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Reitor do IFSC fala sobre prioridades da gestão e desafios da pandemia

INSTITUCIONAL Data de Publicação: 18 ago 2021 15:50 Data de Atualização: 23 ago 2021 11:28

Foram 478 dias de espera, como ele próprio faz questão de detalhar. Eleito em dezembro de 2019 para ocupar o cargo de dirigente máximo do IFSC, o professor Maurício Gariba Júnior, 60 anos, tomou posse nesta quarta-feira (18 de agosto), em cerimônia realizada no Ministério da Educação, em Brasília (DF). Servidor desde 1989, o agora reitor do IFSC irá comandar a instituição nos próximos quatro anos, ciente dos desafios impostos pela pandemia de Covid-19, que se somam às demais questões institucionais a administrar. “Nosso compromisso é construir com todos, estudantes, técnicos administrativos, docentes, uma instituição melhor de trabalhar e de estudar”, garante.

O adiamento da posse em função do transcurso de um processo administrativo disciplinar (PAD) contra o então reitor eleito e os servidores Andréa Martins Andujar e Aloísio Silva Júnior – nomes indicados à Diretoria Executiva e à Pró-Reitoria de Administração – levou a um período de muita inquietação, admite Gariba. “É uma satisfação estar aqui, e ver que o processo democrático foi respeitado, depois de um ano e quatro meses em que passamos por vários momentos de angústia”, afirma. “Quando saiu o arquivamento por falta de provas, foi o momento mais importante porque mostrou que aquele processo não tinha fundamento, era um processo vazio”, complementa.

Além de Andréa na Diretoria Executiva e Aloísio na Pró-Reitoria de Administração, estão confirmados também na nova gestão os pró-reitores Adriano Larentes da Silva (Ensino), Jesué Graciliano da Silva (Desenvolvimento Institucional), Valter Vander de Oliveira (Extensão) e Flávia Maia Moreira (Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação). Uma alteração estrutural antecipada pelo reitor recém-empossado é a desvinculação da área de Relações Externas da Proex: essas atribuições passarão a compor a nova Assessoria de Relações Externas e Internacionais. Essa será uma das primeiras mudanças, e outras poderão se seguir com uma revisão do Estatuto e do Regimento do IFSC a ser proposta ao Conselho Superior (Consup) dentro de um ano, na estimativa da nova gestão.

Nesta entrevista, o reitor Maurício Gariba Júnior fala sobre alguns dos principais desafios que serão enfrentados pelo IFSC no futuro próximo, definindo alguns temas prioritários da gestão. Na conversa, abordam-se também questões ligadas à pandemia de Covid-19, o projeto de implementação do teletrabalho, ensino remoto, permanência e êxito dos estudantes, orçamento e flexibilização da jornada de trabalho.

Assista ao vídeo com os principais trechos da entrevista:

 

Com a posse da nova gestão, quais ações serão prioritárias nesse primeiro momento?

Maurício Gariba Júnior - Durante esse período todo, durante a intervenção, nós discutimos muito a questão do Plano de Gestão, porque ele é dinâmico. Ele precisaria ser e de fato foi revisto em vários aspectos. Do Plano de Gestão nós elencamos cinco ações emergenciais que nós já vamos discutir logo que toda a equipe assuma. São eles: 1) escuta e diálogo na Reitoria e com os câmpus, ou seja, enfatizar o fato de que nós valorizamos os câmpus, a Reitoria precisa se descentralizar; 2) atenção à saúde e às condições de trabalho dos servidores; 3) atenção aos estudantes em situação de vulnerabilidade; 4) planejamento integrado na Reitoria e com os câmpus; e 5) formação continuada no trabalho. Cada uma dessas ações tem outras cinco subações relacionadas. Essas são as “prioridades das prioridades”. Nós não temos muito tempo até o final do ano. Mesmo assim estamos organizando um grupo de trabalho para discutir o planejamento de 2022. Esse grupo deve ser formado e coordenado pelo professor Jesué [pró-reitor de Desenvolvimento Institucional], mas terá participação de vários entes e várias pessoas para que a gente possa realmente pensar esse planejamento.

Em dezembro de 2019, quando ocorreu a eleição, o contexto institucional era bem diferente já que, naquela época, ainda não tínhamos entrado na pandemia. De lá para cá, muitos processos e rotinas precisaram ser mudados em função do trabalho remoto, das ANPs e da necessidade de garantir a segurança da comunidade. Como a gestão está se preparando para assumir nesse novo cenário, que era imprevisível quando foi elaborado o planejamento para o mandato?

