LGBTQIA+: Vamos falar sobre isso?

BLOG DO IFSC Data de Publicação: 01 jul 2020 13:53 Data de Atualização: 16 mai 2024 10:52

Neste domingo (28), foi celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. Sim, há muito tempo a sigla GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) cresceu e incorporou várias letrinhas e hoje está assim. Entenda o que cada uma significa:

E os outros termos?

Tem outros termos que não entram com as iniciais nesta sigla, mas não deixam de ser contemplados no +. Destacamos mais alguns, além de detalhar um pouco mais alguns dos termos citados na imagem acima:

- LGBA: são identidades sexuais, com quem você se relaciona sexualmente ou não;
- TQ: são identidades de gênero. Os ‘T’s são três: travestis, transexuais e transgêneros, sendo que essa diferença de identificação é apenas política e não diz respeito a mudanças físicas. Pessoas ‘Q’ são trans. E tanto pessoas “T” e “Q” podem ser binárias ou não binárias e podem ser L, G, B ou P.
- I: são pessoas que nasceram com órgãos genitais não identificados na binariedade “pênis/vagina”. Essas pessoas podem ter ambos os genitais ou não. Como essas pessoas costumam ser tratadas por um gênero desde o nascimento, também podem mudar essa identidade de gênero ao longo da vida e ser também trans. A Organização Mundial de Saúde estima que 1% da população mundial é intersexo.
- Cis/cisgênero: pessoa que entende que sua identidade de gênero é a mesma de seu gênero designado ao nascer. Cis é o contrário de trans. Do mesmo jeito que não entra mais o "S" do simpatizante na sigla, não entram também os cis.
- Transgênero: é o contrário de cis. Por isso, podem ser usada as siglas AFAB (assigned female at born) e AMAB (assigned male at born) por pessoas trans para identificar o gênero do seu nascimento. “Queer” era um xingamento usado contra pessoas trans nos Estados Unidos e, por isso, foi apropriada por grupos LGBTQIA+ para, ao invés de ser vergonha, ser orgulho.
- Panssexual: diz-se daquela/e que sente atração sexual por pessoas, independente do gênero. Existe um movimento para que o Pan seja representado na sigla, assim como o Q de Queer já aparece.

A UFSC possui um Glossário da Diversidade com diversos outros termos que vale ser consultado.

Para tratar deste tema, no post desta semana, vamos dar voz e espaço para quem entende dessa luta ainda tão necessária por estudar o assunto ou por ter enfrentado seus próprios medos e preconceitos.

Como surgiu o Dia do Orgulho LGBTQIA+?

As suas redes sociais no domingo, dia 28 de junho, foram dominadas por posts enaltecendo esse dia? Esperamos que sim, pois é uma data importante nesta luta contra o preconceito. 

O Dia Internacional do orgulho LBGTQIA+ é celebrado anualmente em 28 de junho em todo o mundo e relembra a rebelião em um bar chamado Stonewall, nos Estados Unidos. Nesse dia, em 1969, travestis, mulheres e homens transexuais, lésbicas, gays, bissexuais se levantaram contra a opressão cotidianamente imposta por um estado opressor. Segundo o presidente do Comitê de Direitos Humanos do IFSC e professor do Câmpus São Carlos, Felipe José Schmidt:

Stonewall não foi apenas um bar, foi um lugar de refúgio, um espaço para que LGBTQI+ pudessem viver sua afetividade e que se transformou também em um lugar de luta como em vários outros países, onde as orientações sexuais e identidades de gênero eram consideradas crime.

Aliás, você sabia que o IFSC tem um Comitê de Direitos Humanos?

O IFSC criou esse grupo de trabalho em 2018 como forma de promover ações que contribuam para a promoção da igualdade de oportunidades e da equidade, na efetivação da democracia, do desenvolvimento e da justiça social, e na consolidação de uma cultura de paz e não violência, enfrentando os estereótipos de gênero, étnico-racial, religião, origem, idade, situação social, econômica e cultural, orientação sexual e identidade de gênero (LGBT). O objetivo é combater a discriminação e a intolerância com grupos em situação de vulnerabilidade e promover o respeito à diferença e à diversidade.

Mas vamos parar de falar da gente e dar espaço para nossos servidores.

Com a palavra, nossos servidores!

Leia este relato do presidente do Comitê, o professor Felipe José Schmidt do Câmpus São Carlos:

Acredito que a hierarquização de tipos humanos é um projeto de sociedade elaborado e fortalecido por grupos como garantia de seus privilégios. No Brasil, governado pela extrema direita, esses clãs têm gênero, cor, orientação sexual, classe e ocupam espaços privilegiados de fala. Pautam-se no mito heteronormativo do casal Adão e Eva e, consequentemente, negam a Ciência para a compreensão cósmica, psicossocial e antropológica.

