INSTITUCIONAL Data de Publicação: 24 nov 2023 13:32 Data de Atualização: 24 nov 2023 14:01
“Construindo pontes: como eliminar o racismo da nossa comunicação?” foi o tema da palestra da professora de História do Câmpus Garopaba, Renata Waleska Pimenta, durante o Encontro de Comunicadores do IFSC na quinta-feira (23), no Câmpus Florianópolis-Continente. Renata é integrante do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígena do Câmpus Garopaba e realiza pesquisas sobre esta temática.
A professora iniciou sua fala afirmando que “não há como eliminar o racismo da comunicação sem reconhecer que precisamos eliminar o racismo da sociedade”. Segundo ela, vivemos atualmente em uma época em que se que nega este problema, onde o mito da “democracia racial” ainda está muito presente e onde “parte significativa da sociedade brasileira acredita que o racismo é mimimi”.
Uma prova objetiva de discriminação são os marcadores da violência, como estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ou do Atlas da Violência, que trazem sempre as pessoas negras, especialmente as mulheres negras, como os grupos mais vulneráveis.
As ações afirmativas, como a lei de cotas, e outras legislações como a lei de crimes resultantes de preconceito de raça ou cor, ou a lei que torna obrigatório o ensino da "História e Cultura Afro-Brasileira" na rede pública, são alguns avanços que representam conquistas da luta secular pelo combate ao racismo.
A professora Renata alerta, porém, que a ideia do combate ao racismo não deve estar ligada à “exclusão”, ou “cancelamento” de quem tem atitudes racistas. “Também precisamos falar com os racistas, para a sociedade”. Para ela, o racismo na imprensa, na publicidade e na comunicação em geral sempre foi permitido de alguma maneira, resultante das relações culturais e econômicas da modernidade. Tanto a ciência como a cultura popular trazem o negro como uma figura de subalternidade.
Como a comunicação reflete o racismo?
A linguagem pode ser usada como uma ferramenta de discriminação racial a partir de três práticas, listadas pela professora Renata:
- Estereótipos linguísticos: utilização de expressões, palavras ou frases que associam grupos étnicos a características negativas;
- Uso de termos pejorativos: utilização de palavras depreciativas e ofensivas para se referir a determinados grupos étnicos, raciais ou culturais, reforçando atitudes discriminatórias;
- Exclusão linguística: negligenciar ou excluir certos grupos ao usar linguagem que não reflete a diversidade, contribuindo para a marginalização e invisibilidade desses grupos.
Expressões naturalizadas, tanto na imprensa como nas falas do dia a dia, reproduzem estereótipos e termos pejorativos, frequentemente associando a população negra à subalternidade, criminalidade ou sexualidade, ou mesmo excluindo a representatividade em palavras ou imagens.
Outra discussão importante diz respeito à denominação da população negra: “Discussões sobre o colorismo, se é negro, preto, pardo, tem surgido a partir da política de cotas, onde há a necessidade dessa delimitação para se evitar fraudes”, destaca Renata. Porém, mesmo na subdivisão feita pelo IBGE para denominar “pretos” e “pardos”, ainda não é pacífica.
Então, por onde começar? Evitar expressões como “serviço de preto”, “a coisa está preta”, “mulata” ou o verbo “denegrir” na comunicação organizacional e no nosso dia a dia, bem como evitar a divulgação de imagens de pessoas negras em situações de constrangimento, já pode ser um começo para se combater o racismo a partir da comunicação.
No IFSC, os Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabis) são referência na promoção do letramento racial nos câmpus. Porém, alerta Renata, o combate ao racismo não deve ser responsabilidade somente dos Neabis, mas de toda a comunidade acadêmica.