Ex-reitora faz balanço dos últimos oito anos de gestão

BLOG DA REITORIA Data de Publicação: 29 abr 2020 12:36 Data de Atualização: 20 out 2021 15:56

Depois de dois mandatos, a professora Maria Clara Kaschny Schneider encerrou seu período como reitora do IFSC no dia 18 de abril. Como forma de prestação de contas à sociedade, a ex-dirigente máxima da instituição escreveu um último relato destacando os principais acontecimentos dos oito anos em que esteve no comando do Instituto. 

Leia abaixo:

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Olá!

Esta é uma publicação especial, que faço já como ex-reitora do IFSC e que apresenta à comunidade uma retrospectiva dos oito anos nos quais atuei como reitora, cargo que ocupei com muito orgulho. É uma mensagem de despedida, de agradecimento e de prestação de contas para toda a comunidade acadêmica.

Não tenho como resumir tanto tempo de trabalho, desafios e conquistas de uma forma tão concisa. Peço licença para relembrar e destacar algumas das mudanças que tivemos no IFSC durante este tempo, não com o intuito de ressaltar a nossa Gestão, mas sim para mostrar como nós, enquanto instituto, avançamos, nos transformamos e ajudamos a mudar a vida de tantas pessoas, como vocês leram muito por aqui.

Até porque o IFSC não é apenas o resultado das ações dos gestores, mas de todo seu corpo de servidores docentes e técnico-administrativos que, com seu conhecimento, suas competências e árduo trabalho, mantêm nosso instituto em atividade. Somos também fruto de quem nos escolheu para estudar e de quem encontrou aqui uma oportunidade talvez nunca sequer imaginada. É para vocês, principalmente, que nós existimos!

Para organizar este relato, que vai ser longo, achei melhor dividir por alguns temas.

Como éramos e como somos

Quando assumimos a gestão do IFSC, em dezembro de 2011, tínhamos um quadro de 1,5 mil servidores e 14 mil matrículas. Atualmente, estamos com 2,5 mil servidores e passamos das 44 mil matrículas. Éramos em 13 câmpus, mais seis câmpus avançados, totalizando 19 câmpus. Hoje temos 21 câmpus implantados, além do Câmpus Avançado São Lourenço do Oeste, e de outras duas unidades com funcionamento autônomo: o Centro de Referência em Formação e Educação a Distância, o Cerfead, e o polo de inovação da Embrapii, que fica no Câmpus Florianópolis.

Esse incremento reflete diretamente na nossa capacidade de oferta de ensino, sempre articulado à pesquisa e à extensão: passamos de 3,42 mil alunos concluintes em 2011 para 10,23 mil em 2019. Tivemos, em 2019, um total de 513 cursos ofertados, entre formação inicial e continuada, técnicos (integrados, concomitantes e subsequentes), bacharelados, superiores de tecnologia, licenciaturas, mestrados profissionais e especializações - 351 deles criados ao longo destes 8 anos. Esses números são resultado do nosso crescimento em servidores e da expansão de nossa infraestrutura.

Expansão e Infraestrutura

As nossas estratégias de gestão sempre consideraram a máxima de que a expansão responsável gera mais oportunidades, por isso empreendemos pela continuação do projeto de expansão dos institutos federais do qual o IFSC fez parte. Os 19 câmpus que tínhamos no início da primeira gestão ainda precisavam de ampliações, melhorias e complementações; além disso, inauguramos também os câmpus Tubarão e São Carlos, em 2013, e São Lourenço do Oeste – este, ainda funcionando como Câmpus Avançado – em 2015.

Em Florianópolis, realizamos a partir de 2013 uma importante ampliação da estrutura física do Câmpus Florianópolis-Continente, que resultou em maior número de salas de aula, laboratórios, espaço de convivência, cantina, setores administrativos, biblioteca e auditório. As melhorias foram complementadas este ano, com a obra de infraestrutura do acesso ao câmpus e à Reitoria, estacionamento, ajardinamento, cercamento do terreno e benfeitorias na parte externa, que garantem mais segurança para a comunidade acadêmica, terceirizados e comunidade externa, que circula bastante nas redondezas do câmpus em função da proximidade com o Parque de Coqueiros, uma área pública municipal.

