Estudantes e professora desenvolvem materiais para construção civil com conchas de ostras e plástico

PESQUISA Data de Publicação: 13 dez 2024 15:57 Data de Atualização: 13 dez 2024 18:19

A produção de ostras em Florianópolis, a maior do Brasil, traz benefícios gastronômicos, mas um desafio ambiental: o que fazer com as conchas do molusco? Hoje não há um descarte adequado para esse resíduo - muitas vezes ele é jogado no próprio mar - e, por isso, um grupo de estudantes de cursos técnicos integrados ao ensino médio do Câmpus Florianópolis do IFSC trabalhou neste semestre em um projeto que teve como objetivo desenvolver materiais para construção civil com conchas de ostras.

O que torna possível o uso das conchas das ostras na construção civil é o fato de elas serem ricas em uma substância chamada carbonato de cálcio (fórmula química CaCO₃), que é usada nessa indústria e geralmente obtida por meio da mineração, uma atividade de alto impacto ambiental. As estudantes Alicia Ricori Canciani (18 anos, curso de Química), Dandara Janata de Anhaia (18 anos, Saneamento), Olga Eick Cardoso (17 anos, Química) e Vitória Regina Pisa Bazzanello (18 anos, Química), orientadas pela professora Claudia Lira, trabalharam na criação de compósitos do carbonato de cálcio com materiais plásticos descartados.

Compósito é um material formado a partir da mistura de dois ou mais materiais diferentes. O objetivo das pesquisadoras do IFSC foi criar um substituto para o mármore nas construções. “Nosso objetivo é conseguir a mesma textura e propriedades parecidas com as do mármore”, comenta a professora Claudia, de química, que já coordenou outros projetos de reaproveitamento de conchas de ostras.

Para fazer os testes com as misturas, elas usaram as conchas de ostras, obtidas com produtores locais, em diferentes graus de trituração, polipropileno (plástico obtido com copos de café) e isopor. As proporções também variaram: algumas misturas tiveram 30% de concha e 70% de plástico e outras foram “meio a meio”. Os melhores resultados ocorreram na proporção 30%-70%, obtendo um material com a mesma resistência do mármore, mas mais leve. Por ser visualmente mais rústico, ele pode ser usado em aplicações não estéticas.

As pesquisadoras também destacam que o material pode ser produzido com baixo custo. “Pessoas de baixa renda conseguiriam adquiri-lo”, diz Alicia.

A iniciativa das estudantes resultou também em outros materiais. Em uma parceria com a professora Andrea Murillo Betioli, da área de Construção Civil do Câmpus Florianópolis, as conchas foram misturadas com cimento em um teste para desenvolver ladrilhos e revestimentos para construção civil.

Esse experimento foi premiado com o segundo lugar na Feira de Ensino, Pesquisa e Extensão da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) do câmpus. Chamou também a atenção de escritórios de arquitetura de Balneário Camboriú e do Rio de Janeiro e acabou sendo apresentado por eles na CasaCor, uma mostra de arquitetura, design de interiores e paisagismo realizada em Florianópolis entre setembro e novembro.
 

Poder para as garotas


A equipe inteira de pesquisadoras é formada por mulheres não por acaso. Ela foi criada para participar do programa Power4Girls, uma iniciativa de incentivo ao desenvolvimento de lideranças femininas, que trabalha com a temática “Economia circular e sustentabilidade” e é resultado de uma colaboração entre a Embaixada e consulados dos Estados Unidos no Brasil em parceria com o Instituto Gloria.

O nome do programa, traduzido para o português, é “Poder para as garotas” (o nome do número 4 em inglês, four, tem escrita e pronúncias parecidas com a palavra “para” - for -, por isso o trocadilho). As equipes contempladas são acompanhadas por uma mentora e têm capacitações em áreas como gestão de projetos, economia  circular e empreendedorismo. No caso da equipe do IFSC, batizada de EcoOstras, a mentora foi uma estudante de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Luiza Nodari Neves.

Para Alicia Canciani, a participação no programa permitiu às pesquisadoras identificar forças e fraquezas do projeto. “Também mudou muito minha visão sobre sustentabilidade. Hoje me importo bem mais”, complementa. Saber trabalhar em equipe e ter contato com o mundo empresarial foram outros benefícios que o grupo teve, na visão das estudantes.

Em 2024, o Power4Girls recebeu 215 inscrições e selecionou apenas 20 equipes de todo o Brasil. Além do EcoOstras, o IFSC também teve como contemplado o projeto de uma mini turbina eólica sustentável, desenvolvido por estudantes do curso técnico integrado em Desenvolvimento de Sistemas do Câmpus Chapecó.

As atividades do Power4Girls foram até novembro, quando os protótipos e resultados finais dos projetos foram apresentados em Brasília, com os custos da viagem e hospedagem arcados pela Embaixada dos Estados Unidos. “Foram dias de intensa atividade como palestras, oficinas, competição onde pudemos conhecer diferentes projetos de meninas de todo o Brasil, com muitas trocas e aprendizados”, conta a professora Claudia Lira.

​​​​​​​As atividades da equipe EcoOstras estão registradas no perfil criado pelas estudantes do IFSC no Instagram (@ecoostras).

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