Preciso andar de ônibus, e agora?

IFSC VERIFICA Data de Publicação: 07 jul 2020 13:30 Data de Atualização: 18 fev 2021 17:55

Estamos há cerca de quatro meses em distanciamento social devido à pandemia de Covid-19. Nesse momento, muitos municípios estão retomando a circulação de ônibus urbanos. Em Florianópolis, por exemplo, os ônibus municipais e intermunicipais já voltaram a circular de segunda a sexta-feira, com várias restrições, como capacidade reduzida a 40% da lotação, uso obrigatório de máscaras e pagamento somente com cartão (veja outras cidades catarinenses que retomaram o transporte coletivo urbano).

O que essa volta representa? A professora dos cursos técnico e superior em Enfermagem do Câmpus Joinville do IFSC, Josiane Steil Siewert, alerta que o transporte público é um fator de risco à transmissão do coronavírus por promover a aglomeração de pessoas e pela dificuldade de se realizar a limpeza do veículo a cada troca de passageiros. No entanto, quem não pode prescindir do transporte público pode tomar alguns cuidados e minimizar os riscos.

Josiane destaca que, havendo necessidade de sair de casa, o transporte público não deve ser a primeira opção. A prioridade deve ser dada ao transporte individual, de carro, bicicleta ou mesmo a pé, que oferecem um risco menor de contaminação. “O transporte público não deve ser a nossa primeira escolha, pois nós podemos tomar todos os cuidados, mas muitas vezes, as pessoas que estão junto com a gente podem não ter toda essa precaução”.

Se realmente for necessário se deslocar de ônibus, alguns cuidados devem ser tomados:

  • - Se possível, escolha um horário alternativo, fora do horário de pico;
  • - Planeje o itinerário, para trocar o menos possível de transporte e fazer um trajeto menor;
  • - Utilize sempre a máscara e tenha uma reserva, para trocar no caso de a máscara ficar úmida e na volta para casa;
  • - Se possível, utilize o protetor facial ou para os olhos, pois os olhos são também passíveis de contaminação;
  • - Evite ao máximo tocar as superfícies do ônibus;
  • - Tente sentar à maior distância possível dos outros passageiros, principalmente evite sentar de frente para outras pessoas;
  • - Utilize álcool em gel após tocar as superfícies do ônibus;
  • - Ao chegar em casa, retire a roupa e os sapatos logo ao entrar e deixe-os em local separado;
  • - Passe as roupas utilizadas na rua e também as máscaras de tecido após lavá-las;
  • - Lembre-se de higienizar o celular ao chegar em casa, de preferência com álcool isopropílico, que não contém água;
  • - Se for necessário levar uma criança no ônibus, segure-a para que ela toque o menos possível nas superfícies e higienize as mãos da criança com álcool em gel.

A orientação de não levar as mãos ao rosto é uma das mais difíceis de cumprir, segundo Josiane. “Alguns estudos verificaram que fazemos esses movimentos pelo menos 20 vezes por minuto, seja para coçar o nariz, mexer no cabelo, todos movimentos inconscientes difíceis de evitar, por isso a importância da utilização do álcool em gel ao se tocar as superfícies do transporte coletivo e utilizar um protetor facial ou para os olhos”, aponta.


Janelas abertas ou fechadas?

Tanto a professora Josiane quanto o professor Jesué Graciliano da Silva, do curso técnico em Ar-Condicionado e Refrigeração do Câmpus São José do IFSC, concordam que deixar as janelas abertas é mais seguro que utilizar o ar-condicionado do ônibus, pois a troca de ar constante evita a disseminação do vírus.

Jesué explica que as empresas de ônibus estão sendo cobradas para que tomem providências para manterem as janelas abertas, o que pode ser um problema, pois em muitas cidades, as frotas foram totalmente climatizadas, como por exemplo Salvador. Em Florianópolis, a Prefeitura ordenou a retirada dos lacres das janelas de ônibus.

Já os fabricantes de ônibus alegam que os veículos seriam mais seguros que ambientes climatizados normais, pois permitem até 20 trocas de ar por hora (troca de todo o volume de ar dentro do veículo), enquanto um escritório climatizado, por exemplo, permite de cinco a 10 trocas de volume de ar a cada hora. Além disso, os ônibus precisam manter um sistema de filtragem de ar conforme determina legislação (NBR 15570-2009). “Do ponto de vista matemático, está dentro da norma. Porém, em um ambiente com ar condicionado, você não fica ‘colado’ nas pessoas. No Brasil, os ônibus saem lotados, e esse é um problema. Uma coisa é eu estar em um ambiente climatizado, onde eu posso ficar a dois metros de distância da pessoa. Outra é eu entrar no ônibus e ele estar lotado”, destaca o professor Jesué.

Outro problema apresentado pelo professor é a falta de fiscalização sobre a manutenção dos sistemas de ar condicionado no que diz respeito à filtragem de ar. “O vírus não tem asinha, então ele precisa pegar carona em pequenas partículas que ficam em suspensão no ar, e são filtradas pelo ar condicionado”, explica o professor. Segundo ele, com as janelas abertas, a diluição das partículas é maior.


Avião é seguro?

A troca de ar no avião é mais rápida que no ônibus ou trem, por exemplo. Além disso, o ar do avião é limpo por um instrumento chamado filtro de ar particulado de alta eficiência (Hepa, na sigla em inglês). Este sistema é capaz de capturar partículas menores do que aquelas que são capturadas pelos sistemas comuns de ar condicionado. 

No entanto, alerta Jesué, o avião também representa um risco por diversos fatores, como por exemplo a proximidade entre os passageiros ou a falta de tempo para higienização completa entre um voo e outro. Assim, o passageiro deve tomar os mesmos cuidados que em qualquer outro transporte coletivo.

Qual o futuro do transporte coletivo?

Maior cuidado com procedimentos de limpeza, com utilização de equipamentos mais modernos, como ultravioleta, deve ser incorporado à rotina das empresas de transporte coletivo, segundo os professores Josiane e Jesué.

Os fabricantes desses veículos também devem trabalhar em novos projetos para aperfeiçoamento dos sistemas de ar condicionado. É preciso lembrar que muitas medidas têm impacto econômico, como por exemplo a revisão da lotação dos veículos em circulação. Além disso, os próprios usuários do transporte devem adquirir os novos hábitos de higiene.

Saiba mais:

Para obter mais informações sobre ar condicionado e a pandemia de Covid-19, acesse o site preparado pelo professor Jesué Graciliano da Silva, com entrevistas com especialistas, estudos diversos e vídeos explicativos.

Confira as orientações da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para passageiros e empresas de transporte coletivo.

Veja também reportagem sobre estudos realizados na China e Estados Unidos. O estudo chinês analisou possível contágio por ar condicionado em um restaurante. Nos Estados Unidos, foram realizados estudos levando em conta as rotas de ônibus interestaduais e incidência do vírus.

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