CÂMPUS ITAJAÍ Data de Publicação: 04 jan 2022 11:24 Data de Atualização: 10 mar 2022 13:25
Além de sair do Ensino Médio Técnico já com uma profissão, quem faz os cursos técnicos integrados também participa de projetos de pesquisa e de extensão ainda durante o Ensino Médio. Um diferencial a mais para quem opta em cursar o técnico integrado no IFSC. Esse é o caso dos egressos do curso técnico integrado em Recursos Pesqueiros do Câmpus Itajaí Gabriela Gervásio, José Uilliam Júnior e Maria Helena Lazzarin que ao longo de três meses analisaram a água que abastece o Câmpus e verificaram a presença de 12 agrotóxicos, inclusive do Carbofurano que está proibido pela Anvisa desde 2017 por apresentar grande risco à saúde. Uma pesquisa que recebeu recursos do edital do IFSC nº 12/2021 Proppi de apoio a projetos integradores e TCCs.
Os estudantes coletaram, a cada 15 dias, durante os meses de junho a setembro, a água da torneira em três pontos diferentes do Câmpus, sendo que em um desses pontos a água havia passado por um filtro de carvão ativado. As amostras foram filtradas em filtros de fibra de vidro e de nylon para limpeza e depois injetadas em um sistema de cromatografia líquida, que é uma técnica utilizada na separação dos componentes de uma amostra, acoplado a um equipamento de espectrômetro de massas, que permite identificar os compostos encontrados em uma amostra a partir da constituição atômica das moléculas.
De um total de 18 amostras coletadas, em nove delas foram detectadas agrotóxicos. A presença das substâncias só foi possível de ser identificada porque foram inseridas no equipamento de espectrômetro de massas amostras de pesticidas que foram doadas pela Epagri e a partir delas a máquina pode detectar nas amostras de água as mesmas substâncias. Os 12 pesticidas encontrados foram: Carbendazim, Tiametoxam, Tiabendazol, Imidacloprido, Acetamiprido, Triciclazol, Carbofurano, Malaoxon, Atrazina, Metalaxil, Azoxistrobina e Etiprol.
A maior quantidade de pesticidas foram encontrados nas primeiras amostras de água coletadas, sendo que nas coletas realizadas ao longo do mês de agosto e setembro não foram detectadas as substâncias. A hipótese levantada pela pesquisa é que a presença das substâncias esteja associada ao cultivo de arroz irrigado na região, já que desde o plantio até a colheita são aplicados uma série de pesticidas nessa cultura. “A aplicação desses pesticidas costuma se dar de acordo com a necessidade do cultivo, isso explica o fato de encontrar as substâncias nas primeiras amostras e não mais nas outras. O que observamos também ao comparar o resultado da análise das amostras com pesquisas anteriores é que as substâncias Azoxistrobina já havia sido encontrada na água coletada na região em 2010 e a Atrazina em uma amostra coletada em 2019, o que se observa que não é um fato novo a presença dessas substâncias na água. Foi muito alarmante o resultado da pesquisa que desenvolvemos, saber que substâncias que estão proibidas por lei ainda são utilizadas. Eu agradeço muito o IFSC por ter tido esta oportunidade de iniciação científica ainda no Ensino Médio”, explica o agora egresso José Uilliam Júnior.
A egressa Gabriela Gervásio também avalia que ter participado da pesquisa agregou não só aos seus conhecimentos laboratoriais e técnicos, mas também permitiu refletir sobre a relevância da qualidade da água que consome. “A presença de pesticidas na água é uma questão muito preocupante, ainda mais quando se constata a presença de um agrotóxico como o Carbofurano. Apesar da indignação com os resultados obtidos, acredito que há tecnologia suficiente para que através de pesquisas e estudos, possamos ter água de maior qualidade e com menos riscos para a saúde.”
A egressa Maria Helena Lazzarin também se surpreendeu com os resultados. “O projeto foi uma experiência incrível e única. Ter a oportunidade de realizá-lo, de conhecer o sistema de cromatografia líquida e encontrar resultados reais é algo que, realmente, só o IFSC poderia nos proporcionar. Eu, particularmente, não esperava encontrar tantos resíduos. Além disso, o que mais me assustou foi saber que os encontramos fora de época de plantios, ou seja, existem muitos outros resíduos em concentrações mais elevadas na água, durante outros períodos do ano. A pesquisa me fez repensar meus hábitos, entretanto, se a água de abastecimento está contaminada, consequentemente, a água de irrigação dos plantios orgânicos também está. Então, acaba nos deixando "sem saída" nesse sentido, infelizmente.”
O professor Mathias Schramm, que foi o coordenador da pesquisa, explica que a ideia para o projeto começou há dois anos quando outros dois egressos começaram a pesquisar sobre a presença de agrotóxicos nos rios Itajaí-mirim e Itajaí-açu e a partir de um projeto integrador realizado no Câmpus Gaspar que coletou a água de ribeirões próximos a plantações de arroz. “Esse é um projeto que pode continuar a ser desenvolvido porque não chegamos a quantificar os agrotóxicos encontrados e seria interessante que a pesquisa fosse ampliada e fossem coletadas amostras ao longo de um ano. Nós temos laboratório, equipamentos e corpo técnico para desenvolver essas pesquisas, mas quem faz realmente as pesquisas são os estudantes. Quanto mais a gente conseguir envolver os alunos nos projetos de pesquisa e extensão, mais resultados nós vamos alcançar. O que é um diferencial da instituição é que temos uma série de editais para fomento dessas pesquisas. Por iniciativa dos estudantes também estamos pesquisando sobre a toxina encontradas nas espécies de baiacu.”
A pesquisa foi apresentada na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia do Câmpus Itajaí realizada de 25 a 27 de novembro. Para conferir a apresentação do trabalho, clique aqui.