Embala para viagem! Projeto do Câmpus Lages estuda novo jeito de armazenar alimentos de forma sustentável e saudável

PESQUISA Data de Publicação: 03 jun 2024 22:30 Data de Atualização: 14 jun 2024 10:15

Dando seguimento à série de matérias sobre os projetos de pesquisa do Câmpus Lages do IFSC, hoje abordaremos o projeto "Elaboração de filmes para embalagens biodegradáveis antioxidantes e antimicrobianas a base de amido termoplástico e celulose", de coordenação do professor Michael Ramos Nunes. O projeto está em execução e previsto para se encerrar em agosto deste ano e faz parte do Edital 02/2023/PROPPI.

O professor conta que a ideia do projeto surgiu com base na situação do arranjo produtivo local, que é forte na indústria do papel e celulose, gerando muitos subprodutos de sua industrialização. "A ideia seria utilizar alguns derivados de celulose, como, por exemplo, a metilcelulose, que é o material que a gente está usando. Então, a partir de resíduos que não são utilizados pela indústria de celulose, a gente produz a embalagem", comenta o professor. Junto a esse material é acrescentado o amido, que é um polissacarídeo da mesma família da celulose. "Então, a ideia é utilizar esses dois materiais, a celulose, que é abundante aqui na região, e o amido, porque a ideia seria então a produção de embalagens, filmes para embalagens de alimentos", completa.

Michael conta que estão sendo incorporados aos produtos alguns compostos bioativos, como a curcumina, que vem do açafrão, e o própolis, que é um agente antioxidante e antimicrobiano a ser usado nas embalagens. "Então, o foco seria nas embalagens de alimentos e aí essa questão dos bioativos se torna importante na ideia de diminuir os conservantes de alimentos. Existem alguns estudos apontando que alguns tipos de conservantes utilizados pela indústria de alimentos podem ser nocivos, ou até tóxicos, então a ideia seria substituir esses conservantes por agentes naturais, no caso o própolis e o açafrão", complementa. Michael diz que, em caso de contaminação da embalagem com o produto, este adquiriria as propriedades benéficas.

O professor esclarece que trata-se de um projeto de iniciação tecnológica, que ao final gerará um produto, no caso um filme a base de celulose e amido. O foco do produto é ser uma alternativa para a indústria de alimentos. "O projeto é desenvolvido basicamente em laboratório, então a gente tem os alunos bolsistas e eles fazem a parte de execução da parte prática, os testes, além de produzir os filmes bem como os testes de aplicação. Além, claro, de verificar se a funcionalidade está atuando", explica.

Alunos como protagonistas

Um desses bolsistas é o Gabriel Salvador, estudante da quinta fase de Engenharia Química. Ele descobriu o projeto de pesquisa pelos próprios professores à época do início do curso. "A princípio, não houve um interesse em específico por este projeto, foi mais a vontade de ter contato com o laboratório e aprender sobre o básico mesmo, manusear as vidrarias, os processos e aplicar um pouco do que vemos nas matérias do curso, até porque não tive nada do tipo durante o Ensino Médio", conta o aluno.

O estudante se diz participativo no desenvolvimento do projeto, desde a elaboração do filme, da caracterização dele e da verificação se tem capacidades antioxidantes e antimicrobianas. "Também quanta força ele suporta, ou seja, se eu poderia embalar um alimento e ele não rasgar. E, certos parâmetros, comparamos com padrões comerciais, para ver se ele se adequa e se é viável ou não. E por fim, realizo o tratamento dos dados obtidos por meio das análises", diz. Além disso, Gabriel destaca como ponto positivo em fazer parte do projeto a possibilidade de apresentação do trabalho realizado em seminários de pesquisa.

Poder participar dos projetos tem diversos benefícios, como os já citados pelo aluno acima, aqueles dentro do laboratório e no que tange à fixação dos conteúdos. Porém, Gabriel destaca o desenvolvimento de habilidades que são importantes na carreira acadêmica. "Também aprende-se a pesquisar melhor na literatura sobre outros trabalhos acadêmicos, já que muitas vezes temos que procurar na literatura a metodologia que usaremos como base. Ao realizar as análises, consequentemente, estuda-se o princípio delas e o que os dados obtidos significam. E esta prática é justamente a aplicação do conteúdo visto em sala de aula", complementa o aluno.