Também tivemos inaugurações importantes, como a do prédio do Câmpus Itajaí, cuja obra teve muito atraso em função de uma longa briga judicial com as empresas contratadas; do Câmpus Garopaba, que foi para a sede própria depois de bastante tempo em espaço provisório; blocos novos nos câmpus Urupema, Caçador, Xanxerê, Tubarão, Criciúma, Jaraguá do Sul-Rau. Quadras poliesportivas como as de Araranguá, Criciúma, Gaspar e Caçador; ginásios como os de Jaraguá do Sul-Centro, Joinville e Itajaí. Também estiveram no foco dos nossos esforços para melhorar a infraestrutura dos câmpus a aquisição de milhares de equipamentos para laboratórios e salas de aulas, 

A criação do Cerfead como estrutura de institucionalização da educação a distância e da formação continuada de trabalhadores da educação, em 2014, impulsionou a oferta de cursos nessa modalidade, que já era praticada desde 2008 por meio de programas de fomento, mas sem o lastro institucional. Inicialmente o Cerfead capacitou servidores para a implantação do Sistema Integrado de Gestão (SIG) e passou a atuar também com ofertas de licenciaturas, especializações, mestrado e outros níveis de ensino. O Cerfead funciona hoje num prédio alugado na capital e temos um terreno na BR-101, com projeto aprovado, com pedido de recurso ao MEC para viabilizar essa obra.

Outra estrutura importante foi a implantação do Polo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Participamos de um edital em 2017 e fomos selecionados, uma grande conquista na área da pesquisa e inovação. Instalado no Câmpus Florianópolis, o polo desenvolve projetos na área de sistemas inteligentes de energia. Hoje, nove Institutos Federais possuem polo de Inovação Embrapii.

Orçamento                

Tivemos a oportunidade de dar início à nossa primeira gestão com excelente execução orçamentária e uma perspectiva bastante boa, gerindo os recursos de maneira racional, estabelecendo prioridades e atuando em rede. Conseguimos, durante os primeiros anos, além de um ótimo orçamento, muitos recursos extras para obras e equipamentos, e com trabalho árduo executamos as ampliações e melhorias nos câmpus e na Reitoria. A conjuntura foi favorável até 2014 e em 2015 sentimos um corte nos recursos de investimento e de custeio. Nesse momento os recursos da assistência estudantil ainda vieram regularmente, mas em 2016 o baque foi maior. O contingenciamento no programa nacional dessa área, o Pnaes, chegou a 23%, e isso nos impactou de modo bem drástico.

Por um período tivemos que reduzir as bolsas do nosso Programa de Assistência a Estudantes em Vulnerabilidade Social, o Paevs, rever novas concessões e conseguimos lançar novos editais a partir da liberação dos recursos no segundo semestre.

Em 2017 houve mais cortes e em 2018 a situação ficou crítica: tivemos R$ 4 milhões liberados em recursos para investimentos, enquanto que em 2014 esse valor havia sido dez vezes maior! Na Rede Federal, os institutos receberam um montante de recursos equivalente ao do ano de 2012, porém com o dobro de alunos matriculados. No IFSC, fizemos o Plano Anual de Trabalho 2019 de modo coletivo, estabelecendo as prioridades, mas não tivemos todas as nossas necessidades contempladas no orçamento 2019 – que ainda seria, sem dúvida, o ano mais desafiador.

Iniciamos o ano de 2019, como sempre, com o orçamento sendo liberado mensalmente. Mas, no final de abril, tivemos a surpresa do bloqueio de parte do nosso orçamento pelo MEC, o que trouxe uma série de dificuldades e gerou grande repercussão - pois atingiu, além dos Institutos, também as universidades federais. A reação foi imediata e, nos primeiros dias de maio, houve uma série de mobilizações em todo o país. Aqui no IFSC, alunos e servidores organizaram abraços simbólicos em defesa da instituição. Ao lado dos dirigentes do IFC, da UFSC e da UFFS, participei de audiência pública convocada pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, que ampliou a discussão sobre a situação das instituições de ensino federais e o impacto dos cortes.