Por ser homem branco com terceiro grau de escolaridade e concursado, tenho vários privilégios dentro desta atual conjuntura fortemente marcada pelo machismo, racismo, homofobia e pela exclusão classista. Por minha orientação sexual ser homoafetiva e por ter jeito afeminado, em minha história, e até hoje, vivencio várias situações de exclusão dentro e fora do IFSC. Assim, tenho ocupado meu lugar de fala militando por várias causas e direitos, por um mundo onde “sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”, como pensou Rosa Luxemburgo.

No IFSC, minha Stonewall, ou seja, meu lugar de refúgio e luta contra as opressões do Estado e da sociedade é o Comitê de Direitos Humanos (DH). Nele estamos construindo uma proposta política de DH para a mobilização da comunidade acadêmica. Enquanto grupo com muitas representatividades, confluímos na luta pela democracia e pela valorização das diferentes identificações sociais frente a tantas restrições impostas pelo conservadorismo refletido em alguns processos institucionais e na postura de membros da comunidade que valorizam a concepção de humanidade que exclui ou inclui as minorias de maneiras subalternas.

Conheça um pouco da história do professor Lino Gabriel Nascimento dos Santos do Câmpus Jaraguá do Sul-Centro:

 

A professora do Câmpus Florianópolis, Patricia Rosa, também nos mandou um depoimento sobre o tema:

Considero de extrema importância haver uma data de orgulho LGBTQI+. Não simplesmente porque haveria algo em especial em ser alguém que se enquadre em qualquer uma das letras dessa sigla, mas porque tenho orgulho de ser quem sou. Uma pessoa, com minhas singularidades como qualquer outra, mas que tem também muitas semelhanças com qualquer outro/a. Porque sou uma pessoa que merece respeito como qualquer outra, heterossexual , L, G, B, T, Q, I ou + qualquer modo como nos sintamos completos. Infelizmente temos que gritar esse orgulho de ser quem somos, porque não nos enquadramos no que alguém disse que era “normal” e por isso, alguém disse que somos “anormais”. Mas o que é  “normal”, é ser feliz, é ser completo.  Então, damos a oportunidade ao mundo de ver a “lindeza” que é ser quem se é, de modo a dar a chance de cada um exercitar o respeito por nós e por si mesmo, porque o que é horrível mesmo é ter preconceito, é odiar, é desrespeitar. Na verdade, para mim, o dia do orgulho LGBTQI+ é o dia em que somos extremamente generosxs com todas as outras pessoas que têm problema com a sigla (ou com quem a representa), porque é o dia em que damos a chance para que cada um/uma possa rever a si mesmo, tornando-se melhor!

E ser melhor é entender, além de outras tantas coisas, que os problemas com que temos que nos preocupar é com a Amazônia sendo devastada; com as pessoas que morrem esperando por uma vaga na UTI; com a situação horrível de pessoas que por puro egoísmo expõem a si mesmas ao risco da COVID-19, aumentando o risco para tantas outras que só têm se preocupado em cuidar dos que estão lutando pela vida; com a situação de uma quantidade absurda de pessoas que estão vivendo nas ruas; com o avanço sobre as terras e as vidas indígenas; com as mortes de  tantas pessoas negras no Brasil; com o ódio destilado nas redes sociais por meio de notícias falsas; com a ignorância medieval que tem colocado em xeque a ciência. E não, NÃO, porque AMAMOS alguém que tem o mesmo sexo que nós.

Educação e Diversidade

O IFSC, enquanto instituição de educação, tem como missão formar cidadãos e, nesse sentido, nos preocupamos muito que nesta cidadania esteja o respeito à diversidade. Sabemos que ainda precisamos avançar muito e nosso Comitê de Direitos Humanos busca trabalhar nesse sentido.

Temos algumas iniciativas que, ainda que pequenas, já são um passo para frente nesse caminho de inclusão. No Câmpus Canoinhas, temos um curso de especialização em Educação e Diversidade que começou em 2019 com 30 alunos inscritos. 

Apesar de não ter formado a primeira turma ainda, o coordenador da pós, o professor Vilson Cesar Schenato, nos contou que o curso já contribui para reflexões mais profundas sobre toda esta diversidade de sujeitos sociais presentes no espaço escolar, construindo conhecimentos que permitem qualificar a atuação docente na perspectiva cidadã, inclusiva e que seja capaz de (re)conhecer integralmente os diversos sujeitos sociais, enquanto sujeitos de direitos.

