Por que usar máscaras PFF2 agora?

IFSC VERIFICA Data de Publicação: 30 mar 2021 17:27 Data de Atualização: 30 mar 2021 18:21

Após tanto tempo de pandemia, os cientistas cada vez mais enfatizam que o uso de máscaras pela população em geral tem, sim, capacidade de reduzir a transmissão do coronavírus. Em 5 de março de 2021, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, publicou uma pesquisa indicando que o uso de máscaras e a proibição de comer em restaurantes diminuiu a taxa de transmissão do vírus. Um mês antes, um outro estudo apontava que usar duas máscaras (cirúrgica por baixo, de pano por cima) bloquearia até 95% dos aerossóis do ambiente – micropartículas no ar que podem conter o vírus. Mas, por que só agora o modelo N95/PFF2 passou a figurar como o mais recomendado também para a população, não apenas para profissionais da saúde? É devido às mutações do vírus?
 


N95/PFF2 são a mesma coisa?

Antes de começar a falar sobre as indicações de uso da N95/PFF2, é preciso esclarecer a questão na nomenclatura.  A sigla PFF significa peça facial filtrante. No Brasil, o Programa de Proteção Respiratória da Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro) classifica as PFFs em 1, 2 ou 3 conforme o tipo de contaminante contra o qual ela protege o usuário: PFF1 para poeiras e/ou névoas; PFF2 para fumos e/ou agentes biológicos e PFF3 para partículas altamente tóxicos ou de toxicidade desconhecida. 

Segundo a cartilha de saúde ocupacional da fabricante 3M, respiradores com classificação PFF2 seguem a norma brasileira (ABNT/NBR 13698:1996) e a europeia e apresentam eficiência mínima de filtração de 94%, enquanto os respiradores com a classificação N95 seguem a norma americana e apresentam eficiência mínima de filtração de 95%. Portanto, respiradores PFF2 e N95 apresentam níveis de proteção equivalente. 

Por que passar a usar a PFF2 agora?

As dúvidas sobre o tema para a população brasileira começaram a surgir em janeiro deste ano, quando países da Europa passaram a exigir o uso desse tipo de máscara no transporte público e comércio. Na França, por exemplo, o argumento seria de que as máscaras de tecido comum não protegeriam contra as novas variantes do coronavírus. Mas seria somente esse o motivo? “A máscara PFF2 sempre foi a mais segura.  Eu acho que a principal mudança, entre outras hipóteses, é a disponibilidade dessas máscaras. O vírus continua funcionando da mesma forma, apesar de mais transmissível. Agora,  a gente defende o uso da PFF2 de maneira muito mais ampla porque a gente sabe, com representantes da indústria, que não vai faltar para profissionais da saúde e para quem está na linha de frente”, explica Beatriz Klimeck, antropóloga, mestre e doutoranda em Saúde Coletiva, mestranda em Divulgação Científica e criadora do site Qual Máscara?

O projeto nasceu em dezembro de 2020 e ganhou fama ao traduzir, de forma clara e visual, as informações disponíveis sobre os diversos tipos de máscara. Beatriz percebeu, entre amigos e familiares, que as dúvidas eram muitas e aproveitou o mestrado em Divulgação Científica para pensar e iniciar o projeto.

A indicação de uso da PFF2 para evitar a Covid-19, no entanto, não é uma unanimidade entre os especialistas. Em entrevista à revista Veja em fevereiro deste ano, o consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Leonardo Weissmann disse não haver indícios científicos para que a população em geral utilizasse a PFF2. 

Já para o UOL, a infectologista Raquel Stucchi, também consultora da SBI, disse acreditar que o estudo sobre o uso de duas máscaras realizado pela CDC não foi muito conclusivo e defende que uma máscara cirúrgica descartável seria mais eficiente que a sobreposição, uma vez que ficaria muito mais difícil de respirar e as pessoas acabariam mexendo muito mais nas máscaras, elevando a chance de contaminação. “As máscaras cirúrgicas são uma boa opção, comparadas com as de pano, sem dúvida. O problema delas é a vedação. Elas dificilmente fazem uma boa vedação no rosto.  Se você for usar uma máscara cirúrgica e puder, use uma máscara de pano por cima. Sempre a cirúrgica por baixo. Porque daí você resolve o problema da vedação, como se fosse uma outra máscara abraçando a cirúrgica, mas, ao mesmo tempo, melhora o aspecto da filtração que é o problema da máscara de pano”, diz Beatriz, do Qual Máscara?.

