Combustíveis: de que são feitos e por que custam tão caro?

IFSC VERIFICA Data de Publicação: 26 abr 2022 08:30 Data de Atualização: 26 abr 2022 18:49

Já faz algum tempo que nos surpreendemos com o aumento do preço da gasolina ao abastecer o carro ou com o valor cobrado pelo gás de cozinha. Mas, afinal, por que será que os combustíveis estão custando tão caro? Para explicar isso, é preciso primeiro entender o que são combustíveis. Esta é a proposta deste post do IFSC Verifica em que entrevistamos o professor de Química do Câmpus Jaraguá do Sul - Centro, Clodoaldo Machado, e o professor da área de gestão e negócios do Câmpus Gaspar, Edmundo Pozes

O que são combustíveis?

Segundo a empresa pública federal de Pesquisa Energética (EPE), combustíveis são substâncias que, ao serem queimadas, produzem calor. Esse calor pode ser utilizado para mover uma turbina nas usinas termelétricas ou para acionar motores de veículos, por exemplo. 

O professor de Química do IFSC, Clodoaldo Machado, explica melhor esta definição:

 

Precisamos de combustível para fazer algo funcionar. E isso vale desde a gasolina para fazer o carro andar até para o alimento que precisamos ingerir para o nosso corpo executar suas funções. 

Tipos de combustíveis

Existem várias classificações para os combustíveis, desde aquelas de acordo com o estado físico até quanto ao calor que é gerado na sua queima. No infográfico abaixo, o professor Clodoaldo destaca as duas classificações mais clássicas quando falamos de combustíveis, que são em relação ao seu estado físico e se é renovável ou não.

Classificação de combustíveis

 

Por que temos diferentes tipos de combustíveis?

A escolha pelo combustível que vai ser utilizado depende da potência, ou seja, da quantidade de calor que é necessária para fazer funcionar adequadamente aquele mecanismo. No caso de veículos automotivos, por exemplo, o mecanismo é o motor do veículo. “Veículos mais pesados, como a frota de ônibus e caminhões, têm motores movidos a óleo diesel porque a queima desse combustível gera quantidade de energia suficiente para fazer locomover esse veículo mais pesado”, explica o professor. “Já veículos mais leves podem usar o gás natural de petróleo, etanol ou gasolina, porque são combustíveis que geram uma quantidade de energia um pouco menor, mas suficiente para sua locomoção”, completa.

Como os combustíveis chegam até nós?

Até os combustíveis serem extraídos e se transformarem nos diversos produtos presentes no nosso dia a dia, são várias etapas. Veja abaixo um exemplo da jornada do petróleo desde a descoberta nos campos de exploração até chegar nas refinarias neste vídeo produzido pela Petrobrás:    

 

Composição dos combustíveis

Cada tipo de combustível tem uma composição química específica, determinada por legislação. No caso do Brasil, quem regulamenta toda a questão é a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O professor Clodoaldo explica que a gasolina comum, ou gasolina do tipo C, por exemplo, é composta de uma mistura de hidrocarbonetos, na qual é adicionada uma quantidade de etanol - álcool - anidro (sem água). Atualmente, a legislação brasileira regulamenta que a gasolina do tipo C deve conter 27% de etanol anidro, sendo que o restante se trata da mistura de hidrocarbonetos. “Portanto, a gasolina comum, assim como a aditivada, é uma mistura de vários compostos químicos, com uma composição específica estabelecida pela legislação”, destaca.

-> Assista aqui ao processo de fabricação da gasolina

Já o etanol combustível é hidratado, ou seja, é uma mistura de etanol e água. De acordo com a legislação atual, o etanol combustível deve possuir um teor de etanol entre 95,1 e 96,0%.  

-> Veja como a cana de açúcar vira etanol e como o etanol chega até você?

É a partir da identificação desses componentes - os compostos químicos - e suas quantidades que é possível verificar se o combustível está sendo vendido com a composição específica correta ou se está adulterado. “Uma adulteração é uma mudança na composição química do combustível”, informa o professor de Química do IFSC. Segundo Clodoaldo, os dois principais tipos de adulteração são quando se adicionam substâncias que não pertencem àquele combustível ou quando a mistura dos combustíveis é usada numa proporção diferente da regulamentada. 