Veja o que ele nos escreveu sobre isso:

Os educadores em processo de formação pela Pós-Graduação Lato Sensu em Educação e Diversidade são capazes de promover a construção coletiva de saberes diversos, em que todos aprendem e são socializados no convívio com as diferenças. Neste sentido, a Pós contribui com a formação de formadores que entendam os estudantes como sujeitos autônomos, cidadãos ativos em potencial para a promoção da igualdade de direitos e o respeito à diversidade sociocultural, étnico-racial, etária e geracional, linguística, de gênero e orientação afetivo-sexual, do campo, (i)migrantes, e às pessoas com deficiência, portanto, têm contribuído para a qualificação de profissionais que atuam cotidianamente diante da diversidade, construindo conhecimentos acerca dos diferentes sujeitos sociais que compõem a escola, entendida enquanto espaço público, democrático e de desenvolvimento humano integral.

Como avançar?

No IFSC, desde 2010, já existe uma regulamentação do uso de nome social de travestis e transexuais na instituição, que foi atualizada em 2016. Em 2018, aliás, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) atualizou o formulário de preenchimento do currículo na Plataforma Lattes, permitindo aos usuários a identificação pelo nome social

O nome social é aquele pelo qual travestis, transgêneros ou transexuais optam por serem chamados e tratados em documentos internos da/na instituição, quando a pessoa não realizou a mudança documental do registro civil, uma vez que o nome de registro não reflete sua identidade de gênero. Ou seja, ele não é só o nome escolhido, mas também o documentado em diversos âmbitos, como contas bancárias, saúde, escolas etc. A identidade do nome social é vinculada à identidade civil original, incluída no CPF e registrada na Receita Federal, conforme IN RFB nº 1.718/2017.

Ter um Comitê de Direitos Humanos no IFSC é uma estratégia para pensar em políticas na instituição que colaborem para uma formação cidadã que considere a diversidade. Leiam o que a professora do Câmpus Gaspar e integrante do comitê, Giane Carvalho, nos escreveu sobre isso:

A importância de uma formação educativa para e pela diversidade se contempla na perspectiva de compreender que os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem constroem referências com base em suas vivências de classe, gênero, etnia, credo e múltiplas singularidades que são fruto dos processos de relações sociais, históricas, políticas, econômicas e culturais.

Nesse sentido, é importante a instituição observar que os educadores e educandos participam de um processo dialógico, como troca e construção de saberes, que podem contribuir para uma formação humana integral onde, além, dos aspectos de formação técnica também se considerem os aspectos de formação humana, voltada para os princípios da ética, da cidadania e da democracia. 

A sociedade passa por muitos desafios referentes à superação das desigualdades sociais estabelecidas por estruturas marcadas pelo racismo, machismo, LGBTfobia, intolerância religiosa, xenofobia, classismo, entre outras. E a instituição escolar com missão pautada nos princípios da formação cidadã também assume um papel importante no combate a todos os tipos de exclusões, opressões e violências.

Sendo assim, a educação voltada para a diversidade contribui para uma sociedade que torne a pauta dos Direitos Humanos um marco essencial para construir caminhos sólidos voltados para princípios e ações no campo da ética, da solidariedade, da equidade e da justiça social.

Um recado para os alunos

O professor Lino, do nosso Câmpus Jaraguá do Sul-Centro, gravou um recado especial para nossos estudantes:

 

Estamos num processo constante de aprendizado, mas queremos que você se sinta acolhido(a) aqui. Nossos câmpus possuem comissões locais que tratam da questão da diversidade. Entre em contato com elas!

Também existe um grupo no Whatsapp específico para alunos trans do IFSC. Se quiser participar, entre em contato com o nosso Comitê de Direitos Humanos pelo e-mail comite.direitos.humanos@ifsc.edu.br. Aliás, se não souber quem procurar no câmpus, pode falar com o pessoal do Comitê neste e-mail que eles irão ajudá-lo(a). 

Vale a pena ver de novo

Já produzimos aqui no IFSC conteúdos sobre este tema que achamos válido compartilhar novamente: 

Reportagem sobre Diversidade de Gênero:

Reportagem sobre o mês do orgulho LGTB:

Vejam esta arte que compartilhamos no nosso Facebook chamando a atenção para o fato de que cada indivíduo é único.

E, só para finalizar, queremos compartilhar um pequeno dicionário contra a homofobia do Instituto Free Free com coisas que você deve parar de dizer ou pode pedir para seus amigos e familiares pararem de falar.

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