BLOG DO IFSC Data de Publicação: 24 jun 2020 16:26 Data de Atualização: 24 jan 2023 11:23
Ok, a gente tá careca de ouvir falar em coronavírus, que, obviamente, é um vírus. Mas, em tempos de pandemia e com tanta gente falando de remédio, prevenção, doenças, tratamentos, você lembra mesmo o que são cada um desses “bichinhos” que causam boa parte dos males físicos do ser humano?
Se você prestou atenção na aula de biologia, vai lembrar que todos esses agentes microscópicos são classificados em uma grande categoria (os micro-organismos), mas são vários tipos diferentes. Se você já esqueceu dos detalhes porque achou que nunca mais ia ter que pensar sobre isso, a gente relembra pra você.
Quem nos explicou todas as informações abaixo que vamos compartilhar com vocês foi o professor de biologia Leandro Parussolo do Câmpus Florianópolis.
Os micro-organismos
Os micro-organismos (genericamente chamados de micróbios ou germes) são seres microscópicos (invisíveis ao olho nu) e existem na Terra há bilhões de anos, antes do surgimento das plantas e dos animais. Os micro-organismos são as menores formas de vida existentes e, coletivamente, constituem a maior parte da biomassa da Terra e executam muitas reações químicas essenciais para os organismos superiores (inclusive dentro de nós!). O meio em que vivemos está repleto de micro-organismos, pois esse é o grupo de seres vivos mais amplamente distribuído na natureza.
Embora os micro-organismos sejam antigos, a humanidade passou a maior parte de sua história sem fazer ideia que esses seres estavam entre nós. Faz só uns 300 anos, depois da invenção do microscópio, que a gente passou a saber que existiam mais coisas entre o céu e a terra do que julgavam os nossos olhos. E, ainda assim, só depois do século XX, com a possibilidade de análise de material genético, é que os “bichinhos” foram mais bem estudados e compreendidos.
Os principais grupos de micro-organismos são os vírus, bactérias, protozoários, algas e fungos.
Vírus
Diferentemente de todos os outros grupos de micro-organismos, os vírus são considerados formas particulares de vida, pois são seres acelulares (não apresentam organização celular) e dessa forma, são parasitas intracelulares obrigatórios, ou seja, necessitam de células hospedeiras para se reproduzirem. Segundo Parussolo, a célula invadida por um vírus passa a trabalhar quase exclusivamente na produção de novos vírus. Uma única partícula viral infectante é capaz de originar rapidamente centenas de novos vírus dentro da célula hospedeira.
A maioria dos vírus mede menos de 200nm (2x10-4 mm), podendo ser observados somente ao microscópio eletrônico. Os vírus de estrutura mais simples são constituídos pelo material genético (que pode ser DNA ou RNA) envolto por uma cápsula proteica (capsídeo). Certos tipos de vírus possuem um envelope lipoproteico que envolve a capsídeo. Os vírus HIV, Influenza (vírus da gripe) e o novo coronavírus são exemplos de vírus envelopados (e é por isso que água e sabão são eficientes contra o coronavírus, pois o sabão destrói essa capa de gordura que o faz aderir a outras células).
É muito comum ouvirmos que os vírus sofrem muitas modificações. Como isso acontece? Quando uma partícula viral invade a célula hospedeira, sua molécula de ácido nucleico é liberada e passa a comandar o metabolismo celular com a finalidade de aumentar o número de cópias do vírus. Como o processo de geração de cópias dos vírus ocorre de forma muito rápida, as chances de acontecerem erros (mutações), gerando novos tipos de vírus, são muito grandes. Além disso, os vírus que guardam suas informações genéticas em moléculas mais simples, denominadas RNA (caso do coronavírus e o vírus da gripe comum), estão ainda mais propensos a sofrer mutações. Essas mutações podem ser diversas e, inclusive, gerar uma proteína que os anticorpos não identificam como sendo um invasor ou pode modificar uma proteína que é alvo de uma terapia, e o antiviral passar a não fazer mais efeito. Ou seja: não é mole, não.
Bactérias
As bactérias são seres procariontes unicelulares, ou seja, apresentam células mais simples que as de todos os seres vivos eucariontes, pois não apresentam núcleo nem compartimentos membranosos no citoplasma. A maioria das bactérias medem entre 0,5 e 5µm e podem ser encontradas em grande diversidade de ambientes.
Existem milhares de espécies de bactérias, que diferem quanto ao metabolismo, ao hábitat e à forma das células. As células bacterianas podem apresentar forma esférica (coco), de bastonete (bacilo), espiralada (espirilo), de vírgula (vibrião), bem como agrupamentos celulares, tais como cocos reunidos em forma de cacho de uvas (estafilococos) e cocos alinhados em cadeias que lembram colares (estreptococos). As formas das células e/ou arranjos celulares são muitas vezes utilizadas na classificação biológica, por exemplo os gêneros Staphylococcus e Streptococcus, bem como são utilizados popularmente para se referir a algumas bactérias, como o bacilo da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis).
