PESQUISA Data de Publicação: 19 mai 2023 10:10 Data de Atualização: 07 jun 2023 19:02
Um projeto de pesquisa que está sendo realizado no Câmpus Itajaí identificou a presença de microplásticos em moluscos bivalves como ostras e mariscos. Fragmentos de plásticos estão sendo encontrados nas amostras que já foram processadas e que são provenientes de dois pontos considerados polos de cultivo na região (Penha e em Bombinhas). “Todas as amostras que recebemos até agora tinham microplásticos, já encontramos sete microplásticos em uma amostra de ostra e 13 em uma de um mexilhão. Os dois animais são filtradores e acabam ingerindo o microplástico devido ao comportamento similar que esses resíduos têm do fitoplâcton, que é o alimento natural deles. Para se ter uma ideia em uma amostra que chegou logo após o carnaval, nós identificamos inclusive a presença de glitter, dá para ver no microscópio os pontos de brilho”, explica a estudante do curso técnico em Recursos Pesqueiros Letícia Furtado, que é uma das voluntárias do projeto.
A pesquisa está sendo coordenada pelo professor Thiago Pereira Alves e conta com estudantes do curso técnico integrado em Recursos Pesqueiros do Câmpus Itajaí. A proposta do grupo é analisar amostras de cultivo de moluscos bivalves de Penha e Bombinhas e realizar, pelo menos, uma análise em cada uma das estações do ano. “Até o momento, analisamos a coleta que foi feita no verão e no outono em que pegamos amostras dos moluscos do mar e da banca onde eles costumam ser vendidos. Estamos coletando nesses dois lugares porque queremos entender se a quantidade de microplástico encontrada nos moluscos é a mesma ou se há alguma alteração quando ele é manuseado, aberto e limpo”, explica o bolsista do projeto, o estudante de Recursos Pesqueiros Guilherme Mendes.
Quando chegam ao Laboratório Oficial de Análise de Resíduos e Contaminantes em Recursos Pesqueiros (Laqua), no Câmpus Itajaí, os moluscos são abertos pelos estudantes e é feita a retirada de todo o trato digestivo dos animais. A escolha pela análise do sistema digestivo se dá porque é onde ficam os fragmentos do que é efetivamente ingerido pelo molusco. O material é colocado em solução alcalina por 48 horas e, após esse período, passa por um processo de filtragem em que ficam apenas os microplásticos. Esses resíduos têm cerca de cinquenta micrômetros e não podem ser vistos a olho nu, por isso precisam ser analisados no microscópio. “Ao olhar os microplásticos no microscópio, percebemos que há diferentes colorações o que nos leva a crer que eles têm origens diferentes. Por exemplo, um que encontramos com um tom de verde remete ao plástico de garrafa PET e outro que parecia trançado lembrava os resíduos de uma corda de pesca ou da maricultura”, comenta a estudante Mariana Pereira, voluntária do projeto.
Parte dos resíduos encontrados pelos estudantes foi levado para o laboratório de química do câmpus Florianópolis do IFSC, onde há um equipamento capaz de fazer a identificação dos polímeros plásticos por infravermelho e eles podem ser analisados e categorizados a partir de um banco de dados de uma biblioteca digital. A proposta é que estudantes do câmpus Florianópolis também auxiliem nesse processo de identificação dos materiais. “Esses resultados mostram que a Política Nacional de Resíduos Sólidos não está sendo eficiente, que aquilo que não está sendo devidamente tratado vai parar no oceano. A ciência já sabe que nós consumimos plásticos e agora nós temos que avançar para tentar entender quais são as consequências disso”, avalia o professor Thiago Pereira Alves.
O projeto “Investigação da presença de microplásticos em moluscos de cultivo em Santa Catarina” começou a ser executado em fevereiro e terá duração de um ano. A pesquisa está sendo custeada com recursos do Câmpus Itajaí através de edital interno de pesquisa.
Iniciação científica
A proposta da pesquisa surgiu a partir dos resultados de um projeto integrador, que é o trabalho de conclusão do curso técnico, de estudantes do técnico integrado em Recursos Pesqueiros e tem sido uma grande oportunidade para os alunos testarem seus conhecimentos na área ao mesmo tempo em que contribuem para o conhecimento científico. “Para mim foi uma grande mudança quando eu resolvi participar da pesquisa. Hoje eu sei que é em laboratório que eu gosto de trabalhar e quero fazer o curso superior de Farmácia. Eu sei de estudantes de cursos superiores na área de ciências biológicas que, mesmo no final do curso, não têm acesso aos equipamentos que nós estamos utilizando aqui na nossa pesquisa”, afirma a estudante Letícia Furtado.
O estudante Guilherme Mendes destaca que a participação na pesquisa tem contribuído tanto para sua formação pessoal quanto profissional. “Eu vejo que com este projeto a gente envolve ensino, porque precisamos de uma série de conhecimentos de química e da área de Recursos Pesqueiros, a própria pesquisa e a extensão porque os resultados que sairão daqui também vão contribuir com o dia a dia das pessoas.”
Além do Guilherme, da Letícia e da Mariana, também participam do projeto as voluntárias Eduarda Reis, Maria Letícia Imme e Ana Beatriz Morais.