SEPEI Data de Publicação: 22 ago 2024 14:18 Data de Atualização: 23 ago 2024 17:57
Com 24 projetos apresentados durante dois dias, a Feira de Inovação foi um dos destaques na programação do Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação do IFSC (Sepei), realizado entre 20 e 22 de agosto no Câmpus São Miguel do Oeste. O total de trabalhos em exposição foi 40% maior que o do Sepei de 2023 (17 projetos).
Temas como sustentabilidade, acessibilidade e inovações no ensino estiveram presentes em vários dos projetos, desenvolvidos em todo o IFSC. No estande “Laser na Educação”, estudantes e servidores do Câmpus São José mostraram os materiais que têm produzido com uma máquina de gravação e corte a laser adquirida pelo câmpus em junho passado. Inicialmente, eles sobem no software do equipamento uma imagem no formato SVG e com o programa indicam para a máquina como a imagem deve ser “impressa”.
Com esse método, já foram elaborados no câmpus peças de madeira como mapas, quebra-cabeças e jogo de dominó para serem usadas como material didático para aulas de geografia e matemática. Com papelão, foi feita uma maquete em relevo do Maciço do Morro da Cruz, área bastante povoada na região central de Florianópolis, também para ser usada em sala de aula.
“Os mapas são usados em aulas do curso Proeja, que lá no nosso câmpus tem muitos estudantes estrangeiros. Fica mais fácil para eles visualizarem como é o Brasil e é um conteúdo atrativo, não é monótono”, conta o estudante Luís Vítor Costa de Siqueira, da Engenharia de Telecomunicações. Os retalhos de madeira que sobram da produção são reaproveitados para elaborar outros materiais. "Senão não seria uma iniciativa sustentável", observa Luís.
O professor de geografia Paulo Henrique Oliveira Porto de Amorim considera que o uso da máquina de gravação e corte a laser para produzir material didático traz novas possibilidades de ensinar conteúdos que geralmente são repassados somente de forma teórica. Um exemplo é o teorema de Pitágoras, que permite calcular o tamanho do lado de um triângulo se soubermos as medidas dos outros dois lados - aquele do “a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa”, lembra? Agora esse teorema pode ser ensinado no câmpus com uso de quebra-cabeças feitos de madeira.
Além disso, segundo Paulo, o envolvimento dos estudantes na produção dos materiais traz benefícios para eles. “Permite que o aluno planeje e construa os materiais e cria um ensino que não é só baseado em repassar conteúdo. O estudante também é protagonista e aprende com seus erros e acertos”, avalia. No momento, não há nenhum projeto de ensino, pesquisa ou extensão específico ligado ao uso da máquina, mas vários professores e alunos de diversos níveis têm utilizado o equipamento no câmpus.
Quebra-cabeça turístico
Os quebra-cabeças apareceram também em um projeto do câmpus mais jovem dentre os que já estão em funcionamento no IFSC, o de São Lourenço do Oeste. Eles foram o recurso usado por alunos do curso técnico em Administração em um projeto de extensão que teve como objetivo promover pontos turísticos do município entre os próprios moradores. “Queríamos fazer as pessoas conhecerem mais a própria cidade”, conta o estudante Vinícius Pereira Antunes.
São Lourenço do Oeste ainda não é um grande destino turístico e mesmo moradores da cidade desconhecem algumas das atrações que a cidade possui. Partindo dessa premissa, os estudantes, supervisionados pelo professor Alex Restelli, identificaram e fotografaram locais com potencial para atrair visitantes, criaram um perfil no Instagram para divulgar as imagens e realizaram um concurso para definir aquelas que virariam quebra-cabeças. Essa honraria coube às cinco fotografias mais curtidas na rede social.
A partir daí, os alunos de Administração buscaram um fornecedor que pudesse transformar as imagens em quebra-cabeças e chegaram à Grow, uma das maiores empresas do Brasil no ramo de brinquedos e jogos de tabuleiro. “Com esse projeto, os estudantes exercitam diversos processos de administração, como contato com fornecedores, acompanhamento de logística, recebimento e conferência”, explica Alex.
Os cinco quebra-cabeças foram apresentados em quatro escolas públicas e na unidade da Apae de São Lourenço do Oeste - e posteriormente doados a essas instituições. Inicialmente, o público-alvo foram estudantes de 8º e 9º anos. Para o ano que vem, a ideia é levar a iniciativa também a alunos do ensino médio.
Protótipos
Assim como em São Lourenço do Oeste, o envolvimento do IFSC com as cidades onde a instituição atua apareceu em um trabalho do Câmpus Tubarão cujo objetivo final é diminuir a emissão de gás carbônico por veículos no município. Para chegar lá, a equipe do projeto, ligada ao curso de graduação em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, desenvolveu um protótipo de “cidade inteligente”, que usa recursos de tecnologia para melhor gerenciar recursos e ativos, visando à sustentabilidade e ao bem-estar dos cidadãos.
Nesse protótipo, em exposição na Feira de Inovação, o professor Felipe Schneider Costa e os estudantes Bianca Medeiros e Danilo Pires Ribeiro previram semáforos inteligentes - que abrem e fecham conforme o fluxo de veículos, seguindo dados fornecidos por sensores eletrônicos - e estacionamentos com sensores, que podem indicar aos motoristas onde há locais disponíveis para estacionar e assim diminuir o tempo que eles circulam com o carro ligado, emitindo gás carbônico, a procura de uma vaga.
Os primeiros testes para que as ideias do protótipo ganhem as ruas de Tubarão serão feitos com a instalação de sensores no estacionamento do centro de inovação criado pela prefeitura, o Sigma Park, e em veículos do câmpus do IFSC na cidade.