Passamos de maio a outubro gerenciando todos os gastos do IFSC com muito cuidado e preocupação, priorizando sempre as atividades de sala de aula e que envolvessem os estudantes. Apenas em outubro veio a confirmação de 100% do desbloqueio dos recursos de custeio, o que nos garantiu concluir as atividades do ano. Em outubro ainda, tivemos a liberação dos Termos de Execução Descentralizada (TED) pelo MEC para conclusão das obras em nossos câmpus Criciúma e Jaraguá do Sul-Rau, que estavam paralisadas. Em novembro, recebemos um TED no valor total de R$ 770 mil para compra de equipamentos para sete câmpus e para a Reitoria. Também tivemos a liberação de todo recurso de investimento do orçamento do IFSC, assim como a aprovação e liberação de mais um TED para construção de um novo bloco em Canoinhas, no valor de R$ 1,91 milhões. Assim, apesar de ter sido um ano difícil, conseguimos finalizá-lo com grandes avanços para o IFSC.

Começamos 2020 com um orçamento ainda menor do que o de 2019 e com um sentimento de apreensão, já que apenas 57% dele está efetivamente aprovado. A expectativa é de que o Congresso Nacional aprove o restante até junho.

Gestão e Planejamento

Gerir uma instituição gigante e complexa como o IFSC demanda muita precisão no planejamento e desde o início nossa escolha foi por descentralizar os processos de decisão, abrindo-os o máximo à participação. Nesse aspecto eu destaco dois processos exemplares, que são a elaboração dos nossos Planos de Desenvolvimento Institucional e a implantação dos Planos Anuais de Trabalho como forma de integração do planejamento de ações à programação orçamentária.

Desde 2012 foram dois processos participativos de elaboração de PDIs, um que esteve vigente de 2015 a 2019, e o outro é o documento que acaba de entrar em vigor para o quinquênio 2020-2024. O PDI 2015-2019 trouxe como avanços a elaboração de um novo Projeto Pedagógico Institucional (PPI) e o primeiro Planejamento Estratégico de caráter institucional do IFSC. É o Planejamento Estratégico que orienta os Planos Anuais de Trabalho, os PATs, que são anuais e correspondem aos instrumentos que operacionalizam os objetivos traçados no documento mais amplo do planejamento. O PAT anual também é importante pois é ele que embasa a proposta orçamentária do IFSC para o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA).

Já o PDI 2020-2024 parte de uma profunda análise do que temos feito enquanto IFSC e do quanto precisamos e podemos avançar para perseguir nossa missão. Esse olhar para o futuro resultou em avanços em relação ao documento anterior, como a apresentação de um PPI mais coeso, um Planejamento Estratégico mais focado, consistente e embasado em análise ambiental interna e externa e um Plano de Oferta de Cursos e Vagas com otimização do quadro docente e critérios de priorização de novas vagas.

Tivemos também a revisão de documentos importantes para o funcionamento da instituição, como o Regulamento Didático-Pedagógico (RDP) e a Resolução 23, que regulamenta as atividades docentes; a elaboração da Cadeia de Valor e a definição da Arquitetura de Processos institucionais; a revisão dos regimentos internos dos câmpus; a elaboração da Política de Comunicação, a primeira da Rede Federal e que é referência até hoje para diversas instituições; o Documento Orientador da Educação de Jovens e Adultos (EJA); o Plano de Permanência e Êxito, entre outros marcos regulatórios.

A revisão de documentos e procedimentos sempre tem efeitos práticos que visam ao aprimoramento dos nossos processos. O nosso ingresso foi um dos processos institucionais que teve várias alterações nesse sentido, pois uma das preocupações da gestão sempre foi tornar o IFSC mais acessível a quem mais precisa dos nossos cursos. Em função disso fomos gradualmente implantando mudanças na nossa política de ingresso de forma a inverter a lógica da meritocracia e pensando pela ótica da oportunidade: temos que atingir as pessoas que possam ter suas vidas transformadas para que tenham condições de chegar ao mérito. Uma das mudanças foi a manutenção do Exame de Classificação apenas para os cursos técnicos integrados ao Ensino Médio - e a adoção de sorteio público ou manifestação de interesse para os técnicos concomitantes e subsequentes, assim como para a formação inicial continuada. Também não temos mais vestibular desde 2018, com 100% das nossas vagas dos cursos superiores ocupadas via Sistema de Seleção Unificada (Sisu), para candidatos com nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Modernizar e desburocratizar a lógica administrativa da gestão também foram desafios que enfrentamos com a implementação do Sistema Integrado de Gestão (SIG) a partir de 2013. Foi um processo muito complexo, realizado em etapas, que exigiu muito empenho da nossa TI, colaboração e treinamento dos nossos servidores, revisão de processos, adaptação e aprendizado. O SIG integra diversos sistemas em uma plataforma única, o que facilita o acesso à informação, agiliza os processos e gera economicidade e transparência. Os processos envolvem todas as áreas, desde o administrativo, passando pelo Ensino, Pesquisa, Extensão e vida estudantil.

