SEPEI Data de Publicação: 31 jul 2019 18:00 Data de Atualização: 26 jul 2019 14:24
Imagine uma estação de monitoramento meteorológico que fica em um morro sem nada ao redor, sendo que o obstáculo mais perto tem que estar distante dez vezes a sua própria altura para não bloquear o vento e gerar sombra. Neste caso, as métricas coletadas são da região como um todo. Agora, imagine uma plantação de uva e ela não se localiza só no morro, já que pode estar entre árvores e pinheiros.
Que alternativa pode ser usada para o monitoramento dessa área? Um "Sistema de monitoramento Remoto de Microclima em Vinhedos", que é o projeto do professor Robson Costa, do curso superior em Ciência da Computação do Câmpus Lages, aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), e apresentado nesta quarta-feira (31), no Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação (Sepei).
A pesquisa já está em desenvolvimento. Para tanto, conta com equipamentos como anemômetros, que medem a velocidade do vento, pluviômetros, que calculam a quantidade de chuva, birutas, que sinalizam o sentido e deslocamento do vento, bem como o servidor e sensores de umidade e temperatura do ar, umidade do solo e índice de molhamento foliar.
A proposta é colocar estações de monitoramento em vários pontos da plantação de uva que pode estar tanto no morro como perto de um banhado, em uma propriedade de São Joaquim (SC). “Será implantado em vários pontos porque as características são diferentes. O sistema é menor, os outros pegam o ambiente como um todo e nesse caso o objetivo é realmente pegar a influência na plantação específica. O produtor produz normalmente em uma plantação e em outra com a ajuda do monitoramento”, comenta Robson.
O funcionamento
O primeiro objetivo é coletar as informações do microclima (clima em uma região geográfica pequena) local. O segundo objetivo é usar um modelo fenológico de previsão de doenças, já existente e que será ajustado à condição climática local. O modelo é baseado em números de temperatura mínima, máxima e média, velocidade do vento, chuva, umidade relativa do ar, molhamento da folha, isolação e horas de escuro, que serão programados.
O modelo é resultado de pesquisa de mestrado do professor de Agroecologia do câmpus Roberto Komatsu. “É uma ferramenta que vai auxiliar o produtor de uva na tomada de decisão do controle de fungo para diminuir o impacto na sua produção”, diz. Inicialmente o modelo será usado para detectar a doença míldio da videira, causada pelo fungo Plasmopara viticola, e apresenta a condição em que o fungo vai liberar seus esporos (“sementes”).
Os valores coletados são monitorados através da internet e encaminhados para um servidor, com as informações ficando em um banco de dados. As regras do modelo são aplicadas em cima dos dados coletados diariamente. O servidor verifica se há indício de doença e emite um alerta, sobre o risco naquela região. “Então o produtor verifica se houve a ameaça mesmo. Depois de testes a gente vai colocar um motor de inteligência artificial (IA) que vai ‘treinar’ o modelo. Funciona como um spam no e-mail: vai chegar a mensagem e você vai dizer ‘é ou não é’, ‘está certo ou não’ e assim ele sabe se acertou ou errou e vai melhorando sozinho o modelo”, explica Robson.
O sistema vai estar conectado a uma bateria, abastecida por uma placa solar. O consumo da bateria acontece quando é transmitida uma informação: a bateria armazena a informação e transmite tudo em uma só vez. “A informação pode ser coletada quatro vezes ao dia a cada 6 horas, o que vai garantir pelo menos um mês sem mexer lá”, afirma Robson.
Ideia do projeto
A ideia do professor era fazer um projeto de pesquisa que integrasse outras áreas e não só computação. “Como a agro é muito forte no Brasil, temos um curso da área no câmpus e a demanda da região principalmente com a viticultura cresceu muito, então pensei em fazer um projeto voltado para isto”, lembra Robson. Em pesquisa, ele encontrou um modelo que usa a inteligência artificial que faz a previsão do surgimento de pragas na plantação. O projeto é suíço e foi aplicado na Espanha e na Itália.
Além disso o professor pode usar seu conhecimento na área de Internet of Things (IoT), a “internet das coisas”. “É basicamente você pegar uma coisa, colocar internet nisso e jogar a informação para a internet. É uma forma de gerar pesquisa para outros cursos através dos dados gerados sobre determinado espaço”, conta Robson.
O projeto atual é específico para uva, mas Robson explica outra alternativa. “Tivemos alguns retornos quando procuramos empresas e a maçã é um dos interesses. Para isso o modelo e a análise de dados mudariam. É uma possibilidade futura”, finaliza. Após os resultados, há possibilidade de rodar uma unidade no Câmpus Urupema, que tem o curso superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia.