Câmpus Araranguá forma duas turmas de qualificação profissional vinculada à Educação de Jovens e Adultos

ENSINO Data de Publicação: 05 jul 2023 16:27 Data de Atualização: 06 jul 2023 13:29

O Câmpus Araranguá do Instituto Federal de Santa Catarina concluiu no dia 30 de junho a primeira etapa de uma experiência de qualificação profissional voltada a pessoas que não concluíram os estudos na idade regular. Em parceria com a prefeitura de Araranguá, 16 alunos que fazem o ensino fundamental na Educação de Jovens e Adultos (EJA) da cidade obtiveram seus certificados nos cursos de qualificação em Eletricista Instalador Predial de Baixa Tensão e Costureiro Industrial do Vestuário.

Os cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC) tiveram carga horária de 200 horas cada. No curso de Costureiro Industrial, 11 mulheres aprenderam a operar máquinas de costura industrial e costurar peças de vestuário de acordo com as normas e procedimentos técnicos e de qualidade. Já no curso de Eletricista Predial, cinco homens receberam formação em instalação e manutenção elétrica predial de baixa tensão. Certificados no IFSC, os alunos seguem cursando o ensino fundamental no Ceja de Araranguá.

A experiência foi tão desafiadora quanto gratificante, já que exigiu um esforço coletivo do Câmpus Araranguá para acolher e acompanhar os estudantes para que concluíssem com êxito seus cursos, superando dificuldades desde a vida pessoal até a ambientação no IFSC. Os alunos receberam auxílio financeiro e apoio da equipe que se engajou no projeto. “Foi um curso muito bacana. A gente acaba acolhendo os alunos e vivendo muita coisa com eles. Alguns desistem pelo caminho, mas a gente tentou ao máximo fazer com que eles concluíssem o curso, dando todo o suporte”, afirma a servidora Aline Furtado Alves, que atuou como tutora do projeto.

Pelo perfil dos estudantes, muitos vivendo em situação de vulnerabilidade social, muitos acabaram tendo que deixar o curso no caminho. Porém, o esforço do Câmpus para a permanência do maior número possível de alunos trouxe aprendizados.

“Como exemplo de boas práticas e experiências, podemos citar a formação de um grupo que se apoia nas dificuldades e a preocupação dos servidores na busca por minimizar os problemas e as dificuldades dos alunos, fossem psicológicas, de baixa autoestima, de vulnerabilidade social, desvalorização, saúde. Outro ponto a ser destacado é a motivação dos alunos quanto à perspectiva financeira que a qualificação profissional pode trazer”, destaca Aline.

Fluxo contínuo

A equipe do Câmpus que fez parte do projeto contou, além de Aline, com a professora Maria Pierina Sanches, o professor Paulo Afonso Baran, o técnico de laboratório Elder Pescador, os bolsistas Diomar dos Santos e Robson de Campos, alunos do curso técnico em Têxtil, o chefe do Departamento de Assuntos Estudantis, Mozart Maragno e o diretor do Câmpus, Adriano Antunes Rodrigues. A participação do professor e coordenador do Ceja de Araranguá, Denner Lucas Casagrande, e da secretária municipal de Educação, Mariluce Bilk, também foi fundamental para o sucesso do projeto. Questões como a prospecção de alunos e o transporte para as aulas no IFSC ficaram a cargo do Eja, contribuindo com o êxito dos concluintes.

De acordo com o diretor Adriano Rodrigues, esta é a segunda experiência do Câmpus Araranguá com um curso Proeja. O aprendizado institucional fez com que os cursos ofertados este ano ocorressem em fluxo contínuo, sem divisão por módulos, permitindo que os alunos em diferentes etapas do curso acompanhassem a sequência das aulas em seu ritmo, diminuindo a evasão.

“Existe uma demanda por qualificação profissional associada à promoção da escolaridade de pessoas que, de certa forma, encontram-se vulneráveis. É uma obrigação legal da nossa instituição atuar na formação de jovens e adultos. Nessa experiência, fomos mais acolhedores no sentido de dar flexibilidade ao processo de formação. Nos adaptamos melhor ao esquema já desenvolvido pelo município, de forma que tivemos muito menos evasão”, afirma Adriano.

"Agora eu tenho um curso"

Rosângela Teixeira foi uma das alunas que concluíram o curso de Costureiro Industrial do Vestuário. Aos 39 anos, ela decidiu retomar os estudos interrompidos no quarto ano do antigo primeiro grau, já que trabalhava na roça e não tinha condições de prosseguir com a vida escolar. Hoje moradora do bairro Coloninha, em Araranguá, Rosângela conta que passava em frente ao IFSC e fica triste pensando que não poderia estudar na instituição.

“Não me passava pela cabeça que um dia eu tivesse essa oportunidade. Mas voltei para a escola, terminei o Ensino Fundamental e surgiu essa oportunidade de fazer o curso de Costura no IFSC. Eu pensei: será? Mas fiz o curso e foi maravilhoso. Fui muito bem recebida, foi um prazer estar junto com a professora. E vai ser muito bom para mim, porque eu largava currículo em vários lugares, para trabalhar, mas não pegava serviço por causa da minha escolaridade. Não tinha curso nenhum. Mas agora eu tenho curso, tenho o Ensino Fundamental e vou fazer o Ensino Médio. Agora eu penso em crescer. Vou largar currículo, pegar um serviço bom e quem sabe um dia voltar para o IFSC”, diz.

Mãe de duas meninas, de 18 e 14 anos, Rosângela pretende aproveitar o certificado para pedir emprego na área de Costura Industrial. Seu sonho é, um dia, trabalhar na área administrativa de uma empresa. Estimula a filha mais nova, que cursa o Ensino Fundamental, a tentar entrar no IFSC no Ensino Médio.

“Às vezes eu pensava em desistir, mas eu disse ‘opa’, tenho que pensar em mim. Aí pensava nas minhas colegas, que sempre falavam que a gente tem que se amar, pensar em si primeiro. Aí eu me arrumava e jogava para a escola”, conta Rosângela. “As pessoas têm que saber que elas também conseguem. Eu hoje me sinto uma mulher, como posso descrever, uma mulher grande, uma mulher completa”.

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