IFSC VERIFICA Data de Publicação: 31 out 2023 10:29 Data de Atualização: 20 mai 2024 18:20
“Saco vazio não para em pé”. O ditado popular que ouvimos desde pequenos traduz de forma simples o que a Ciência e a prática comprovam: o corpo humano precisa de alimento para funcionar. Mas não é qualquer alimento. A base para o desenvolvimento e crescimento dos seres humanos - tanto em nível físico quanto cognitivo - é uma boa alimentação. E quando se fala de alimentação saudável, os alimentos ultraprocessados estão sempre na lista do que deve ser evitado. Por que será?
O post do IFSC Verifica deste mês irá responder esta pergunta e mais:
- O que é um alimento ultraprocessado?
- Todo alimento ultraprocessado é ruim?
- Por que devemos evitar consumir alimentos ultraprocessados?
- Como identificar um produto ultraprocessado?
- Como buscar práticas alimentares saudáveis?
Para isso, conversamos com a nutricionista e professora do IFSC Elinete Eliete de Lima, que é especialista em Terapia Nutricional e em Qualidade de Alimentos, além de coordenar o curso técnico em Nutrição e Dietética do Câmpus Florianópolis-Continente.
Quais os tipos de alimentos?
Para entender quais as melhores opções de consumo, é importante conhecer os tipos de alimentos. Existem quatro grandes grupos: alimentos in natura, minimamente processados, processados e ultraprocessados.
Os alimentos in natura são aqueles obtidos diretamente de animais ou plantas e que são consumidos sem qualquer alteração. É o caso das folhas, frutas, verduras, legumes, ovos, carnes e peixes. Ao pensar num cardápio, esses alimentos são sempre a escolha mais saudável.
Outra opção saudável para montagem do prato são os alimentos minimamente processados, que são aqueles submetidos a algum processo - como limpeza, moagem e pasteurização -, mas que não envolve a agregação de substâncias ao alimento original. A famosa dupla “arroz e feijão” é um exemplo deste tipo de alimento, além de lentilhas, cogumelos, frutas secas, farinhas de mandioca e de milho, entre outros.
E então temos os alimentos fabricados pelas indústrias. Os produtos processados contam com a adição de sal, açúcar ou outro produto que torne o alimento mais durável, palatável e atraente. Já os alimentos ultraprocessados são formulações industriais com pouco ou nenhum alimento inteiro e sempre com algum aditivo.
O que é um alimento ultraprocessado?
A professora do IFSC Elinete Eliete de Lima explica que há uma tendência de se chamar produtos alimentícios ultraprocessados de “não alimentos”, justamente para marcar a diferença. “Produtos alimentícios ultraprocessados, que podem ser comidas e bebidas, são produtos fabricados com pouco ou nenhum alimento in natura e contém ingredientes de nomes pouco familiares”, define.
Normalmente, esses produtos contêm quantidades consideráveis de açúcar, óleos e gorduras de uso doméstico, mas também isolados ou concentrados protéicos, óleos interesterificados, gordura hidrogenada, amidos modificados, entre outros. Para piorar, frequentemente são adicionados os chamados aditivos cosméticos, como corantes, aromatizantes, emulsificantes, espessantes e outras substâncias para dar a esses produtos uma aparência e um gosto semelhantes aos encontrados em alimentos não ultraprocessados. E mais: para que tenham um prazo de validade maior, esses produtos também recebem conservantes.
-> Como funciona o prazo de validade dos alimentos?
Exemplos de produtos ultraprocessados não faltam. Os mais conhecidos são: refrigerantes, salgadinhos de pacote, biscoitos recheados, doces e chocolates, barras de “cereal”, sorvetes, alguns pães, margarinas, pratos de massa e pizzas pré-preparadas, macarrão instantâneo, nuggets de frango e peixe, salsichas, bebidas lácteas, néctar de frutas e misturas em pó para preparo de bebidas com sabor de frutas.
Todo alimento ultraprocessado é ruim?
Todos os alimentos ultraprocessados são ruins, mas nem todos alimentos industrializados são prejudiciais. “Alguns alimentos industrializados apresentam somente ingredientes que a gente consegue reconhecer, ou seja, que são alimentos de verdade, como o iogurte natural, composto somente por leite e fermento lácteo”, destaca Elinete.
Por que não devemos consumir produtos ultraprocessados?
“Os produtos ultraprocessados não são saudáveis, nem sustentáveis e ainda tendem a afetar negativamente a cultura e a vida social”, destaca a professora do IFSC. Pesquisas científicas têm mostrado que padrões alimentares com base em produtos ultraprocessados estão relacionados ao risco aumentado de ganho de peso, diabetes, hipertensão e outras doenças cardiovasculares, depressão, alguns tipos de câncer, mortes prematuras, entre outros.