A estudante Sarah Cardoso de Oliveira Teixeira, também da quinta fase de Engenharia Química, é outra bolsista do projeto. O interesse da aluna pelo projeto vem de seu gosto pelo estudo da sustentabilidade e de soluções inovadoras para problemas ambientais. "Quando o professor Michael apresentou um projeto que envolve sustentabilidade, isso despertou ainda mais meu interesse. Hoje em dia, as salas de aula não são suficientes para transmitir todo o conhecimento necessário para transformar os alunos em grandes profissionais, com isso a iniciação científica deve complementar o aprendizado. Por fim, a possibilidade de trabalhar em um projeto que não só contribui para a ciência, mas que também tem um impacto positivo direto na sociedade e no meio ambiente, foi um fator decisivo para meu envolvimento e dedicação nesse projeto.", conta a aluna.

Sarah também destaca que sua participação no desenvolvimento do projeto e conta que contribuiu ativamente em várias etapas, desde a pesquisa inicial e o planejamento até a execução dos experimentos e a análise dos resultados. Para a estudante, essas atividades oportunizaram mais conhecimento, como em experiência prática no manuseio de materiais e equipamentos de laboratório, e também aprofundamento no conhecimento em técnicas de análise físico-química. "Além disso, enfrentei desafios experimentais e aprendi a lidar para desenvolver soluções eficientes e desenvolvi a capacidade de escrever relatórios técnicos, além de aprimorar minhas habilidades de apresentação oral para comunicar resultados de forma clara. Essas habilidades não só enriqueceram minha formação acadêmica, mas também me prepararam melhor para futuros desafios profissionais", complementa.

Participar de eventos científicos e colaborar em publicações também enriquece a formação acadêmica e profissional da aluna, além de contribuir para a permanência e êxito. "O contato frequente com professores e bolsistas, especialmente com nosso orientador Michael, que é excelente e sempre nos ajuda com toda a sua experiência, fortaleceu minha relação com a instituição", finaliza Sarah. 

O projeto ainda conta com mais um bolsista, de iniciação científica voluntária. É Gabriel Antônio Munaretto, estudante da terceira fase do curso superior de Engenharia Química. Ele conta que está mais relacionado à fase final do projeto, em uma etapa onde é testado se realmente os biofilmes têm todas as propriedades apontadas nos estudos. "Está bem interessante, gosto muito de fazer os testes e depois entender o que está acontecendo, se tem eficácia ou não e o porquê disso. E como o que eu estudo em aula tem relação com o que eu vivencio na pesquisa, é sem dúvidas um diferencial e me ajuda bastante na compreensão dos conteúdos", disse.

O aluno é mais um que destaca que o processo de aprendizagem fica mais dinâmico, entendível e ajuda a escolher o que seguir na carreira. "A Engenharia Química têm muitas possibilidades, a pesquisa é uma delas, bem como a indústria também é. Então, a produção de biofilmes, análises e a pesquisa dão uma ideia de o que seguir na profissão. E, claro, o IFSC está me ajudando bastante nesse quesito, ganhei bolsa semestre passado o que facilitou a minha estadia aqui na cidade, então sem dúvidas, fortalece os laços com a instituição", finaliza

Resultados

O professor Michael conta que o projeto tem cumprido seus objetivos. Foi possível obter o filme (biofilme) desejado e o produto está ainda na fase dos testes e avaliação das aplicações, mas o docente comemora que foi possível produzir o material de forma eficiente. "A gente fez algumas aplicações com pães, que é um material de estudo. O pão, em especial o fatiado, com o tempo apresenta muitos bolores e leveduras, e nos testes preliminares a gente conseguiu perceber uma redução no crescimento de bolores e leveduras quando a gente utiliza essas embalagens, com base de amido e celulose com os antioxidantes. É um resultado promissor", comemora o professor. Ele ressalta que esses resultados foram obtidos em escala de bancada, ou seja, em laboratório.

Os resultados que mais importam são aqueles notados pelos alunos. Projetos como esse e muitos outros do Câmpus Lages são importantes para o desenvolvimento dos alunos, pois se mostram fundamentais no processo de ensino-aprendizagem. "Os alunos acabam colocando em prática todo aquele conteúdo teórico que eles têm lá na sala de aula. Eles têm toda noção ali de análise de materiais, aprendem os princípios básicos de análise, da físico-química de materiais e o desenvolvimento de novos produtos. São colocados em situações de resolução de problemas e isso é muito importante e eles crescem muito", finaliza o professor. 

 

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