A implantação do Módulo Acadêmico do Sigaa envolveu diversos segmentos, sendo desafiadora e ao mesmo tempo inovadora, pois ampliou possibilidades e automatizou uma série de processos que até então eram realizados em paralelo ao sistema acadêmico utilizado. Atualmente a comunidade acadêmica tem acesso a diversos serviços e informações relacionados à vida acadêmica dos estudantes, o que representa um ganho qualitativo para análises gerenciais e, acima de tudo, permite ao IFSC atuar de forma transparente, prestando contas de suas ações à sociedade de forma ágil e clara.

Outro processo complexo foi a reestruturação do nosso Portal, que foi totalmente remodelado a partir de um trabalho bastante intenso desenvolvido pela nossa equipe da Diretoria de Comunicação. O novo Portal tem foco nos nossos alunos e potenciais alunos e prioriza, além das informações institucionais, notícias sobre os processos de ingresso e, em situações como a que estamos vivendo neste momento de pandemia, informações importantes de orientação para nossos alunos e comunidade acadêmica sobre o andamento da instituição. Constitui-se também num importante canal de comunicação para os públicos externos, onde se divulgam informações institucionais de interesse público, divulgação científica e serviços. Dois anos após a implantação do Portal principal, estamos no processo de mudança dos sites dos câmpus para a mesma plataforma. A acessibilidade é uma preocupação nossa e o novo Portal tem visual mais leve e responsivo, ou seja, é facilmente acessado pelo celular, que é o dispositivo que a maioria das pessoas utiliza para navegar na internet.

Ainda na área da comunicação, considero um marco importante a estruturação da nossa IFSCTV, que nos possibilitou ampliar as linguagens de divulgação institucional, tanto com conteúdo jornalístico quanto com vídeos institucionais. Além disso, com o corpo técnico da TV e equipamentos passamos a ter condições de realizar transmissões ao vivo das sessões públicas do Conselho Superior e do Colégio de Dirigentes, um passo importante para a transparência dos nossos processos - disponibilizando também as gravações das reuniões no nosso canal do YouTube.

Indissociabilidade Ensino-Pesquisa-Extensão                   

“Indissociabilidade” é uma palavra que nós repetimos muito ao longo desses anos quando nos referimos à forma como ensino, pesquisa e extensão devem atuar, de forma indissociável, inseparável, complementar. Nisso está implícita uma compreensão de educação para além do mero compartilhamento de saberes e competências. Transformar a compreensão teórica em prática envolve muita conversa, muito planejamento e muito trabalho integrado, em especial entre nossas três pró-reitorias.

Falando especificamente da pesquisa, a nossa Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, a Proppi, direcionou suas ações para cumprir os objetivos e finalidades previstos na lei de criação da EPT, voltados de forma especial para a pesquisa aplicada e a inovação tecnológica. Já a Pró-Reitoria de Extensão e Relações Externas, a Proex, atuou com foco na curricularização da extensão nos nossos cursos superiores, que é uma estratégia potente prevista no Plano Nacional de Educação (PNE). Também participamos da redação das diretrizes nacionais da extensão num debate nacional articulado pelos Fóruns de Pró-reitores que culminou na publicação da Resolução 7/2018 do Conselho Nacional da Educação (CNE).

A indissociabilidade é um princípio, como disse, mas no IFSC abrimos caminhos para a prática, tornando assim o fazer educacional mais significativo para o aluno e transformador para a sociedade do entorno dos nossos câmpus.