Outro protótipo apresentado na Feira de Inovação foi o de uma miniturbina eólica vertical feita quase inteiramente com materiais reutilizados, que faz parte de um projeto desenvolvido no Câmpus Chapecó - apenas uma pequena parte dela, de plástico, foi produzida por meio de uma impressora 3D.
“Ela é 95% feita de material reciclado”, garante a estudante Luana Rafaela Miranda de Souza, do técnico integrado em Desenvolvimento de Sistemas. Ferro e aluzinco (liga feita de alumínio e zinco) estão entre os metais usados no protótipo.
A ideia do projeto é pensar numa alternativa sustentável, mais prática e mais barata para a geração de energia em residências urbanas ou rurais em regiões que enfrentam instabilidade ou até mesmo ausência no fornecimento de energia elétrica. “Uma das vantagens da mini-turbina é que ela pode ser instalada por você mesmo. É algo mais acessível que uma placa fotovoltaica, que precisa de um profissional para ser instalada”, destaca Luana. O protótipo atual gera energia suficiente para acender LEDs e pode gerar energia para baterias portáteis do tipo power bank (usadas para carregar telefones celulares, por exemplo).
O poder das garotas
O projeto da miniturbina eólica do Câmpus Chapecó foi uma das iniciativas selecionadas pelo programa Power 4Girls, destinado a fomentar a liderança feminina. Trata-se de uma colaboração entre a Embaixada e Consulados dos Estados Unidos, implementada pela organização não-governamental Instituto Gloria com apoio das escolas técnicas ou tecnológicas federais e estaduais e escolas técnicas sem fins lucrativos de todo o Brasil.
A equipe do IFSC, formada por quatro estudantes do técnico integrado (todas meninas), vai passar por formação em áreas como empreendedorismo e inovação, além de participar de uma feira e da etapa final do programa em Brasília em novembro. Elas decidiram batizar o time delas de Mary Keller, em homenagem a uma freira e cientista americana com importantes contribuições para a ciência da computação, embora possivelmente pouco conhecida do grande público brasileiro.
Para dar mais visibilidade a cientistas mulheres e incentivar meninas a buscar as ciências exatas, surgiu no Câmpus Gaspar em 2019 o projeto “Elas Digitais”. Inicialmente um projeto de pesquisa, hoje ele funciona também por meio de iniciativas de extensão. “O foco principal é trazer visibilidade para as mulheres na área da STEM”, conta a estudante Vitória Lemos Soares, do curso técnico integrado em Informática, uma das responsáveis por apresentar o trabalho no estande da Feira de Inovação do Sepei.
STEM é a sigla em inglês para “ciência, tecnologia, engenharia e matemática” (science, technology, engineering and mathematics), usada principalmente para referir-se à educação nessas áreas, que ainda hoje são predominantemente masculinas, apesar de o cenário estar mudando. “Historicamente, as mulheres eram incentivadas a buscar mais cursos que envolvessem cuidados [como nas áreas de saúde ou pedagogia, por exemplo]. Mas os dados mostram que as mulheres têm ido mais para as áreas da STEM. Ainda é um espaço em que predominam os homens, mas está mudando”, ressalta Vitória.
O “Elas Digitais” desenvolveu nos seus cinco anos de atuação alguns materiais para destacar a atuação das mulheres nas áreas da STEM, como jogos de tabuleiro e cartilhas educacionais para crianças e jovens de 4 a 14 anos, que foram distribuídas em escolas da região de Gaspar ou entregues quando essas escolas fizeram visitas ao câmpus do IFSC na cidade. No Sepei, além de participar da Feira de Inovação, o grupo também ministrou uma oficina de programação na linguagem Scratch.
Mostrando o potencial das estudantes do IFSC nas ciências exatas, outro projeto do Câmpus Chapecó desenvolvido inteiramente por alunas do técnico integrado e apresentado na Feira de Inovação buscou desenvolver um arduíno acessível a pessoas cegas ou com baixa visão. O arduíno é uma plataforma de prototipagem em formato de placa que permite criar objetos eletrônicos.
A ideia do projeto surgiu depois que estudantes do curso técnico integrado em Informática observaram que uma colega com baixa visão tinha dificuldade em trabalhar com o arduíno tradicional, que não tem nenhuma adaptação para esse público. Por isso, começaram a trabalhar no desenvolvimento do “arduíno acessível”, que possui algumas instruções em braille e emite sinais sonoros (em vez de apenas luminosos), entre outras adaptações.
“Tem poucas pessoas com baixa visão na área da tecnologia porque falta acessibilidade”, defende a estudante Vitória Mucelini Wagner, uma das componentes do chamado Quarteto Lovelace, batizado em homenagem à matemática inglesa Ada Lovelace, autora do primeiro algoritmo de computador da história. O grupo também foi contemplado pelo programa Power 4Girls.
Quantidade e qualidade
A pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação do IFSC (Proppi), Flávia Maia Moreira, comemora o resultado da Feira de Inovação, destacando que, além do aumento no número de projetos em relação ao Sepei de 2023, os trabalhos apresentados tiveram bastante qualidade.
“Os projetos tiveram bastante profundidade, inclusive aqueles ligados ao técnico integrado. Além disso, os estudantes mostraram estar bem preparados para apresentá-los ao público. A capacidade de comunicação é muito importante para o pesquisador”, ressalta Flávia.
A inovação tem sido cada vez mais buscada como solução para problemas da sociedade, como as mudanças climáticas e, por isso, tem recebido fomento dos poderes públicos, conta a pró-reitora. Apesar das restrições financeiras dos últimos anos, o IFSC tem conseguido apoiar iniciativas inovadoras por meio de editais (como o do Desafio IFSC de Ideias Inovadoras, em parceria com o Sebrae), da captação de recursos externos para projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação e da parceria com empresas por meio do Polo de Inovação.