-> Qual é a relação entre consumo de ultraprocessados e risco de mortalidade?
Elinete chama atenção para o fato de que o crescimento alarmante da obesidade e de outras doenças crônicas não transmissíveis tem sido relacionado ao consumo excessivo de ultraprocessados pela população. Em geral, esses produtos são mais calóricos por conterem mais açúcar e mais gorduras. “Para se ter uma ideia, 100 gramas de biscoitos recheados ou de salgadinhos de pacote fornecem em torno de 500 quilocalorias, enquanto que a mesma quantidade de arroz com feijão fornece aproximadamente 130 quilocalorias”, comenta a professora.
-> Por que os alimentos ultraprocessados favorecem o consumo excessivo de calorias?
E a lista de problemas dos produtos ultraprocessados é grande, como pontua Elinete:
- são formulados para terem hiper sabor, ou seja, recebem a adição de açúcares, gorduras, sal e aditivos - como aromatizantes e corantes;
- geralmente, são alimentos mais secos quando comparados aos alimentos in natura, o que afeta os sistemas que controlam a saciedade no organismo humano;
- são feitos com gorduras não saudáveis, como as gorduras parcialmente hidrogenadas e as gorduras interesterificadas, fontes de gorduras trans e saturadas, respectivamente;
- contêm menos fibras dietéticas, proteínas, vitaminas, sais minerais e compostos bioativos;
- a forma em que tais produtos são consumidos e comercializados favorecem o consumo exagerado.
Se os alimentos ultraprocessados fazem mal para a saúde humana, a forma como são produzidos e comercializados os tornam ruins também para o planeta. Elinete explica que o número reduzido de espécies vegetais que normalmente são utilizadas para produção de ultraprocessados - soja, milho, trigo e cana-de-açúcar – leva à perda da biodiversidade. “Tais alimentos provêm de sistemas agrícolas intensivos e baseados em monoculturas, que exigem grandes extensões de terra, uso denso de mecanização, elevado consumo de água e de combustíveis fósseis, uso intenso de fertilizantes químicos, sementes transgênicas, agrotóxicos e antibióticos e, ainda, a necessidade de uso de embalagens e transporte por longas distâncias”, ressalta.
-> Diálogo sobre ultraprocessados: soluções para sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis
Os produtos ultraprocessados têm um impacto negativo também na cultura alimentar. “Com a globalização, um número pequeno de empresas coloca no mercado mundial produtos idênticos, desde marcas, embalagens e conteúdo, desrespeitando a cultura alimentar, os padrões alimentares locais e alimentos produzidos no país”, observa Elinete.
Até mesmo a vida social pode ser afetada pelo consumo desses produtos. “Seu uso torna a preparação de alimentos, a mesa de refeições e o compartilhamento da comida totalmente desnecessários”, afirma a professora.
Como identificar um produto ultraprocessado?
Podemos identificar os produtos alimentícios ultraprocessados ao analisar a lista de ingredientes presentes nas embalagens dos alimentos. A dica é: leia o rótulo e, se a lista mencionar apenas alimentos in natura, adicionados ou não de sal, açúcar ou óleo, não são alimentos ultraprocessados. Agora se a lista estiver repleta de nomes de ingredientes que você nunca ouviu falar e não vê por aí no dia a dia, então deve ser um alimento ultraprocessado.
-> Como identificar alimentos ultraprocessados a partir dos rótulos?
Como buscar práticas alimentares saudáveis?
Na última década, o Brasil teve dois grandes avanços na área de alimentação e promoção da saúde da população. Em 2014, o Ministério da Saúde publicou a segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira. “O Guia é um importante documento que visa apoiar e incentivar práticas alimentares saudáveis tanto no âmbito individual, como coletivo, e tem por objetivo também subsidiar políticas, programas e ações que visem a incentivar, apoiar, proteger e promover a saúde e a segurança alimentar e nutricional da população brasileira”, explica a professora do IFSC.
-> Alimentação saudável: dicas e receitas para desenvolver bons hábitos
O segundo avanço, segundo Elinete, foi a publicação de uma nova legislação sobre a rotulagem nutricional dos alimentos, que entrou em vigor neste mês, e dispõe sobre a rotulagem nutricional dos alimentos embalados. Uma das novidades dessa nova legislação é a rotulagem nutricional frontal de advertências que você já deve ter visto no supermercado.
Um símbolo de lupa informa ao consumidor, de forma clara e simples, sobre o alto conteúdo não saudável de sódio (sal), açúcar e gordura saturada. “Espera-se com isso desencorajar os consumidores na aquisição de produtos ultraprocessados e incentivar melhorias no perfil nutricional dos produtos, por parte dos fabricantes”, afirma a professora.
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