Uma adulteração comum no Brasil, por exemplo, é na gasolina do tipo C que usamos na maioria dos carros. De acordo com a legislação brasileira, a gasolina do tipo C deve ser uma mistura de 75% de gasolina e 25% de etanol. No entanto, uma fraude comum é se misturar etanol numa quantidade maior do que 25% com a gasolina, já que o valor do álcool é mais barato. “Então não se atende a legislação porque está havendo uma adulteração na composição”, reforça o professor.

O controle de qualidade de combustíveis é feito por meio de testes contratados pela ANP.  Infelizmente, é muito difícil para o consumidor detectar a adulteração do combustível ao abastecer seu carro num posto, “Pode ser que você abasteça, comece a andar com o carro e note que ele perde potência”, explica Clodoaldo, destacando que o cliente dificilmente conseguirá ver qualquer alteração. “Obviamente também há uma recomendação expressa de que, quando você tem a venda e comercialização de um combustível com preço muito abaixo do normal, deve ter algum problema”, alerta o professor.

Por que o preço do combustível está tão caro?

E qual seria um preço normal de combustível? Nos últimos meses, foram tantos os aumentos que é preciso entender o que influencia neste valor que chega para a gente.

O professor da área de gestão e negócios do Câmpus Gaspar, Edmundo Pozes, lembra que, em 2016, o Governo Brasileiro inseriu a Petrobrás no mercado internacional. A Petrobrás é a maior empresa petrolífera do Brasil, atuando principalmente na exploração e produção de petróleo e seus derivados e de gás natural. Desde então, as transações com o petróleo seguem as variações do dólar e dos preços do mercado internacional. “A empresa adotou a Política Paritária de Preços, melhorando de sobremaneira a posição dos acionistas, especificamente a distribuição de dividendos. A paridade internacional não é vantajosa para o consumidor quando o dólar está em alta, porque, com a alta do dólar e da inflação, o poder de compra diminui drasticamente”, avalia Edmundo. 

O professor explica que a formação de preços da Petrobrás para os fornecedores é representada pelos seus custos (em reais) mais a parcela de tributos federais e estaduais. A alíquota é cobrada sobre um preço de referência, chamado de Preço Médio Ponderado ao Consumidor Final (PMPF), definido pelos governos estaduais a cada 15 dias, com base em pesquisa nos postos. Já os valores pagos pelo consumidor final não estão sob a gestão da Petrobras, mas são compostos pelo preço de importação da gasolina, a carga tributária, o custo do etanol obrigatório e as margens da distribuição e revenda. 

Veja na imagem abaixo como é formado o preço que você paga pelo combustível:

Como é formado o preço que você paga pelo combustível

Os preços dos combustíveis aumentaram nos últimos anos em função da cotação internacional do barril do petróleo. De acordo com Edmundo, a Petrobrás importa petróleo e derivados e repassa os reajustes por conta da política de Preço de Paridade de Importação. É por isso que a alta do petróleo por causa da guerra na Ucrânia, por exemplo, chega ao Brasil. “Realmente os barris de petróleo ficaram mais caros como resultado da guerra e medidas como as sanções dos Estados Unidos e da União Europeia contra o petróleo e o gás exportados pela Rússia, o segundo maior produtor e exportador de petróleo do mundo.  Logo, devido às sanções, entende-se que a redução da quantidade de petróleo no mercado internacional tende a aumentar os preços”, destaca. O professor salienta que o petróleo é uma commodity e seu preço está atrelado às leis de oferta e demanda. “Dessa maneira, ações que prejudiquem a oferta enquanto existe uma forte demanda fazem os preços aumentarem”, reforça.

Existe alguma chance do preço do combustível baixar?

Para o professor do IFSC, isso não deve ocorrer. “Apesar de produzirmos mais petróleo do que se consome e, mesmo sendo autossuficientes, produzimos um tipo de petróleo para o qual não temos refinarias suficientes para processar nosso tipo de óleo, por isso, ainda precisamos importar petróleo cru e seus derivados como a gasolina”. Edmundo explica que a política da Petrobrás é reajustar todos os preços pelo valor do dólar e preços internacionais. “Por isso, sentimos o efeito de qualquer mudança no valor que se paga pelo petróleo no exterior. A cotação do dólar tem impacto imediato”, constata. 

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