Isso pode ser comprovado ao olharmos nossos indicadores de extensão. Passamos de um recurso de R$ 788,6 mil executados em atividades de extensão no primeiro ano da nossa gestão (2012/13) para R$ 1,6 milhões no exercício 2018/2019. Para 2019/2020, que ainda está em execução, temos R$ 1,2 milhões. Além de mais recursos, conseguimos envolver mais servidores e alunos. Se em 2013 tínhamos 321 discentes envolvidos, as atividades em andamento contam com 3.248 alunos. Chegamos a impactar quase 400 mil pessoas no ano passado com nossas atividades de extensão. 

Esses números deixam claro que estamos no caminho certo da indissociabilidade, quanto mais a concepção extensionista imbrica nos currículos, mais nos aproximamos dos setores da sociedade e mais corpo toma o movimento de educação. Essa foi uma das máximas da minha gestão: gerar oportunidades para além da sala de aula mantendo o estudante engajado. Um aluno que faz extensão, que se envolve como bolsista em uma pesquisa, não desiste e fica mais possível seu êxito.

Assistência e alimentação estudantil 

O modelo da Assistência Estudantil do IFSC se tornou referência para a Rede Federal. A política foi significativamente aprimorada a partir da reestruturação do Comitê Gestor de Assistência Estudantil - com base na resolução do nosso Colegiado de Ensino, Pesquisa e Extensão, o Cepe, de nº 001/2010, sendo presidido pelo reitor e garantida a participação de outros segmentos como alunos, coordenadorias pedagógicas, chefes dos departamentos de Administração e de Ensino, Pesquisa e Extensão; dirigentes de câmpus e pró-reitores. 

O Paevs teve importantes avanços a partir da implantação do sistema Paevs em 2017, que facilitou a gestão, o controle e a otimização da aplicação dos recursos. A publicação da resolução do Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) foi desmembrada do Paevs e sua utilização foi estendida a outros editais institucionais do ensino, pesquisa, extensão e intercâmbio, de modo a oportunizar que os alunos em vulnerabilidade tenham acesso a outras ações do IFSC.  A descentralização da análise de renda dos alunos por meio da implementação de comissões em todos os câmpus foi um importante avanço no sentido de dar celeridade e direcionar melhor o trabalho dos profissionais do serviço social.  

A atualização da regulamentação do Paevs em 2017 permitiu aprimorar o funcionamento de todo o programa e diversificar os auxílios para melhor atender os nossos estudantes. Atualmente o IFSC conta com auxílio-permanência, auxílio-cotista baixa renda, auxílio a públicos estratégicos vulneráveis, auxílio-emergencial e o auxílio-Proeja. Nesse sentido, a criação do edital de auxílio-moradia e de participação discente em eventos também contribuiu para atender importantes demandas dos alunos, colaborando diretamente para a permanência e êxito enquanto foco da política de assistência estudantil.

Traduzindo em números, em 2016 o Paevs atendeu 3.946 alunos e, em 2019, esse quantitativo foi de 5.884 alunos, o que representa um aumento de 67% no número de alunos atendidos por este programa. 

Ainda no escopo da política, a implementação da alimentação estudantil sempre foi um desafio para os IFs que não se originaram das escolas agrotécnicas. A regulamentação para uso do recurso do  Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) sempre impôs restrições que dificultavam o atendimento a esse direito dos estudantes. 

No IFSC, o Câmpus Araranguá conseguiu priorizar, a partir de 2013, com o apoio técnico e financeiro da Reitoria, a implementação do primeiro refeitório voltado aos alunos, por meio da contratação de nutricionista, merendeiras, equipamentos, mobiliários e adequação da estrutura física. No entanto, dada a realidade de estagnação orçamentária, o modelo implantado em Araranguá não se mostrou replicável nos demais câmpus, exigindo do IFSC a busca de alternativas para a alimentação estudantil. 

A partir da participação do IFSC no GT Nacional do Pnae em 2018, comandado pelo MEC, a implantação desse programa foi ganhando escala, possibilitando que, em 2019, a alimentação estudantil com frutas e produtos panificáveis fosse oferecida nos 22 câmpus - com a complementação do recurso da ação 2.994 no mesmo valor do recurso do FNDE - para que os câmpus pudessem ofertar a alimentação nos 200 dias letivos. 