Gariba - Nós temos a PSS, que é a Política de Segurança Sanitária, que está sendo discutida no Conselho Superior, que é o órgão máximo. Então nós vamos acompanhar essas discussões e o próprio relatório do Comitê Técnico-Científico, vamos acompanhar essa movimentação. Temos uma preocupação. Eu sei que há uma pressão, principalmente dos pais em relação a retorno presencial. Então a gente tem que ter muita calma, porque primeiro nós temos aí uma variante delta que está trazendo muita preocupação no meio científico. Segundo, nós temos que respeitar os relatórios que estão sendo feitos pelo Comitê Técnico-Científico. Terceiro, é o Conselho Superior que determina a entrada em uma ou outra fase. Então são preocupações, você tem toda razão, mas a gente sempre vai respeitar o fórum máximo da instituição, e sempre baseado na ciência. A gente entende a pressão que está sendo feita em cima dos diretores, mas é o Conselho Superior que determina essa passagem de fase. E outro detalhe importante, a gente tem visto escolas que voltaram e agora estão sendo fechadas exatamente pelo aumento do vírus da Covid. Então assim, lutamos pela vacina, queremos que todos sejam vacinados, e vamos acompanhando o progresso da ciência contra esse vírus.

O trabalho remoto implementado durante a pandemia foi inevitável para manter o funcionamento da instituição, e isso não é uma situação só do IFSC, mas que mobiliza o mundo do trabalho de forma geral. E durante a pandemia, a regulamentação do teletrabalho começou a ser discutida internamente, a partir da normatização dos Programas de Gestão dos órgãos federais pelo Ministério da Economia. Como a gestão está vendo essa discussão?

Gariba - Durante esse período nós tivemos dois contatos importantes com os representantes da CPPD e representantes da CIS - docentes e técnicos. E conversamos várias questões relacionadas ao teletrabalho. [...] Essa questão do teletrabalho não pode virar uma sobrecarga aos nossos colegas. A gente tem que ter essa preocupação. Ela tem que vir em benefício, claro, institucional, mas também dos nossos técnicos administrativos e até docentes. Essa é a nossa preocupação. Por isso que nós estamos tirando uma FG1 que hoje está no Gabinete e deslocando para a DGP [Diretoria de Gestão de Pessoas] para recriar a Coordenadoria de Atenção à Saúde. É muito importante essa discussão. Tem estudos de vários colegas que estão com problemas de saúde. Então o teletrabalho não pode ser um fardo neste momento, tem que ser algo que realmente traga qualidade de vida para os nossos colegas. Essa é a nossa preocupação. É claro que é importante que a comunidade discuta os benefícios, os malefícios, enfim, e chegue em uma conclusão. O que a comunidade decidir nós vamos colocar em prática.

Nas discussões sobre a regulamentação do teletrabalho surgiu também a questão da flexibilização da jornada de trabalho, já que, a princípio, o teletrabalho e a flexibilização não seriam compatíveis. E a revisão dos processos de flexibilização é um dos itens do Plano de Gestão. Como vocês vão dar andamento a essa conversa, que é um assunto bem delicado, dentro da instituição durante a gestão?

Gariba - Sim, nós temos esse compromisso, realmente nós vamos rediscutir a questão da jornada flexibilizada. Quando a flexibilização teve sua implantação, eu participei de um grupo de implantação e acompanhamento. Esse grupo foi desfeito. Nós temos que chamar o sindicato, temos que ter representantes dos técnicos, temos que ter representação estudantil também, porque isso influencia no dia a dia dos estudantes. Então claro, dentro da legislação, dentro do que é possível, nós vamos discutir a flexibilização da jornada de trabalho dentro dessa perspectiva também da qualidade de vida, da questão da saúde. 

Nos últimos meses, a pandemia também fez entrar na pauta a discussão do ensino híbrido e das atividades não presenciais. Quando não estivermos mais em contexto de pandemia, qual a perspectiva de manutenção e mesmo ampliação do ensino híbrido? Levando em conta tanto a experiência anterior do IFSC com educação a distância e também a possibilidade legal de carga horária a distância em cursos superiores, por exemplo. 

Gariba - Você frisou muito bem, o que nós estamos vivendo neste momento não é educação a distância, é atividade não presencial. [...] Aquele momento da UAB, a Universidade Aberta do Brasil, foi um momento muito rico e que possibilitou a inclusão de pessoas que nem imaginavam que na sua cidade teria uma instituição pública, uma instituição federal que ofertasse cursos gratuitamente. Na avaliação que nós fizemos com o Adriano [Larentes da Silva], que vai assumir a Pró-Reitoria de Ensino, se você olhar, não existe nenhuma estrutura que discuta a política de educação a distância, e mesmo a da formação. O Centro de Referência faz muito bem a formação, oferta cursos a distância, mas nós não temos no âmbito da Pró-Reitoria de Ensino uma estrutura que discuta institucionalmente a política de educação a distância, que fortaleça a educação a distância. Você já frisou muito bem que isso está na lei, que é permitido os 20% [de carga horária EaD em disciplinas de cursos de graduação]. Então nós precisamos fortalecer os Neads, a gente precisa discutir que educação a distância nós queremos e se é possível realmente que ela faça parte de um momento dos cursos que nós ofertamos, quer técnico, quer graduação, quer mestrado. Porque de qualquer forma nós precisamos usar a tecnologia em benefício do ensino e para isso há necessidade, também, de capacitação, de discutir. [...] É claro que nós não vamos deixar a questão presencial, que é fundamental. [...] Mas existem formas de você utilizar a tecnologia a favor da educação, a favor da educação inclusiva. [...] Nós precisamos avaliar as várias experiências que foram realizadas nesse momento de pandemia. Existem várias experiências interessantes que a gente precisa ter acesso, professores fizeram experiências que precisam ser socializadas e isso a gente quer permitir, discutir.