Mas teria que usar PFF2 em todos os lugares?

De acordo com a professora Gerusa Ribeiro,  professora e coordenadora de estágios do curso técnico em Enfermagem do Câmpus Florianópolis do IFSC, a recomendação do CDC, considerada referência para o Ministério da Saúde, é usar máscara sempre que se estiver em um espaço público e  não for possível manter uma distância de no mínimo seis passos de outra pessoa. “E o CDC não especifica espaço aberto, fala em espaço público. Além disso, como cada município faz sua legislação, é preciso estar atento às normas de cada cidade”, alerta a professora. Ainda assim, raramente as leis discriminam o tipo de máscara a ser usado. 

A exceção recente foi a alteração na resolução 456/2020 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que trata de regras em aeroportos e aviões durante a pandemia. Publicado em 11 de março, o novo texto deixa claro que estão proibidas máscaras de acrílico ou de plástico; máscaras dotadas de válvulas de expiração, incluindo as N95 e PFF2; lenços, bandanas de pano ou qualquer outro material que não seja caracterizado como máscara de proteção de uso profissional ou de uso não profissional; protetor facial (face shield) isoladamente; máscaras de proteção de uso não profissional confeccionadas com apenas uma camada ou que não observem os requisitos mínimos previstos na ABNT PR 1002.

“Recomendamos a PFF2 com veemência no transporte público, que é um dos lugares com maior risco, especialmente aqui no Brasil. De forma geral, é bom, ao sair de casa, parar e pensar exatamente onde você vai. Todo ambiente fechado ou mal ventilado é um bom indicativo de que você deveria priorizar o uso da PFF2”, orienta Beatriz.

A PFF2 é cara?

A PFF2 ganhou a fama de inacessível por conta do preço: as marcas mais famosas custavam cerca de R$ 20 antes da mudança de regras na Europa. Com o aumento na procura, há peças sendo vendidas a R$ 50 a unidade – e elas são consideradas descartáveis. Mas Beatriz defende que isso é um mito. De acordo com o material divulgado no Qual Máscara, por se tratar de um produto que também é vendido em lojas de materiais de construção, além das lojas de produtos hospitalares, é possível encontrar PFF2 com valores entre R$ 2 e R$ 5. E também é possível reutilizá-las.

O maior cuidado na reutilização das máscaras é evitar a contaminação na hora de tirar a máscara. Depois disso, o ideal é deixar o equipamento arejando em um local ventilado por, no mínimo, três dias. “Ela não pode ser higienizada. Tudo o que a gente entende no sentido de higienização – pode ser desinfetante, álcool, sabão, nenhuma dessas coisas é recomendada para uso da PFF2. Isso tem a ver não só com as fibras desse não tecido com o qual ela é feita, mas sim com um tratamento eletrostático que esse material recebe, que atrai as partículas para a trama. Por isso, qualquer produto desses destrói essa manta e aí você fica com uma máscara que não te protege tanto”, alerta a antropóloga. 

Também é preciso verificar os sinais de deterioração, afrouxamento dos elásticos e vedação. “E estamos falando de um uso comum, sem contato com doentes. Caso a pessoa tenha tido contato com alguém infectado ou com suspeita, se for possível, o ideal é descartar a máscara em seguida”, explica Beatriz.

Para reunir lojas e divulgar o uso da PFF2, também foi criado o site PFF para todos, alimentado por voluntários que procuram ofertas e atualizam uma lista de lojas por regiões e estados do país (tanto físicas quanto online) onde é possível encontrar máscaras de qualidade e com bons preços.

Cuidado com falsificações e máscaras irregulares

Um dos principais cuidados ao procurar por máscaras, tanto PFF2 quanto cirúrgicas, é ter certeza da procedência e da eficiência. Há modelos importados, como o KN95, que não possuem certificação nem autorização para a venda no Brasil. 

