ENSINO Data de Publicação: 11 nov 2024 15:47 Data de Atualização: 14 nov 2024 08:55
Durante três dias, o Câmpus Criciúma do IFSC foi a sede de debates sobre as diretrizes do Ensino Médio Integrado no IFSC. Nos dias 6, 7 e 8 de novembro, o 2º Encontro do Ensino Médio Integrado reuniu cerca de 157 servidores, entre professores, técnicos administrativos e gestores, e 101 estudantes dos 16 câmpus que ofertam este tipo de curso e dos dois que irão ofertar o Ensino Médio a partir de 2025: Tubarão e São Lourenço do Oeste.
O principal objetivo do evento foi debater, de forma coletiva, as diretrizes curriculares para estes cursos. De março de 2022 a dezembro de 2023, um Grupo de Trabalho (GT) formado por representantes de todos os câmpus ofertantes de Ensino Médio Integrado elaborou um documento, que posteriormente foi debatido pelos câmpus, recebendo mais de 300 contribuições. Essas contribuições foram sistematizadas pelo GT, produzindo um novo documento, debatido no Encontro em Criciúma. A partir das sugestões colhidas durante o evento, foi produzido um documento de síntese dos temas debatidos e propostas feitas. A partir de agora, os três documentos (diretrizes elaboradas pelo GT e câmpus; memória das sugestões acatadas ou não, e o produzido durante o Encontro) serão enviados ao Colegiado de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) e Conselho Superior (Consup) para apreciação.
Segundo o pró-reitor de Ensino, Adriano Larentes da Silva, o evento cumpriu com seu principal objetivo. “Foi um trabalho coletivo entre a Reitoria e o Câmpus Criciúma e finalizou um ciclo de amplo debate das diretrizes. Foi um momento importante porque, enquanto as diretrizes foram debatidas em cada câmpus, nesse evento tivemos a condição de pensar coletivamente para além da realidade de cada um. Foi um espaço riquíssimo de diálogo e de troca de experiências”, destaca.
O diretor-geral do Câmpus Criciúma, Daniel Comin da Silva, deu as boas-vindas aos participantes na quarta-feira e destacou a qualidade dos cursos do IFSC: “Certamente o que mais nos diferencia de outras instituições de ensino são os nossos cursos técnicos integrados. Eu particularmente defendo que a gente consiga ampliar esse tipo de oferta”.
Ele ressaltou o número significativo de egressos do Ensino Médio que continuam na instituição, na mesma área do curso inicial. “É algo que eu acho de mais fantástico nos nossos cursos técnicos integrados: compreender que um jovem de 15 anos, com muitas dúvidas e incertezas, vem aqui no câmpus e, a partir de uma experiência que ele tem conosco, pode ajudar na tomada de uma decisão, talvez uma das mais importantes e difíceis da sua vida”, afirma Comin. Ele lembrou ainda que “há jovens que continuam os estudos em áreas diferentes, mas acredito que esses jovens chegam aonde chegam a partir do ensino integral que tiveram dentro do Instituto Federal”.
Além dos debates, o evento também contou com palestras e apresentações de trabalhos de servidores e estudantes, integrando ensino, pesquisa e extensão.
Participação estudantil
O estudante do segundo ano do curso técnico integrado em Química no Câmpus Criciúma, Estevam Bitencourt Torres, foi voluntário na organização do Encontro e também participou do momento de rodas de conversa com colegas de outros câmpus. Nessas atividades, os estudantes do IFSC compartilharam suas experiências e anseios com relação aos seus cursos.
“Fiquei responsável pela parte de relações étnico-raciais em conjunto com as disciplinas em que essas pautas aparecem menos. No caso, o meu grupo trabalhou sobre Matemática e Biologia. Foi muito interessante fazer essa ligação entre as pautas sociais e as disciplinas mais técnicas. Gosto da oportunidade que o IFSC dá para participarmos desses eventos”, afirma o aluno, destacando a importância da discussão sobre a formação integral.
Para Estevam, a integração do Ensino Médio é algo que precisa ser discutido nos câmpus. “A política de formação humana integral é essencial para o Ensino Médio Integrado, pois deve haver uma conciliação entre o curso técnico, o ensino médio básico e, também, os direitos humanos. Além disso, o Câmpus deve ter uma política de relevância social, trazendo conteúdos e projetos voltados ao auxílio da comunidade”, defende o estudante.
Cursos integrados e as novas diretrizes do Ensino Médio
Aliar as diretrizes do Ensino Médio Integrado do IFSC às definidas pela nova legislação do Ensino Médio. Segundo o pró-reitor de Ensino Adriano Larentes da Silva, “o primeiro e o segundo Encontro foram realizados justamente para fortalecer a nossa instituição dentro de um modelo que a gente defende, que é a formação humana integral, com todas áreas do conhecimento, que seja um currículo pleno e emancipador, ao contrário da reforma, que é um currículo fragmentado e com algumas áreas do conhecimento com menor importância”.
Doutora em Educação e professora titular aposentada da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Lucília Machado foi a palestrante da abertura do evento na quarta-feira (6), falando sobre o tema “A Formação Humana Integral como horizonte da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica”. Além de participar da conferência de abertura na quarta à noite, a professora acompanhou o Encontro durante toda a quinta-feira.
“Considero uma iniciativa extremamente positiva. Pretendo, inclusive, continuar acompanhando os trabalhos, os esforços da equipe que está organizando, que elaborou as diretrizes, e verificar os desdobramentos. Nós estamos numa encruzilhada por causa da reforma do Ensino Médio. É possível que essa reforma tenha desdobramentos que nós não temos ainda uma completa compreensão. Então, um evento como esse também se coloca como uma resistência e uma tentativa, portanto, de se firmar a partir da prática, da mobilização dos esforços para fazer essa ideia do Ensino Médio Integrado prosperar, se firmar, ser reconhecida, ganhar legitimidade, porque nós estamos dentro de um contexto de disputa”, destaca a professora.
Lucília Machado avalia como positivas as experiências apresentadas pelos diferentes cursos do IFSC, porém defende a necessidade de mais avanços na efetivação da ideia de Ensino Médio Integrado. Depois da revogação, em 2004, do decreto 2.208, de 1997, estabelecendo a possibilidade do Ensino Médio integrado ao curso técnico, houve poucos avanços no sentido de estabelecer diretrizes nacionais para as escolas, investir massivamente na formação de professores oriundos das áreas técnicas e na elaboração de bases pedagógicas.
Assista à gravação das palestras e debates no canal do IFSC no Youtube.