IFSC VERIFICA Data de Publicação: 27 fev 2024 16:52 Data de Atualização: 20 mai 2024 18:26
Como será o mundo daqui a 10, 20 ou 50 anos? Onde estaremos em uma ou duas décadas? A tentativa de obter respostas para prever o futuro aguça a curiosidade humana há bastante tempo. É só lembrar dos profetas, oráculos, feiticeiros, ciganos, cartomantes e tantas outras iniciativas ao longo dos milênios e que percorrem a história da humanidade até os dias atuais.
Os esforços de previsão também conquistaram as telas. Desenhos clássicos como Os Jetsons (1962 e 1985) mostraram esteiras rolantes, relógios inteligentes, robôs fazendo faxina, e que iríamos nos locomover em veículos voadores. Esta última previsão foi parecida na trilogia De volta para o futuro (1985, 1989 e 1990), mas pelo menos até agora não se popularizou um carro voador. Por outro lado, os filmes conseguiram prever que o futuro teria imagens em 3D, drones e roupas inteligentes.
Cena com imagem de tubarão em 3D no filme De volta para o futuro (1985)
Como a ciência estuda o futuro?
Ao migrar das vertentes que tentam prever o futuro por meio da adivinhação, do divino, do imaginário popular, e ao adentrar na ciência, o tema também conquistou seu espaço como área do conhecimento. No período pós-guerra, os estudos do futuro adentraram em instituições militares, de ensino e empresas, e foram motivo para a união de esforços pelo mundo, por meio da criação de inúmeras organizações, entre elas Federação Mundial de Estudos do Futuro (WFSF World Futures Studies Federation), Fundação de Estudos de Aceleração (Acceleration Studies Foundation) e Conselho Consultivo Global de Foresight (Global Foresight Advisor Council). Saiba mais sobre a história ao final do texto.
Os termos “foresight” ou “future studies” (em inglês) são os mais conhecidos mundialmente. Aqui no Brasil, também se utiliza “estudos do futuro”, “futurismo” - este último nada tem a ver com o movimento artístico italiano do início do século XX -, e ainda são encontrados expressões como “prospecção” e “prospectiva”.
As teorias e métodos dos estudos do futuro são utilizados por “futuristas” de diversos níveis (praticante, influenciador, professor e conselheiro), a depender dos estudos de cada um. Aqui no Brasil são mais comuns certificações em futurismo/foresight. Lá fora, a Universidade de Houston, nos Estados Unidos, é uma das pioneiras em ensinar sobre o tema e oferece até um Mestrado de "Ciência em Foresight" (Science in Foresight).
Com pós-doutorado em Inovação e Tecnologia, Graciela Pelegrini, professora do Câmpus Chapecó do IFSC, finalizou recentemente uma certificação em “foresight” e resume o que é o futurismo:
“O futurismo provisiona o futuro através de uma metodologia. Existem estudiosos se dedicando muito para isso, que desenvolveram métodos que utilizam o cenário atual e através deste método provisionam como será o futuro, daqui a pelo menos 10 anos. Recentemente a ONU e outras instituições começaram a analisar, a tentar ‘prever’ o futuro", afirma. Assista a mais detalhes no vídeo:
Por que estudar o futurismo?
A Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco) enxerga como essencial o que chama de “Futures Literacy” (Alfabetização em Futuros - tradução livre), destacando que “a alfabetização em futuros ajuda as pessoas a entender por que e como usamos o futuro para preparar, planejar e interagir com a complexidade e a novidade de nossas sociedades”.
Mas, por que, tem se falado mais sobre futurismo ou foresight? A professora Graciela Pelegrini explica que três pontos respondem a esta pergunta:
- a maior expectativa de vida das pessoas;
- a hiperconectividade;
- a competitividade.
Alguns estudos, segundo Graciela, já mostram que as pessoas que vão viver 130 anos já nasceram e estão entre nós. “Como as pessoas estão vivendo mais, surge esse interesse de prever, ou melhor, de criar o futuro que elas desejam”.
Outro ponto importante é a hiperconectividade, já que atualmente o que ocorre em qualquer lugar do mundo tem importância para nós aqui no Brasil. Além disso, a hiperconectividade também acelerou muito as pessoas, e aumentou a concorrência e a competitividade das empresas. “Cada vez mais as empresas querem sair na frente, então nada melhor do que um método que consiga ‘prever’ o que vai acontecer lá na frente”, destaca Graciela.