O site PFF para todos fez um resumo dos principais pontos a se observar: identificação na embalagem (PFF2 ou PFF3. Como N95 é um nome usado só nos EUA, não vai aparecer nas máscaras autorizadas no Brasil), selo do Inmetro ou Anvisa; não pode ter junções costuradas; os elásticos sempre passam pela cabeça, nunca somente até a orelha; têm clipe nasal e a identificação impressa também no respirador , bem com o número do Certificado de Aprovação (C.A.). É possível consultar o CA no site consultaca.com

Pode ser PFF2 com válvula?

As máscaras valvuladas protegem quem a está usando, mas não filtram a saída do ar, ou seja: se você estiver doente, pode contaminar outros. Ainda assim, de acordo com o PFF para todos, uma máscara valvulada ainda vai proteger mais os outros da sua respiração do que uma máscara de pano comum. O site também afirma que PFFs valvuladas podem fazer parte de uma estratégia de transição de máscaras cirúrgicas ou de pano para PFFs não-valvuladas, especialmente para idosos ou pessoas com dificuldades respiratórias (quando autorizadas por um médico).

E as máscaras de pano? Jogo todas fora?

Uma máscara de pano vai ser mais ou menos segura de acordo com os tecidos usados e seu local de uso. Nem todo lugar fechado é igual e nem todo tecido é igual. Aliás, a falta de padronização dos tecidos é o principal problema das máscaras artesanais. “Existes máscaras de três camadas altamente elásticas que não são recomendadas. Ao mesmo tempo, tem máscaras de duas camadas que são de tecido mais firme, que se molda melhor no rosto. A recomendação são três camadas. Mas também tem que pensar se o tecido é muito elástico, que isso também não é recomendado – e a esmagadora maioria das máscaras vendidas hoje é feita de tecido elástico”, pondera Beatriz.

Ela reforça também que é preciso desenvolver o senso de análise para saber qual máscara usar em qual espaço. “Se eu moro num prédio que tem 30 apartamentos por andar e aquele corredor não tem ventilação, ele não é um espaço seguro para você pensar em usar uma máscara de pano. Se você tem um elevador movimentado, aquele elevador não é o melhor espaço para você usar uma máscara de pano. Mas se você mora num prédio, no segundo andar, desce de escada e vai ali andar com o seu cachorro, a máscara de tecido pode ser adequada.  Mais do que colocar uma regra, tipo aqui pode, aqui não pode, é pensar nesse bom senso”. 

E, assim como a PFF2, a máscara de tecido também tem vida útil. A recomendação da Anvisa é de, no máximo, 30 usos. “Ela tem que manter a estrutura dela. A trama do algodão é muito mais aberta, se eu considerar a trama do TNT,  já que a maioria das máscaras domésticas são confeccionadas com esses materiais”, lembra a professora Gerusa.

Tecidos antivirais ajudam?

Apesar de movimentar o comércio, Beatriz não é favorável ao uso de tecidos antivirais. “Não importa muito se ele inativa o vírus em cinco minutos ou em uma hora. A importância da máscara é conseguir filtrar o ar que você respira. Então se ela filtra o ar mal, se o tecido dela não é tão bom e a filtração não é tão boa, você vai respirar todo aquele ar possivelmente contaminado. Se for um ar contaminado, você vai se infectar. A partícula que ficar presa no tecido é que vai ser inativada. Na prática, não é o que você procura na máscara”.

A antropóloga também lembra que é preciso pensar nos efeitos que a adição dos íons e nanopartículas de prata podem causar à saúde das pessoas e do planeta. Estudo feito pelo  pesquisador Nelson Durána e colaboradores do Instituto de Biologia, Unicamp, e do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC, indicam a possibilidade de contaminação do solo e reações que podem levar à morte celular no corpo humano. 

Como respirar melhor de máscara PFF2?

Por ter uma maior vedação, a PFF2 pode causar, inicialmente, uma sensação de sufocamento. Muita gente fica nervosa ao usar pela primeira vez. Mas Beatriz garante que a sensação passa. “É hábito. Recebo muitos relatos de pessoas que inicialmente tinham bastante dificuldade de respirar com máscaras PFF2 e, depois de um mês usando, estavam fazendo atividade de alto impacto, correndo, fazendo crossfit. Também tem o fator psicológico, de achar que você vai ficar sem ar porque a máscara é bem vedada. Tem que superar esse primeiro desconforto, esse incômodo inicial e a maioria das pessoas, depois de um tempo, se sente bem melhor”.

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