IFSC VERIFICA Data de Publicação: 24 out 2022 22:40 Data de Atualização: 20 mai 2024 17:53
O Brasil produz cerca de 66,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos domiciliares e urbanos ao ano, uma média de pouco mais de um quilo por habitante a cada dia. Estão inclusos no cálculo materiais recicláveis secos como papéis, plásticos, metais, entre outros; resíduos úmidos, como restos de alimentos e podas de árvores; e os rejeitos, materiais que não podem ser reciclados ou reutilizados.
O post de hoje do IFSC Verifica vai mostrar quais as barreiras para ter um maior percentual de material reciclado no Brasil e como o uso da tecnologia pode ajudar a transformar os resíduos sólidos em matéria-prima para novos produtos, ajudando a preservar o meio ambiente, reduzindo a emissão de gases do efeito estufa e gerando emprego e renda.
Conversamos com a professora Elivete Carmen Clemente Prim, engenheira sanitarista e doutora em Engenharia Ambiental, professora do curso técnico subsequente em Saneamento do Câmpus Florianópolis, e o coordenador do curso superior de tecnologia em Gestão Ambiental do Câmpus Garopaba, professor engenheiro ambiental Juliano da Cunha Gomes, para explicar o que é reciclagem e reaproveitamento, por que os índices de reciclagem no Brasil são tão baixos e o que podemos fazer para melhorá-los.
Também conversamos com a professora de Administração do Câmpus Garopaba e mestre em Administração Rafaela Escobar Bürger para falar sobre iniciativas empreendedoras envolvendo a reciclagem e mostramos ainda alguns exemplos desenvolvidos no curso superior de tecnologia em Gestão Ambiental do Câmpus Garopaba, que usam a tecnologia para transformar realidades e promover a educação ambiental.
Vamos abordar as seguintes questões:
- - Qual a diferença entre reutilização e reciclagem?
- - Que tipo de produto pode ser reciclado?
- - Qual a destinação correta para a matéria orgânica?
- - O que é logística reversa?
- - Por que os percentuais de reciclagem no Brasil são tão baixos?
- - Investir em reciclagem pode ser um bom negócio?
- - É possível aliar a preservação ambiental ao desenvolvimento econômico?
- - Como a reciclagem pode garantir empregos?
- - Como o cidadão pode contribuir para diminuir o problema dos resíduos?
Qual a diferença entre reutilização e reciclagem?
O coordenador do curso superior de tecnologia em Gestão Ambiental do Câmpus Garopaba, Juliano da Cunha Gomes, explica que reutilização é a continuação do uso de um produto, seja na mesma função ou não. Já a reciclagem é a transformação física e/ou química de um material descartado, com o intuito de se obter uma matéria-prima ou um novo produto.
Que tipo de produto pode ser reciclado?
Os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) podem ser divididos em recicláveis secos como papéis, plásticos, metais, vidro, entre outros; e resíduos úmidos, como restos de alimentos e podas de árvores. Há ainda os rejeitos, materiais que não podem ser reciclados ou reutilizados, e resíduos tóxicos, que devem ser descartados de forma apropriada de acordo com a legislação específica.
De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), o Brasil recicla 1,07 milhão de toneladas ao ano de resíduos secos e 0,27 milhão de toneladas de resíduos úmidos, que são transformados em adubo orgânico por meio do processo da compostagem.
Segundo a professora Elivete Prim, do Câmpus Florianópolis, alumínio é o material mais reciclável no Brasil e em nível mundial devido à melhor reciclabilidade: não tem resíduos e o material reciclado é mais próximo da matéria-prima original. Atualmente, mais de 97% das latas de alumínio são recicladas no Brasil. Em segundo lugar está o papel (66,9%), aço (47,1%), caixas de leite longa vida (38%), vidro (25,8%) e plástico (23,1%), segundo o Cempre – Compromisso Empresarial para Reciclagem.
Qual a destinação correta para a matéria orgânica?
De todo o RSU produzido no Brasil, 51% é de matéria orgânica, porém, somente 3% desse total é reciclado por meio da compostagem. “Imagina esse resíduo todo sendo transformado em adubo orgânico e não indo para o aterro sanitário. Assim, um aterro sanitário que teria 25 anos de vida útil, se 50% dos resíduos que vão para o aterro fossem retirados para um pátio de compostagem, esse aterro sanitário iria durar 50 anos”, explica a professora Elivete sobre a importância de reciclar também o material orgânico.