Ressalto que essas ações são fundamentais para permanência e êxito dos nossos estudantes e foram aprimoradas ao longo dos anos.

Mobilizações e atuação em rede

Ao longo desses oito anos como reitora do IFSC pude perceber a importância da articulação em rede, não apenas entre nossos câmpus, mas na força da atuação conjunta dos Institutos Federais. Muitos enfrentamentos foram feitos e muitos avanços ocorreram durante esse tempo por meio da articulação dos institutos unidos no Conif, que é o Conselho Nacional das Instituições de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Desde questões ligadas ao orçamento - que, como já comentei antes, veio sofrendo cortes gradualmente a partir de 2015, até a situação crítica que vivenciamos em 2019 - a articulações junto a parlamentares e oferta de cursos de pós-graduação em rede (como o ProfEPT) e capacitação de servidores foram temas de interesse comum dos dirigentes.

Além disso, foram muitas as manifestações conjuntas frente a questões relevantes como o programa Future-se, as propostas de mudanças na lei dos Institutos Federais, diretrizes curriculares para a EPT, novo processo de escolha para reitores e, bem recentemente, as recomendações do Ministério da Economia para cortes de gastos. Todos esses e vários outros foram temas que nos motivaram a discutir e marcar posicionamento publicamente de forma coletiva e sólida.

Sempre procurei trazer aqui no blog um resumo dos assuntos tratados no Conif porque, mesmo que pareçam um pouco distantes do cotidiano, são muito importantes para que a comunidade perceba que por meio desse fórum é possível enxergar como nossos problemas enquanto instituto federal são comuns aos outros - ou, ao contrário, como nossa situação em comparação a outros institutos e estados é diferenciada. E o quanto é importante a atuação em rede.

Eventos institucionais                                 

Quando assumimos a Gestão, já começamos com um grande desafio que foi organizar o II Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica em Florianópolis, que reuniu mais de 20 mil participantes em um dos eventos mais marcantes da história centenária do IFSC.  Até hoje ouvimos as pessoas comentarem desse grande evento!

Se perguntarem para os nossos alunos, os eventos mais marcantes, com certeza, são nossos jogos - o JIFSC - e o Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação - o Sepei.

Enquanto reitora, pude acompanhar a realização de oito edições do JIFSC e ver o seu crescimento junto com a nossa estrutura e a nossa certeza de que os jogos não são apenas uma competição, mas sim uma disputa saudável que envolve, acima de tudo, companheirismo, respeito, superação, coletividade e amizade. Em 2012, tivemos 290 alunos participando da primeira edição no Câmpus Florianópolis. A oitava edição, realizada em 2019, teve a participação de 1,3 mil alunos e foi realizada uma parte em Blumenau (com os cursos técnicos integrados) e a outra em nosso Câmpus Florianópolis (para os demais cursos). Também conseguimos levar o JIFSC para outras regiões, tendo sido realizadas edições em Florianópolis (2011, 2012, 2013 e 2019), Gaspar/Blumenau (2014, 2017 e 2019), Joinville (2015), Chapecó (2016), e Criciúma (2018).

Em 2016, organizamos também a etapa regional Sul dos Jogos dos Institutos Federais, o JIF Sul, em Blumenau. Além disso, ao longo destes oito anos organizamos a ida dos nossos alunos para outras edições das etapas regionais e também para a etapa nacional (JIF Nacional) e conseguimos bons resultados.

Entendemos que a formação cidadã passa pelos ensinamentos que os esportes propiciam e, por isso, acreditamos neste evento tão querido pelos alunos pela integração e pela diversão, mas que, pra gente, tem uma proposta pedagógica de formação integral dos nossos estudantes.

