ENSINO Data de Publicação: 08 out 2018 13:48 Data de Atualização: 08 out 2018 13:51
“Engenharia também é coisa de mulher” é uma dentre muitas frases estampadas em placas usadas pelas alunas do curso superior em Engenharia Mecânica do Câmpus Lages do IFSC. O câmpus apresenta o maior percentual de mulheres matriculadas no curso de Engenharia Mecânica no IFSC, além de ser maior que as médias estaduais e nacionais dos institutos federais, de acordo com dados da Plataforma Nilo Peçanha, que reúne estatísticas dos IFs de todo o País. Entretanto, o número de homens ainda é maior: enquanto as mulheres atingem 15,3% do total de alunos no curso em Lages, os homens chegam a 84,7% (94 homens e 17 mulheres).
O medo do preconceito, de não ser aceita e de estar em um ambiente com mais participação masculina é um dos fatores que impedem muitas meninas de iniciar esse curso, na opinião de Tatieille Liz, lageana, da quarta fase da Engenharia Mecânica. “Criou-se uma imagem de que a área da mecânica é para homens. Muitas pensam que é algo muito difícil. Parece ser impossível pelo fato de as mulheres terem menos contato com essas coisas, quando na verdade não existe nenhuma barreira, qualquer uma, desde que queira, pode aprender”, diz.
Tatieille é técnica em Mecânica e sempre quis conhecer e trabalhar na indústria. Durante o curso técnico, conseguiu um emprego na Companhia de Bebidas das Américas (Ambev) inicialmente como operadora de máquinas, em uma linha de produção na qual, de 70 pessoas, apenas três eram mulheres. Hoje trabalha em escritório, em uma área na qual, de 170 pessoas, só seis são mulheres. As atividades que ela desenvolvia envolviam manutenção, lubrificação e limpeza dos equipamentos.
Ela diz que teve dificuldade no início para erguer peso e fazer manutenção na máquina. “Alguns homens não me ajudavam, porque queriam ver o quanto uma mulher iria aguentar. Já ouvi que lá não era lugar de mulher, que a gente não sabe fazer as coisas, mas os chefes que tive sempre repreendiam essas coisas e nos defendiam”, explica.
Com o tempo, Tatieille realizava as atividades sozinha e, com destaque, passou a trabalhar na parte administrativa, com a linha de produção, fornecendo suporte ao supervisor nas atividades de gestão. “O legal disso tudo foi que depois os homens já tinham mais respeito com nós, mulheres, viram que aguentamos tudo e continuamos trabalhando sem desistir”, comenta.
Quanto ao curso, ela diz que ensino é muito bom, os professores são qualificados e estão sempre dispostos a ajudar os alunos da melhor forma possível. “Tenho conhecimento para ligar a teoria à prática, facilitando o entendimento de várias matérias. Os professores às vezes pedem pra dar exemplos e compartilhar como é na indústria. Eles se importam se o aluno realmente aprendeu”, conclui. Tatieille pensa em fazer especialização em manutenção mecânica, especialmente preditiva.
Thainara Cabral é de São Luiz Gonzaga (RS) e veio para Lages estudar no curso técnico em Mecatrônica no IFSC. Ao se identificar com a área, decidiu seguir cursando o superior em Engenharia Mecânica. No entanto, conta que o preconceito sempre acaba existindo. “A gente sempre tem que ficar provando algo, mostrar que entendemos do assunto e que conseguimos e merecemos um espaço tanto quanto os homens”, diz. A aluna também faz parte do Projeto Leão Baja e é a única mulher que está na equipe responsável pela telemetria do veículo.
Cursando a quarta fase de Engenharia Mecânica, Angélica Scariot, que veio de São João do Sul, no Sul do Estado, afirma que as dificuldades podem ser encontradas em todos os cursos. “Se é isso que você quer fazer, não tem porque não tentar. A diferença no número de meninos e meninas é algo que ainda existe, mas tende a se equiparar cada vez mais. Então não deixe de fazer o que você quer fazer porque pode encontrar algumas dificuldades no caminho”, finaliza.
Única professora
Atualmente no Câmpus Lages, há somente uma professora mulher na área de processos industriais, que dá aula para os cursos técnicos em Eletromecânica e Mecatrônica e vai começar a lecionar para a Engenharia Mecânica. A professora Adriellen Lima de Sousa é engenheira de controle e automação e explica que a responsabilidade de um engenheiro é desenvolver soluções, através da capacidade lógica e do conhecimento matemático para problemas técnicos em sistemas, serviços ou produtos. Ao contrário do que muitos acreditam, realizar esforços físicos para implementar as soluções elaboradas não necessariamente competem ao engenheiro, destaca a professora.
Quanto ao percentual de mulheres no curso, a professora opina que, por natureza, a mulher se identifica com áreas que demandam maior delicadeza. Segundo ela, um exemplo disso são outros cursos que apresentam maior participação de mulheres, como enfermagem e fisioterapia. “Acredito que os números de homens e mulheres não precisam ser iguais. Às vezes falta aptidão mesmo, se identificar com a área, para desenvolver as habilidades necessárias”, diz.
Saiba mais
Para ingressar no curso superior em Engenharia Mecânica do IFSC, é preciso fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e realizar a inscrição via Sisu.