O que é o Qualis Capes?

BLOG DO IFSC Data de Publicação: 26 jul 2023 10:48 Data de Atualização: 09 ago 2023 09:34

Uma das tarefas mais importantes do trabalho científico é compartilhar e validar os resultados obtidos, fazendo o conhecimento circular e tornando-o disponível para a sociedade. Entre as maneiras de promover essa circulação de conhecimento, uma das mais importantes é a publicação em periódicos científicos. O processo de submissão, avaliação e aceite para publicação envolve uma série de análises feitas por cientistas daquela área de conhecimento, o que garante e valida a qualidade e a relevância dos achados compartilhados dessa forma. 

-> Pesquisa em periódicos on-line: a gente traduz pra vocês!

Na hora de escolher um periódico para submeter um trabalho, você provavelmente já ouviu a recomendação de priorizar revistas com “Qualis bom”. Publicar num periódico que esteja nos estratos A do Qualis é o sonho de todo pesquisador. Mas por que isso ocorre? Ou melhor: esse critério deve realmente ser priorizado?

Para te ajudar nessa reflexão, vamos explicar neste post o que é o tal Qualis Capes

⚠ Spoiler: ao terminar de ler, você vai entender por que o Qualis não deve ser o único fator de escolha na hora de submeter um artigo.

O que é o Qualis?

Conforme consta no site da Capes - que é a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior, um órgão do Ministério da Educação que atua na expansão e melhoria da pós-graduação no Brasil: 

O Qualis Periódicos é uma das ferramentas utilizadas para a avaliação dos programas de pós-graduação no Brasil. Tem como função auxiliar os comitês de avaliação no processo de análise e de qualificação da produção bibliográfica dos docentes e discentes dos programas de pós-graduação credenciados pela CAPES. Ao lado do sistema de classificação de capítulos e livros, o Qualis Periódicos é um dos instrumentos fundamentais para a avaliação do quesito produção intelectual, agregando o aspecto quantitativo ao qualitativo.

-> Entenda também neste artigo o que não é Qualis

Conversamos com o pedagogo Valdeci Reis, que atuou na Coordenadoria de Publicações do IFSC até o início deste ano e também foi editor-chefe da Caminho Aberto – Revista de Extensão do IFSC. Ele explicou que, embora os periódicos situados em estratos mais elevados do Qualis sejam considerados superiores, esse não deve ser o principal foco do pesquisador ao preparar sua submissão:

“Um primeiro ponto importante que deve ser esclarecido é que, embora o Qualis seja um selo de qualidade muito importante e visado pela comunidade acadêmica, ele se refere a uma avaliação da pós-graduação.”

Ou seja: quando uma revista recebe o Qualis A1, isso não significa que ela seja uma revista boa “em si”. Mas sim que uma série de pesquisadores vinculados a programas de pós-graduação bem avaliados tiveram seus trabalhos publicados nela, o que acaba por situá-la nesse estrato elevado. 

O processo é complexo. A cada quatro anos, a Capes realiza a chamada “coleta Capes”. Essa “coleta” consiste na organização de informações de todos os programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), para avaliação de qualidade. Entre essas informações, algumas das mais importantes são aquelas ligadas à produção científica – o que inclui as publicações de professores e alunos de pós-graduação em periódicos científicos.

-> Qual a diferença entre pós-graduação lato sensu e stricto sensu?

Nos últimos anos houve várias mudanças na definição desses estratos. A classificação mais recente inclui nove níveis: A1, A2, A3, A4, B1, B2, B3, B4 e C. A forma como se dá a atribuição está explicada neste documento da Capes.

-> Veja a metodologia do Qualis de acordo com a Capes

Para que um periódico tenha Qualis, portanto, é preciso que os programas de pós-graduação de origem dos autores que publicaram nesse periódico tenham enviado as informações à Capes, no momento de coleta de dados para a avaliação dos programas. Os critérios de avaliação de cada área podem variar um pouco, mas em geral o que se leva em conta na atribuição do estrato vai desde a vinculação institucional dos pesquisadores autores até aspectos editoriais – como a manutenção da periodicidade. 

Um ponto muito importante é que não haja endogenia – ou seja, que o periódico daquela instituição publique uma quantidade maior de artigos de autores de outras instituições, e não da própria instituição onde está o programa de pós-graduação responsável pela revista. Também são levados em conta aspectos como número de citações e indexação em bases de dados científicos. Tudo isso parece muito burocrático, mas a finalidade é sempre promover a circulação do conhecimento científico.

Com isso, dá para entender que uma revista com Qualis A1 não necessariamente vai ficar sempre nesse estrato. Entre uma coleta e outra, há possibilidade de que a diversidade de pesquisadores publicados diminua, ou que a equipe editorial opte por priorizar publicações de autores do próprio programa, por algum motivo. A estratificação sempre vai ser resultado do cenário informado na coleta.

Por que o método Qualis pode ser problemático? 

O pedagogo Valdeci Reis observa que a não compreensão de que o Qualis é uma avaliação atrelada aos programas de pós-graduação pode resultar em equívocos: 

“O Qualis é uma avaliação que acontece exclusivamente no âmbito da pós-graduação. Mas há um leque de revistas científicas no país que têm outro foco, não estando vinculadas a programas de pós-graduação, mas que igualmente cumprem uma função social muito importante na difusão do conhecimento científico e na formação de jovens pesquisadores. Essas revistas vão ter um mau desempenho no Qualis porque elas não estão vinculadas a nenhum programa de pós-graduação”.

Essa problemática pode ser observada nas revistas de Extensão, que são essencialmente transdisciplinares, e em publicações como a Revista Técnico-Científica do IFSC, que é voltada ao público de jovens pesquisadores. 

“Essa é uma reflexão institucional que precisa ser feita. Vamos priorizar as publicações de pesquisadores de pós-graduação nas nossas revistas, visando o Qualis?” 

Em publicações exclusivas para pesquisadores de mestrado e doutorado, os jovens pesquisadores de cursos técnicos ou de graduação, além dos extensionistas, não teriam espaço.

Por tudo isso, é bom ter clareza de que, sim, é interessante “emplacar” publicações em periódicos com bom Qualis, mas isso não quer dizer necessariamente que eles sejam a revista mais adequada para o seu artigo. Uma dica é buscar periódicos de outras regiões do país e que tenham alinhamento com a sua temática de estudo – independentemente de Qualis – e que também sejam indexados em bases de dados científicos. Considerar essas características ao enviar uma submissão podem aumentar bastante a chance de aceite de seu artigo – que vai contar pontos no seu currículo, contribuir para sua formação e fazer o conhecimento circular efetivamente.

-> Saiba mais sobre o Qualis Capes na Plataforma Sucupira
-> Leia mais sobre os critérios de atribuição do Qualis Capes

E aí? Ficou mais claro agora o que é essa tal de Qualis?

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