As bactérias se reproduzem de forma assexuada por bipartição, uma célula divide-se em duas geneticamente iguais e, por esse processo, em algumas horas, sob condições ambientais adequadas, uma única bactéria pode dar origem a milhares de descendentes geneticamente idênticos entre si (clones). A parte boa é que, ao contrário do vírus, temos muitas bactérias “do bem”, que auxiliam a vida do planeta, das pessoas e dos animais. As bactérias da nossa microbiota intestinal, por exemplo, nos auxiliam na digestão e nos protegem contra micro-organismos patogênicos por produzir substâncias que inibem seu crescimento ou por competição de nutrientes.
Um alerta dado pelo professor Parussolo: em se tratando de bactérias patogênicas, um dos grandes problemas da atualidade é a resistência bacteriana aos antibióticos. Estudos recentes têm demonstrado que em 2050, se não forem intensificadas as medidas de controle da resistência, as infecções bacterianas serão responsáveis por milhões de mortes no mundo.
A resistência bacteriana é um fenômeno de evolução natural, que ocorre quando as bactérias passam por mutações e tornam-se resistentes aos medicamentos usados para tratar as infecções. Dessa forma, os tratamentos disponíveis começam a se tornar ineficazes, as infecções persistem e podem se espalhar para outras pessoas. Um dos principais fatores associados à resistência bacteriana é o uso indiscriminado de antibióticos por instituições de saúde, pela população e em práticas agropecuárias, pois pode ocorrer um processo de “seleção”: enquanto as bactérias “sensíveis” são eliminadas a partir desse contato, as “resistentes” permanecem e se multiplicam.
Nas últimas décadas, o mundo tem testemunhado a grande proliferação de bactérias patogênicas resistentes a múltiplos antibióticos, denominadas superbactérias, as quais têm surgido a partir de diversas espécies ou grupos de micro-organismos, alguns dos quais podem ser encontrados normalmente em nosso corpo (na pele e nos intestinos, por exemplo).
Fungos
Quem gosta de shitake, champignon, shimeji, já sabe: cogumelos são as frutificações de fungos. Os fungos são seres macroscópicos ou microscópicos, geralmente pluricelulares, eucariotas (com um núcleo celular) e heterótrofos (não produzem seu próprio alimento, precisam “comer” outro ser). Se cogumelos são gostosos e saudáveis, por outro lado, muitos fungos podem causar doenças a animais e plantas. Quem aí já teve frieira ou micose (também conhecida como “me coce” - hahaha #sqn), sabe bem do que estamos falando.
Protozoários
Os protozoários são geralmente unicelulares, eucariotas. Uma das principais diferenças entre protozoários e fungos é que, em ambientes líquidos, eles conseguem se locomover, utilizando cílios ou flagelos. Existem vários protozoários causadores de doenças em humanos, como a amebíase, doença de Chagas, malária, leishmaniose e toxoplasmose.
Ou seja, existe mais de um tipo de micro-organismo e eles têm formas de desenvolvimento e sobrevivência (nos nossos corpos, inclusive) distintos. É por isso também que os tratamentos e as formas de prevenção são diferentes.
Devo me preocupar?
Conviver com os micro-organismos faz parte da nossa realidade e isso faz com que a gente adquira imunidade. O nosso sistema imunológico trabalha pra isso. Só que quando a gente tem contato com altas cargas virais, a gente pode adoecer.
Para evitar o adoecimento, o importante é manter hábitos de higiene como a lavagem de mãos, a etiqueta respiratória (que é cobrir a boca quando tossir e espirrar e usar máscaras), além de evitar ambientes aglomerados onde a disseminação dos micro-organismos é maior. Vejam o que a epidemiologista e professora do curso de Enfermagem do IFSC, Vanessa Jardim, fala sobre isso:
Mas e o coronavírus?
A preocupação com o coronavírus é que os cientistas ainda não conseguiram definir qual é a resposta imunitária no padrão populacional ao novo coronavírus. Como a disseminação desse vírus é muito rápida, aí entra mais um problema: não dá pra simplesmente expor toda a população ao vírus porque nosso Sistema de Saúde não daria conta de tratar todos que precisassem.
Em tempos de pandemia, é importante destacar que, para o novo coronavírus, segue a orientação do distanciamento social, de lavar bem as mãos (e as compras do mercado, né) com água e sabão ou usar o álcool 70 e de usar máscaras.
Mas lembre-se que isso serve apenas para os vírus com camada externa lipídica. Alguns micro-organismos podem seguir existindo e tudo bem. É justamente a convivência com esses micro-organismos que faz nosso corpo desenvolver defesas naturais e não permitir que a gente adoeça por qualquer sujeirinha.
Portanto, cuide-se ainda mais neste momento por causa do coronavírus!
Esperamos que o post tenha sido esclarecedor, mas, se tiver mais dúvidas, mande pra gente pelo e-mail blog@ifsc.edu.br.
Assine o blog
Se você quiser receber nossos posts por e-mail sempre que publicarmos, deixe seu e-mail no nosso cadastro.