A decomposição de matéria orgânica resulta na emissão de gás metano. Os aterros sanitários queimam o metano e transformam em gás carbônico, que é 21 vezes menos poluente. Porém, já há aterros de médio e grande porte que utilizam esse metano para produção de energia elétrica. Já o adubo orgânico resultante da compostagem pode ser usado na produção de alimentos e recuperação de áreas degradadas.
O que é logística reversa?
A logística reversa é o processo de retorno de um resíduo para o fabricante para que ele incorpore esse resíduo no ciclo de vida para o seu produto. No Brasil, existem alguns resíduos que são obrigatórios de se fazer logística reversa, como por exemplo pilhas e baterias, pneus, embalagens de agrotóxicos, lâmpadas fluorescentes e produtos eletroeletrônicos e seus componentes.
Essa logística reversa pode ser realizada pela própria empresa ou em parceria com o setor público. “O consumidor precisa entender que, ele tendo um resíduo com logística reversa, ele não pode descartar no lixo comum. Ele precisa separar esse material e entregar onde foi comprado ou em local adequado”, destaca o professor Juliano Gomes.
Por que os percentuais de reciclagem no Brasil são tão baixos?
Atualmente, apenas cerca de 3% dos Resíduos Sólidos Urbanos são reciclados no Brasil, um número bem abaixo dos campeões mundiais da reciclagem: Alemanha (60%), Coreia do Sul (59%), Áustria e Eslovênia (58%). Em se tratando somente de resíduos secos, o percentual é de 5,3%.
Segundo a professora Elivete, trata-se de uma questão política, social e ambiental. “Para se ter uma ideia, apenas 22 milhões de habitantes do Brasil são atendidos pela coleta seletiva. Então, temos um retorno da gestão de resíduos muito baixo porque reciclar, é preciso coletar”, afirma a professora.
Elivete explica que a Lei 12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos Sólidos é a principal regulamentação do setor, que tramitou no Congresso Nacional por 20 anos e trata de diversos tipos de resíduos, menos o radioativo, que tem uma legislação específica. “Acho que a lei está bem escrita, o problema é colocar em prática”, destaca. Por exemplo, a lei determina que os municípios criem seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos e dá a possibilidade de municípios menores se organizarem em sistema de consórcio intermunicipal para destinação de resíduos e construção de aterros sanitários.
Porém, não são todos os municípios que seguem a orientação. Florianópolis pode ser considerada um bom exemplo: quase 100% da população é atendida com coleta seletiva e ainda há a Lei da Compostagem, publicada em 2019, que regulamenta o recolhimento dos resíduos orgânicos no município. Do mesmo modo, Santa Catarina está na frente, pois foi o primeiro estado a eliminar os lixões antes de 2014, como determinou a legislação publicada em 2010, graças a uma iniciativa do Ministério Público que fiscalizou e orientou os municípios para que pudessem transformar seus lixões em aterros controlados.
Investir em reciclagem pode ser um bom negócio?
Existem várias maneiras de se realizar a reciclagem e reutilização de materiais das mais diversas origens. Veja o vídeo em que o professor do CST em Gestão Ambiental Juliano da Cunha Gomes e a professora de Empreendedorismo do Câmpus Garopaba Rafaela Escobar Bürger explicam como é possível desenvolver um negócio tendo os resíduos sólidos como matéria-prima, gerando empregos e o desenvolvimento social:
É possível aliar a preservação ambiental ao desenvolvimento econômico?
Segundo o professor Juliano Gomes é possível a sociedade se desenvolver economicamente, socialmente e promovendo a preservação ambiental. “Esse é o conceito de desenvolvimento sustentável, onde a economia cresce com respeito ao meio ambiente, aos processos. Então, o exemplo dos resíduos, da separação adequada, da reciclagem, já é uma ação para que se cresça com sustentabilidade”, completa.
No próprio Câmpus Garopaba, são desenvolvidos projetos que visam aliar a preservação ambiental ao desenvolvimento econômico. É o caso dos projetos Bitucas de Cigarro e Artesanato Sustentável e Repropositar – coleta de lixo eletrônico, que fazem parte do Hotel Tecnológico do Câmpus Garopaba.