Essa necessidade faz com que diversas empresas contratem futuristas, entre elas a startup de dados DrumWave que destinou uma cadeira para este profissional em seu conselho consultivo, e inúmeras outras brasileiras ou com filial no Brasil, como John Deere, Coca-Cola, Tokio Marine Seguradora, bancos privados etc.
Os tipos de futuro
Estudos de futuro não devem fingir prever o futuro, ou não deveriam, mas sim estudar ideias sobre o futuro, segundo o futurista norte-americano Jim Dator. Sendo assim, nos últimos cinquenta anos, os estudos do futuro mudaram de “prever o futuro para mapear futuros alternativos e moldar futuros desejados”, resume o futurista paquistanês-australiano Sohail Inayatullah.
Essas mudanças ao longo dos anos foram essenciais para a abordagem de “futuros plurais”. A metodologia aborda quatro principais futuros, resumidos pela futurista Graciela Pelegrini:
- futuro provável: é provável que já está em andamento, interferindo ou não, ele vai acontecer;
- futuro possível: pode ocorrer de forma repentina, ninguém estava esperando que ele viria e você terá que lidar;
- futuro plausível: acreditamos ser possível, mas improvável - digno de aplausos, “foram felizes para sempre”, acabou a desigualdade no mundo;
- futuro preferível: o que gostaríamos que acontecesse - percebe-se que vai acontecer, e a gente consegue tomar ações para moldar.
Como o futurista prospecta os futuros?
O futurista é um profissional que não trabalha sozinho, precisa estar alinhado com a equipe da universidade, da empresa, do espaço em que ele está prospectando e utilizar uma metodologia. “Nada acontece do nada. Tudo que da noite do dia se transforma, vem dando sinais ao longo dos anos”, destaca a professora Graciela, ao explicar algumas etapas utilizadas na prospecção do futuro:
- Definir pergunta norteadora, cenário, espaço temporal
- Captar sinais (notícias, fatos, informações atuais que podem impactar o futuro)
- Análise de como cada “sinal” (notícia) irá impactar o espaço estudado
- Qual a oportunidade que este sinal oferece
- Criar possíveis cenários (são quatro possíveis: crescimento, disciplina, colapso e transformacional)
- Planejamento, ações para aplicar o cenário transformacional
Confira no vídeo um exemplo de aplicação da metodologia acima:
Um pouco da história
Oficialmente, a ciência apoderou-se dos estudos do futuro há pelo menos 70 anos, quando foi fundada a Rand Corporation com o foco de estudar os caminhos do mundo, no pós-guerra, para as Forças Armadas dos Estados Unidos. Desta organização saiu o futurista germano-americano Olaf Helmer (1926-2011), que, em 1968, foi o cofundador do reconhecido Instituto para o Futuro (Institute for the Future).
Pouco depois, em 1973, surge a Federação Mundial de Estudos do Futuro (WFSF World Futures Studies Federation), que reúne estudos de mais de 60 países, e tornou-se parceira consultiva da Organização das Nações Unidas para a Educação (ONU e Unesco). Destaca-se também a Fundação de Estudos de Aceleração (Acceleration Studies Foundation), responsável por auxiliar comunidades, empresas e indivíduos a “melhorar a sua capacidade de previsão no que diz respeito à força mais poderosa do planeta hoje - a aceleração da mudança tecnológica”.
Instituições de ensino também se tornaram referência no tema, entre elas a Universidade de Houston (EUA); o Centro de Estudos do Futuro da Finlândia (Finland Futures Research Centre), dentro da Universidade de Turku; a Universidade de Tamkang, e o Metafuture, na Ásia, trabalham com robustas metodologias e estudos avançados em formato acadêmico.
Para validar os profissionais que tem estudado "foresight", foi criado o Conselho Consultivo Global de Foresight (Global Foresight Advisor Council). Os requisitos para a certificação são horas de estudo comprovadas e estudo continuado, trabalhos aprovados, com aplicação de provas para os diferentes níveis de graduação: praticante, influenciador, professor e conselheiro.
Cabe citar que o francês Bertrand de Jouvenel (1903-1987) é considerado um dos pais da disciplina no âmbito da ciência. O norte-americano Jim Dator (1933-), e o paquistanês-australiano Sohail Inayatullah (1958-), entre tantos outros, também ajudaram a popularizar os estudos nos dias atuais. Aqui no Brasil, as futuristas Rosa Alegria e Jaqueline Weigel são dois exemplos de quem têm difundido os “estudos do futuro”.
Receba os posts do IFSC Verifica
Se você quiser ser informado quando publicarmos nossos posts, deixe seu e-mail no nosso cadastro.
-> Veja tudo o que já publicamos no IFSC Verifica