais. No relato que ela enviou para nós sobre as duas primeiras semanas na Espanha, ela conta em detalhes como foi entrar nessa aventura e deu recomendações para quem também pensa em fazer intercâmbio.
Para saber um pouco mais dessa experiência da Sofia, leia o relato completo dela a seguir:
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Há duas semanas atrás cheguei na Espanha para realizar este intercâmbio que vem sendo uma das experiências mais incríveis que já vivi.
Os primeiros dias foram de longe os mais difíceis, a saudade de casa e da família é muito grande. Você está em um novo país e não conhece ninguém, e quando não fala a língua das pessoas à sua volta as relações se tornam muito mais difíceis de serem construídas. Meu grande primeiro desafio foi a língua espanhola, eu imaginava que as pessoas da residência em que estou morando seriam em sua grande maioria de outros países, mas na verdade são quase todos espanhóis, que tem como sua segunda língua o inglês. Quando reunidos, em momentos de brincadeiras e conversas, me sinto um pouco excluída por não entender nada do que falam, e não consigo participar da conversa. Nas ruas, como em lojas e restaurantes, a comunicação é um pouco mais complicada porque a maioria dessas pessoas não fala nada de inglês, mas consigo me comunicar e falar um pouco de espanhol.
Apesar da língua ser uma barreira nas relações, às vezes isso não me impede de criar amizades, fiz algumas nestas duas semanas que se esforçam para que eu me sinta incluída. Na primeira semana fiz amizade com um grupo de quatro espanhóis, mais tarde me apresentaram duas meninas americanas e uma menina inglesa, e por também não falarem em espanhol é muito mais fácil me comunicar com elas. Com o passar dos dias você começa a conhecer outras pessoas e fazer mais amizades com pessoas de todo o mundo, México, Escócia, França e outros países.
A cultura espanhola é um pouco diferente da nossa, mas nenhuma tradição me trouxe um grande choque cultural. Posso dizer que a maior diferença que encontrei foi nos horários da universidade, aqui as aulas normalmente começam às 8 e acabam às 2 e quase ninguém que está na universidade trabalha. No Brasil normalmente almoçamos por volta das 12:00h, mas aqui todos almoçam bem mais tarde. E algo que achei muito interessante são os cafés/bares, normalmente se você sai no final do dia você vê muitas pessoas sentadas em mesas na calçada, normalmente conversando, bebendo vinho, fumando e comendo pinchos (comida típica espanhola).
Não estava em meus planos frequentar as aulas da universidade, apenas participar do projeto, entretanto o coordenador do projeto em que estou me chamou para assistir aulas que são em inglês, não como aluna, apenas como “observadora” e eu aceitei. Hoje frequento as aulas de introdução de computadores, que ocorrem nas segundas e quartas, das 12:00 às 14:00. Até o momento só fui em uma delas, e os alunos estavam apresentando trabalhos sobre a história da computação. Minha maior dificuldade na aula foi a língua, todos falam inglês, porém como sua primeira língua é o espanhol o sotaque é muito forte e muitas vezes não consigo entender o professor nem meus colegas de classe.
Por ser uma aluna do ensino médio, meu projeto não é tão difícil quanto os outros. A ideia do meu projeto é encontrar uma maneira de identificar quando os alunos estão colando ou vendo coisas no computador durante as avaliações. Os computadores do nosso projeto possuem um sistema que captura a tela a cada 5 segundos por um sistema chamado rede neural convencional, que é capaz de ler imagens usando matrizes matemáticas, esse mesmo sistema é utilizado em inteligências artificiais, então através dessa leitura o sistema pode descobrir se os alunos estavam colando ou não. Por ser um projeto menor eu vou desenvolvê-lo por completo com ajuda do professor. Minha maior dificuldade está sendo aprender os algoritmos e sistemas que serão usados no projeto, pois nunca havia visto eles anteriormente e são todos bem complexos. Ainda não iniciei em meu projeto, pois não tenho um computador e preciso esperar a universidade me dar um para que possa começar a desenvolvê-lo.