A aluna do CST em Gestão Ambiental, Fernanda Martins, já trabalhava com a economia solidária quando conheceu uma empresa de São Paulo que transforma bitucas de cigarro em uma massa celulósica que pode ser moldada e transformada em novos objetos. A ideia é transformar os resíduos em souvenires com temas ligados ao turismo local, além de promover a coleta de bitucas nas praias e na cidade. O projeto está em fase de testes, inclusive com o desenvolvimento de uma cola orgânica, à base de tapioca, que será utilizada na confecção das peças. Segundo Fernanda, o projeto visa promover uma fonte de renda para mulheres em situação de vulnerabilidade social.
Já o projeto Repropositar está coletando resíduos eletrônicos em Garopaba e região. Os estudantes que participam do projeto também promovem palestras de conscientização e educação ambiental em escolas. Saiba mais sobre o projeto no Instagram da Repropositar.
Outros dois projetos estão relacionados à reciclagem de resíduos orgânicos (úmidos), em duas propostas diferentes. O reator biológico giratório foi desenvolvido a partir de um projeto de pesquisa e tem como objetivo diminuir o tempo para compostagem de resíduos orgânicos, bem como o espaço destinado à compostagem.
Já a Associação Amorosa foi criada por um grupo de amigos, alguns deles estudantes do IFSC, que realizam a coleta de resíduos e distribuição de adubo – substrato resultante da compostagem, na Praia do Rosa e outras localidades de Garopaba.
Saiba mais sobre esses projetos no vídeo:
Como a reciclagem pode garantir empregos?
Além de alguns exemplos já citados, em que a reciclagem pode ser oportunidade de negócios e empregar pessoas nas mais diferentes atividades, do artesanato à compostagem, ela também é geradora de renda para quem trabalha com a coleta.
A Lei 12.305/2010 regulamentou a profissão de catador de materiais recicláveis, indicando as condições mínimas de trabalho a serem oferecidas a esses profissionais. A professora Elivete também cita Florianópolis como exemplo nessa área: a maioria dos catadores já não está mais nas ruas, mas trabalham nos galpões de separação da prefeitura. O material enfardado é vendido a atravessadores que fazem o transporte para a indústria.
Porém, de acordo com a professora Elivete, essa não é a realidade da maioria dos municípios: “Falta incentivo e entendimento dos nossos governantes de que a gente precisa mudar essa estrutura. A lei tem entre suas metas acabar com os lixões. Logo após, é implantar a compostagem nos municípios. Florianópolis está avançando muito nisso, tanto compostagem quanto nas hortas urbanas”.
Segundo a Lei 12.305/2010, após a coleta, os resíduos têm dois caminhos: a destinação final e a disposição final. A destinação seria encaminhar para uma estação de triagem e reciclagem, inclusive o orgânico. A disposição acontece quando não é possível reciclar: é gerado o rejeito, que vai para o aterro sanitário ou o aterro controlado, que são as duas técnicas aceitas no Brasil. Essa seria a destinação correta, porém, ainda não é uma realidade em todos os locais: existem ainda mais de 3 mil lixões em nosso país.
Como o cidadão pode contribuir para diminuir o problema dos resíduos?
O professor Juliano Gomes explica que a população pode contribuir para a melhora dos índices de material reciclável separando os materiais basicamente em três tipos: matéria orgânica, que é o reciclável úmido; o reciclável seco, que são papeis, plásticos, metais, e aquilo que é rejeito, que não tem como reciclar, e que deve ser depositado em aterros sanitários.
A professora Elivete orienta a população a encaminhar o resíduo separado e o mais limpo possível, para facilitar o trabalho dos catadores e separadores e evitar o aparecimento de vetores, como ratos e baratas, nas instalações de triagem.
Além de uma estrutura de coleta e destinação de resíduos, é preciso que os municípios invistam em educação ambiental, para que os cidadãos auxiliem na separação e coleta adequadas dos materiais.
A educação ambiental pode ser realizada de duas maneiras: a formal, em sala de aula, e a não formal nas empresas. Segundo o professor Juliano, os profissionais formados no IFSC em cursos que atuam com a temática, como o CST em Gestão Ambiental, podem estar aptos a elaborar planos de gestão e de educação ambiental.
-> Para saber mais sobre como cada tipo de material é reciclado, acesse a página do Cempre – Compromisso Empresarial para Reciclagem.
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