Nosso principal evento, o Sepei, também teve um crescimento considerável. A primeira edição do Sepei foi realizada em 2011 e, em 2013, ela passou a ser estadual e itinerante. Nesses oito anos, não tivemos Sepei apenas em 2015, quando o evento foi cancelado por causa da greve dos servidores. Na nossa gestão, tivemos então seis edições em modelo estadual, que é o que existe hoje. A primeira edição neste formato foi em 2013, no Câmpus Lages, com 672 participantes. Ano passado, conseguimos fazer o Sepei pela primeira vez na região oeste, em Chapecó, e tivemos cerca de 1,7 mil participantes em três dias de experiências integradas em sessões técnico-científicas, imersões culturais, palestras, feira tecnológica, hackathon, workshop de empreendedorismo júnior, torneio de robótica, festival de bandas e outras atrações. O evento já foi realizado em Lages (2013), Gaspar (2014), Criciúma (2016), Itajaí (2017), Florianópolis (2018) e Chapecó (2019).

Também organizamos dois eventos da rede federal: a primeira edição da Reunião Anual dos Dirigentes das Instituições de Educação Profissional e Tecnológica da região Sul, a Reditec Sul, em 2018 no Câmpus Lages; e a 43ª edição da Reunião Anual dos Dirigentes das Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica, em 2019, no Câmpus Florianópolis-Continente, em parceria com o Instituto Federal Catarinense. Mesmo tendo que repensar todo o evento em função dos cortes orçamentários, conseguimos realizar uma Reditec de excelência, possibilitando a troca de experiências entre os dirigentes num período tão necessário em função dos novos desafios.

Internacionalização

Colocamos a internacionalização como uma das nossas políticas do PDI de 2015-2019, dando importância para o desenvolvimento e a implantação de programas que possibilitem o fortalecimento da internacionalização do IFSC com redes acadêmicas, ampliando as oportunidades de mobilidade acadêmica, divulgação e produção científica e tecnológica. Na nossa gestão, conseguimos consolidar o programa de intercâmbio do IFSC, o Propicie, e dar início a um novo programa de Dupla Titulação. Destinamos cerca de R$ 3 milhões para nossas ações de internacionalização de 2012 a 2019.

Já enviamos 256 alunos pelo Propicie - tanto de cursos técnicos quando de graduação - que têm a oportunidade de realizar um projeto de pesquisa em uma instituição no exterior. Esse formato de intercâmbio de não fazer disciplinas, mas sim trabalhar em um projeto de pesquisa, tem se mostrado bem enriquecedor para todas as partes e nossos alunos têm sido bastante elogiados.

Em 2017, demos início ao programa de Dupla Titulação, que está possibilitando que nossos alunos de Engenharia obtenham o título de bacharel aqui no Brasil e de mestre em Portugal. Já contamos com 21 estudantes participando desse programa no Instituto Superior de Engenharia de Porto.

Além disso, diversos estudantes já participaram de experiências por meio de editais do Conif, buscando sempre distribuir pelo estado as oportunidades de internacionalização. Nossos estudantes de Criciúma, Xanxerê, Canoinhas e outros tantos câmpus foram para o Japão, Austrália, Canadá, EUA e outras nações parceiras da Rede.

Terminamos nosso mandato com 53 parcerias internacionais firmadas em instituições dos seguintes países: Alemanha, Argentina, Áustria, Chile, China, Colômbia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Inglaterra, Itália, México, Noruega, Paraguai, Peru, Portugal, Rússia, Suíça e Uruguai. Isso significa que temos portas abertas para enviar nossos estudantes para todos esses lugares.

Muitas dessas parcerias foram estabelecidas em missões internacionais que tive pelo IFSC e junto com o Conif. Participei de missões institucionais para os Estados Unidos, Portugal e mais recentemente para a Colômbia. Onde já temos um histórico de intercambistas, nos orgulha muito ouvir as instituições estrangeiras elogiando nossos alunos pela qualidade acadêmica, dedicação e empenho. Isso mostra que nosso ensino está nos fazendo ter uma boa imagem institucional também no exterior.

Contratação e qualificação de servidores             

Sempre me orgulhei muito do nosso corpo técnico e destaquei a necessidade dos nossos servidores para conseguirmos consolidar e ampliar nossa atuação. E isso vai desde a contratação de novos servidores até a qualificação de quem já faz parte do nosso quadro.

