IFSC VERIFICA Data de Publicação: 20 out 2020 13:42 Data de Atualização: 20 mai 2024 15:50
A pandemia de Covid-19 mobiliza o mundo inteiro para o combate a esta doença. Porém, profissionais da saúde alertam para a necessidade de se manter os cuidados com outros problemas de saúde que podem se agravar caso não recebam a atenção adequada. Como exemplo, vamos falar no post da semana sobre o câncer de mama, em destaque devido à campanha Outubro Rosa, de prevenção e detecção precoce desse tipo de neoplasia.
A preocupação com a baixa procura por diagnóstico e tratamento já se reflete nas estatísticas: uma pesquisa do Ibope Inteligência, a pedido da farmacêutica Pfizer, entrevistou 1,4 mil mulheres com 20 anos ou mais, de 11 a 20 de setembro, e concluiu que 62% deixou de ir ao ginecologista ou mastologista durante a pandemia (desde março de 2020). Entre as mulheres com mais de 60 anos, 73% deixaram de fazer exames de rotina. Já nos primeiros sete meses de 2020, houve uma redução de 45% no número de mamografias pelo Sistema Único de Saúde (SUS), na divulgação da Sociedade Brasileira de Mastologia.
A diminuição de consultas é preocupação do médico oncologista Leopoldo Back, que atua no Centro de Pesquisas Oncológicas (Cepon), em Florianópolis. “O fato de existir uma pandemia de Covid-19 não abole, não faz desaparecer as outras doenças. A percepção que a gente tem é que essas outras doenças podem ficar piores por falta de acompanhamento e tratamento”, alerta o médico.
O câncer de mama, especificamente, é o câncer mais prevalente em todas as regiões do Brasil, sem considerar o câncer de pele não melanoma. O Ministério da Saúde estima que 66.280 casos novos de câncer de mama para cada ano do triênio 2020-2022. Esse valor corresponde a um risco estimado de 61,61 casos novos a cada 100 mil mulheres. Em Santa Catarina, a estimativa é maior que a média nacional, 75,24 casos para cada 100 mil habitantes por ano.
Para falar sobre prevenção e tratamento durante a pandemia, vamos abordar neste post:
- Por que é importante manter os exames de rotina
- Mamografia ou autoexame, qual a melhor opção?
- Exames de rastreamento para outros tipos mais comuns de câncer
- Estou com Covid-19. Devo interromper o tratamento contra o câncer?
Por que é importante manter os exames de rotina
O médico oncologista Leopoldo Back observa que o número de pessoas que comparecem a consultas médicas de oncologia tem caído sensivelmente durante a pandemia, por diversos motivos: um deles é o medo de comparecer a clínicas ou no ambiente hospitalar e contrair a Covid-19.
Também observa que, no serviço público, onde atua, houve uma restrição ao número de consultas, para evitar a contaminação, o que fez alguns pacientes perderem consultas e precisarem remarcar. Além disso, o encaminhamento de pacientes oncológicos é feito pelo Sistema de Regulação da Secretaria de Estado da Saúde, que tem reduzido consideravelmente o encaminhamento de pacientes novos.
Segundo o médico, deixar de ir às consultas e exames por medo de contrair o vírus Sars-Cov-2 não é a melhor conduta, tanto para quem já está em tratamento quanto por quem precisa fazer o rastreamento. “Isso é muito preocupante. O paciente está sem atendimento e o câncer não para, ele vai continuar crescendo. Com certeza esses pacientes vão chegar em um estado pior para a gente”, afirma.
Mamografia é mais eficaz que o autoexame
Sobre o câncer de mama, especificamente, Back lembra que, quando descoberto no início, a chance de cura é bastante alta (95%, segundo a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama – Femama), assim como evita a necessidade de realizar tratamentos mais agressivos. Sobre o autoexame das mamas, que pode ser realizado em casa, o médico faz um alerta: “o autoexame ajuda, mas o nódulo só é apalpado quando ele tem mais de um centímetro. Essa detecção é ainda mais prejudicada em mulheres com mama muito volumosa ou mulheres jovens, com a mama mais densa”.
Por isso, é importante que as mulheres mantenham seus exames em dia, realizando mamografias anuais a partir dos 40 anos ou conforme indicação do seu médico, se houver histórico da doença na família ou outros fatores de risco.
Veja na campanha da Femama para o Outubro Rosa mais detalhes sobre como realizar os exames, direitos dos pacientes, fatores de risco, prevenção e tratamento.
Outros exames importantes
Alguns dos exames de detecção precoce de câncer mais indicados são: mama (mamografia), colo de útero (papanicolau), colorretal (colonoscopia) e pulmão (raio X do tórax para pacientes fumantes), que detectam alguns dos tipos de câncer mais prevalentes na população brasileira (veja quadro abaixo):
Distribuição proporcional dos 10 tipos de câncer mais incidentes estimados para 2020 por sexo, exceto pele não melanoma. Fonte: Instituto Nacional do Câncer (Inca)
O médico oncologista Leopoldo Back lembra também que em Florianópolis é alta a incidência de mulheres com câncer de tireoide, por isso é recomendado o exame de ultrassom para quem tem histórico familiar da doença ou alteração prévia na tireoide.
Sobre a alta incidência de câncer de pulmão na população catarinense, alerta que “essa é uma doença que é prevenível, basta não fumar. Quem é fumante deve se cuidar, realizar periodicamente uma radiografia de tórax e procurar o médico em caso de sintomas. O ideal mesmo é parar de fumar”.
Distribuição proporcional dos 10 tipos de câncer mais incidentes estimados para 2020 por sexo, exceto pele não melanoma. Fonte: Instituto Nacional do Câncer (Inca)
Back lembra que realizar esses exames não representa riscos de contrair o coronavírus, pois as clínicas e hospitais estão seguindo protocolos de segurança para realização de consultas e demais procedimentos. “O câncer tem que ser encarado com muita seriedade pelas pessoas, pois é a segunda doença com mais mortalidade no país, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares”, alerta.
Além dos exames de detecção de câncer, é importante manter uma rotina de cuidados com a saúde, principalmente para quem tem fatores de risco para adquirir a forma grave da Covid-19 (idade acima de 65 anos, problemas cardiovasculares, diabetes, entre outros). Para saber se você tem um ou mais fatores de risco e quais cuidados tomar, acesse o post do IFSC Verifica sobre o assunto.
O que pacientes com câncer devem fazer se contraírem a Covid-19
Segundo o médico oncologista Leopoldo Back, uma pessoa que esteja enfrentando um tratamento de câncer, se for contaminada pelo Sars-Cov-2, precisa interromper o tratamento do câncer e curar a Covid-19 primeiro. Ele explica que a Covid-19 é uma doença aguda, de alto risco, por isso deve ser tratada como prioridade.
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