Entre tantas pressões, voltar ou não para o presencial, como vocês pretendem encontrar um equilíbrio entre garantir a segurança e manter as atividades sem prejuízo acadêmico? Você acredita que a Política de Segurança dá conta de responder e orientar esse processo?

Gariba - É o documento que nós temos e precisa ser sempre avaliado. É um processo dinâmico também. A nossa grande preocupação está com a permanência e êxito desses alunos, tanto é que, pela plataforma Nilo Peçanha, o Instituto Federal de Santa Catarina já tinha altos índices de evasão e isso se agravou com a pandemia. Então dentro dessa visão nós temos a atenção aos estudantes em situação de vulnerabilidade, isso vai se dar por várias ações. Uma delas é a criação do Observatório de Inclusão, Permanência e Êxito - proposta da Pró-Reitoria de Ensino que quer discutir com o Conselho Superior, vai trazer a proposta para o Conselho Superior. Outra questão é a retomada do Plano de Permanência e Êxito, que precisa ser rediscutido novamente, ficou na gavetinha e precisa ser refeito. Temos também um ótimo trabalho feito pelos técnicos Silvio [Aparecido da Silva] e Tiago [Spiandorello] que online temos o número de alunos que estão em situação muito peculiar, não estão matriculados. Hoje são quase 30 mil alunos na Rede [IFSC] e 4 mil estão sem matrícula. [...] Nós precisamos nos debruçar sobre isso com a máxima urgência. Adriano está imbuído nessa situação que a gente tem passado e a pandemia piorou. Se a gente falar que não houve prejuízo, a gente está omitindo a realidade. Claro que houve prejuízo. A gente percebe, eu sou professor e vejo os alunos com dificuldade às vezes de acessar um simples celular e a gente vê a desistência desses alunos rapidamente. [...] Claro que nosso compromisso é de uma articulação não só do ensino, mas do ensino com a pesquisa, a extensão, a administração, o desenvolvimento institucional. Essa articulação é importante para que a gente se debruce sobre esse problema grave da questão da evasão.

Explique melhor essa questão dos alunos matriculados que não estão matriculados: eles existem na plataforma como nossos alunos, mas não estão matriculados em nenhuma disciplina? É isso?

Gariba - São “alunos ativos sem turma”: alunos ativos que não estão matriculados em nenhuma turma. Hoje são 4.221 dos 30 mil alunos que estão cursando neste momento. É uma situação complicada que precisa de atenção. O que houve? O aluno não desistiu, não se matriculou, ficou num limbo. [...] A gente sabe que tem muitos alunos também que estão aguardando a volta presencial para retornar. Mas esses não, eles não estão matriculados, não pediram cancelamento, estão numa situação bastante peculiar

Nos últimos anos os institutos e universidades federais vêm sofrendo sucessivos cortes. No IFSC, o orçamento que já chegou a 117 milhões em 2015 caiu para 62 milhões este ano. Que alternativas a gestão vislumbra para administrar essa realidade adversa e manter o pleno funcionamento da instituição?

Gariba - Primeiro, a nossa atuação dentro do Conif, com outros reitores dos IFs e diretores dos Cefets, é fundamental. O Conif é o órgão de pressão para que essa situação seja revisada pelo Ministério da Educação. Numa entrevista o próprio ministro elogiou o papel dos institutos federais, mas o que se percebe é que o orçamento tem ficado cada vez menor. Ou seja, a instituição cresce em termos de alunos, em termos de obras também, porque uma obra requer manutenção, e os recursos diminuem. Então há necessidade de fazer um trabalho articulado junto ao Conif. Isso é importante. Nós precisamos que o ministério reveja o orçamento institucional. É claro que além disso nós vamos buscar esse contato [com parlamentares]. Nós precisamos ter sempre o contato com os deputados federais, senadores, mesmo os deputados estaduais e até os vereadores. [...] Esse contato nós estamos nos propondo, vamos fazer, independente de partido. O que nós queremos é ver uma instituição forte. E pra uma instituição forte, com qualidade, inclusiva, nós precisamos de recursos.

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