Conseguimos realizar grandes concursos públicos nos últimos anos, com destaque para o de 2013, que foi o maior concurso público da nossa história, com a contratação de mais de 350 servidores – entre docentes e técnicos administrativos.  Em 2014, tivemos mais um concurso com a oferta de 126 vagas de docentes e técnicos administrativos.  Em 2015, foram selecionados mais 160 novos servidores docentes e 75 técnicos administrativos.

Implementamos a nova carreira docente e o Reconhecimento de Saberes e Competências, RSC, além da ascensão à classe de professor titular.

Outro foco importante que trabalhamos, além de ampliar nosso quadro de servidores para nos permitir crescer em rede e atender às demandas dos nossos câmpus, foi oferecer oportunidades de capacitação para os nossos servidores. Por meio do Conif, encaminhamos a proposta do mestrado em Educação Profissional e Tecnológica, voltado a toda a Rede Federal, e isso se tornou uma realidade desde 2017. Nesse mesmo ano, firmamos uma parceria com a Unisul para um curso de mestrado em Administração para nossos técnicos administrativos.

Mais uma importante conquista foi a contratação, por meio de chamada pública, da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) para uma turma de Mestrado Profissional em administração para servidores técnicos-administrativos do IFSC. Essa foi uma promessa aos nossos TAEs do Oeste, que sempre tiveram dificuldades para se qualificar.

Entendemos que, quanto mais capacitados forem nossos servidores, melhor conseguiremos atender alunos e comunidade. Além disso, diante da complexidade e especificidade da Rede Federal, estudar nossa estrutura e nossos processos é essencial para que possamos nos conhecer mais e ver como melhorar nossa atuação. E o fato de termos tantos servidores realizando mestrados institucionais nos traz isso de resultado, a médio e longo prazo.

Enfrentamos na nossa gestão algumas crises, greves, ocupações, mobilizações, embates por questões legais, que buscamos resolver com paciência e segurança legal.

Despedida

Me emociono ao lembrar de tudo isso. Foram anos, realmente, de muita dedicação, esforço e trabalho. Entrei no IFSC em 1990, na antiga Escola Técnica, como professora de matemática naquele que é hoje o nosso Câmpus Florianópolis. Tive a oportunidade de testemunhar essa grande transformação institucional de perto, quando nos tornamos Cefet-SC e depois IFSC. Ano passado, comemoramos os 110 anos da criação da Escola de Aprendizes Artífices, nossa primeira identidade institucional. É marcante pensar que estamos há tanto tempo atuando em prol da sociedade catarinense.

Jamais imaginávamos que, ao final da nossa gestão, enfrentaríamos uma pandemia como essa e que nossa despedida seria sem o contato e a presença física que sempre gostamos de ter com nossos servidores e alunos. Infelizmente, estamos todos enfrentando esta situação atípica e aprendendo muito com tudo isso. O momento é de resiliência e paciência. 

Em 2019 realizamos o maior processo eleitoral da história do IFSC, com eleições para o cargo de reitor e de diretores-gerais de 21 câmpus. Desejo boa sorte aos novos gestores. 

Quero agradecer aos nossos alunos e ex-alunos por acreditarem no nosso propósito e nossa missão. Meu muito obrigada também aos servidores incansáveis em fazer o melhor possível, mesmo com as adversidades que encontramos. Preciso agradecer, especialmente, aos servidores da Reitoria, de quem estive mais próxima, e que foram fundamentais para termos nosso trabalho em rede como tem que ser em uma instituição complexa e tão dispersa geograficamente. 

Peço licença para fazer um agradecimento à minha família, em especial, às minhas filhas, por entenderem minha ausência em muitos momentos e me apoiarem sempre. Encerro essas duas gestões com mais de 30 anos como servidora pública e com a certeza de que o IFSC nunca sairá da minha vida. Eu disse e escrevi diversas vezes que a gente transforma a vida das pessoas por meio da educação e a minha paixão pela educação também mudou a minha vida e me transformou como pessoa.

Honrei os votos recebidos nas duas eleições com meu trabalho, dedicação, conhecimento e espírito público. A gestão pública exige coragem e otimismo para inovar, crescer e avançar e sempre me coloquei dessa forma com ética e atendendo aos preceitos da administração pública à frente do IFSC por tanto tempo! Foi uma honra poder fazer parte dessa história.

Até mais,

Maria Clara Kaschny Schneider

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