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Projeto de extensão promove leituras de livros escritos por mulheres no presídio feminino de Itajaí

SEPEI Data de Publicação: 01 ago 2019 07:00 Data de Atualização: 26 jul 2019 14:37

O projeto de extensão, do Câmpus Itajaí, “Nas entrelinhas: mulheres, literatura e igualdade de gênero no presídio feminino de Itajaí” tem trabalhado obras de escritoras como Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus e Débora Diniz com mulheres do sistema prisional. A proposta é ampliar o acervo da biblioteca do presídio feminino de Itajaí, estimular a leitura e promover debates ao mesmo tempo em que possibilita que as presas tenham parte de sua pena reduzida, já que a cada livro lido, reduz-se a pena em quatro dias. O projeto será executado até setembro e foi apresentado no Sepei, nesta quarta (31), na sala Escola Paulo Freire. 

Estão sendo trabalhadas cinco obras (“Olhos d’Água” de Conceição Evaristo, “O papel de parede amarelo” de Charlotte Gilman, “Cartas de uma menina presa” de Débora Diniz, “Quarto do despejo” de Carolina Maria de Jesus e “Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis” de Jarid Arraes), cada uma com um grupo de 10 a 15 detentas. São realizados dois encontros para discussão de cada livro, sendo que no primeiro é feita uma atividade cultural e, no segundo, uma roda de conversa.

Para trabalhar “Olhos d’Água”, a coordenação do projeto convidou o professor do Câmpus Joinville Samuel Kuhn para fazer a leitura dramática dos contos; para “O papel de parede amarelo” foi convidada a professora do Câmpus Xanxerê Aline Guerios para fazer uma performance baseada no conto que dá nome ao livro; e para trabalhar “Quarto do despejo”, as detentas virão ao Câmpus Itajaí assistir a uma peça inspirada no livro. 

Há ainda a proposta de promover trocas de cartas entre as presas e alunos do Câmpus Itajaí, como a antropóloga Débora Diniz fez no livro “Cartas de uma menina presa”. “Nós temos observado que elas estão mobilizadas a participar, inclusive descrevem os contos com uma série de detalhes. Muitas se veem nas personagens dos livros. Nas discussões sobre “O papel de parede amarelo” em que a personagem é trancada pelo marido em um quarto, ouvimos de uma presa de que ela era aquela mulher. Nós tínhamos o interesse em fazer um clube de leitura voltado para a leitura de livros escritos por mulheres e de uma forma é isso o que estamos fazendo. Esse clube de leitura tem nos permitido ter vivências muito diferentes do que teríamos e tem sido uma proposta de educação voltada para o pensamento crítico”, avalia o coordenador do projeto Leonardo Silva.

A parceria entre o IFSC e o presídio também tem permitido ampliar o projeto de remição da pena por meio da leitura, que é mantido pela Secretaria de Educação em parceria com a Secretaria de Segurança Pública do estado de Santa Catarina. “A principal função de um presídio é a ressocialização da pessoa que está encarcerada. A remição por leitura e projetos sociais e de trabalhos fortalecem isso. Com esse projeto, nós temos conseguido qualificar essa leitura, não só ler o livro por ler é fazer com que elas tenham entendimento do livro que estão lendo e participem dessas discussões. O IFSC traz essa expertise nesse processo. Isso é algo que a gente não teria aqui dentro do presídio só com o projeto de remição por leitura”, avalia Ederson da Cruz, gerente do presídio feminino de Itajaí.

A detenta J.G, de 30 anos, conta que pouco lia e que com o projeto tem se sentido mais motivada. Ao ler o livro “O papel de parede amarelo” lembrou de sua filha. “Todos os contos estão relacionados à mulher e às experiências que a gente tem na vida que não dá tanto valor e tanta importância como você dá quando começa a ler, você quer mudar, ver as coisas de outra maneira. Eu comecei aqui lendo a bíblia, lá fora eu não lia, nem revista.”

Além de uma experiência para as detentas, os encontros têm sido muito significativos para a equipe do projeto. Renata Gazola é estudante de Engenharia Elétrica, do Câmpus Itajaí, e atua como bolsista do projeto. “Eu tenho me surpreendido, eu tinha uma visão muito diferente do que era a prisão. Tem sido um exercício de empatia, de se colocar no lugar delas e uma experiência que irá agregar à minha formação. Eu já havia lido “Olhos d’Água, mas não havia feito as conexões com situações reais como fiz agora.”

SEPEI NEWS

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