Por conta do meu projeto venho aprendendo muito sobre programação, os sistemas e algoritmos usados para desenvolver projetos, principalmente sobre a rede neural convencional e o Machine Learning, que estão relacionados com a inteligência artificial. Posso dizer que meus aprendizados vão muito além da universidade, é sobre criar responsabilidades e aprender a viver cada segundo, é compreender que você não precisa de outro alguém para ter as melhores experiências, mas que isso vem de você e de como você desfruta da sua própria companhia. Também incluo como aprendizado o constante contato com a língua que me faz aprender um pouco de espanhol a cada dia, essas experiências são levadas para a vida e com toda certeza ficam marcadas na memória.
Aqui possuo uma rotina muito flexível, estou morando no Colégio Mayor, que funciona como uma residência estudantil, cada estudante possui o seu quarto e temos áreas de convívio compartilhadas. Primeiramente eu aluguei uma residência para morar com um host Family, composto de uma mulher e sua filha, mas por motivos legais não pude ficar com ela, pois aqui na Espanha pessoas menores de idade não podem morar “sozinhos” então a universidade me encaminhou para a residência. Minha rotina de quase todos os dias é acordar às 8:00 me arrumar e tomar café às 9:00, depois volto para o meu quarto e arrumo minha cama para assim começar a estudar, em dias que tenho faculdade saio da residência às 11:50 para chegar na minha aula que começa 12:10. Quando minha aula acaba, por volta das 14:00, vou para a residência almoçar e depois vou para academia. Não tenho uma rotina definida para as tardes, gosto de caminhar pela cidade, ficar conversando com meus amigos ou estudar, tudo depende dos meus horários e prioridades. As noites são bem calmas, após tomar um banho janto por volta das 20:30 e depois disso vou dormir.
Por morar na residência estudantil não preciso cozinhar, pois todas as nossas refeições são servidas prontas, café da manhã, almoço e janta. Os pratos são bem simples e, em geral, todos são muito bons. O que mais achei diferente entre eles são os pães que a maioria das pessoas come com uma espécie de geleia de tomate fria e azeite no pão. Tive a oportunidade de provar um prato típico da região, as famosas tortilhas, um prato composto de ovo com batatas e cebola, e achei muito saboroso.
A saudade de casa agora não é tão grande e cada dia que passa a vontade ir embora se torna menor, mas ainda sim me lembro do dia em que recebi a notícia de que havia passado, eu chorei, pulei, dei risada, era um misto de sentimentos que não parecia real. E também me lembro muito bem da reação dos meus pais, contei para minha mãe pelo celular e ela apenas respondeu “Ai, Sofi, como você me conta uma coisa dessas assim?”, minha mãe não conseguia acreditar, assim como meu pai, nunca vi os dois tão orgulhosos. Minha avó chorou, meus dindos ficaram muito felizes, foi um sentimento diferente. Não foi minha primeira vez em uma viagem internacional, mas é a primeira vez que viajo sozinha e fico tanto tempo longe de casa. Tive a sorte de fazer amizade com duas pessoas no caminho que me acolheram, me ajudaram e me acompanharam até Madri quando nos separamos para os nossos destinos. Posso dizer que essa está sendo de longe a melhor experiência da minha vida e estou vivendo coisas que nunca imaginei viver anteriormente, é um sonho que se torna realidade.
Eu diria para os estudantes que pretendem realizar o intercâmbio, que se joguem por completo nessa experiência. No começo você fica com medo do novo, sente angústia e nervosismo. Na primeira semana vai sentir saudades de casa, da família e dos amigos, mas com o tempo esses sentimentos vão embora e dão espaço a sentimentos lindos, que te enchem de vida. Você conhece pessoas de todas as partes do mundo e constrói vínculos, vive momentos que nunca imaginou, criando memórias que certamente ficarão marcadas para sempre. Mas também digo que não é possível fazer nada disso sem o mínimo de planejamento, organização financeira, que é importante assim como aprender um pouco da língua do país que está indo morar, e estar aberto a uma nova cultura e costumes.