IFSC apresentará projeto de desenvolvimento da pesca e aquicultura em Moçambique

INTERNACIONAL Data de Publicação: 05 jul 2024 17:24 Data de Atualização: 05 jul 2024 18:01

Os representantes do governo brasileiro que integraram a missão internacional em Moçambique, realizada de 15 a 28 de junho, irão apresentar um projeto para troca de expertise em pesca e no cultivo de peixes entre o governo do Brasil e o país africano. Entre os membros da comitiva, estavam dois representantes do IFSC, o pró-reitor de Extensão e Relações Externas do IFSC, Valter Vander de Oliveira, e o coordenador do Centro de Referência em Pesca e Navegação Marítima (Cnpmar), professor Benjamim Teixeira (Câmpus Itajaí). A delegação brasileira era formada também por representantes do Ministério da Pesca e Aquicultura, Embrapa, Ministério das Relações Exteriores, do o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif) e da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).“Durante a viagem foi feito um primeiro esboço de parceria entre os dois países e até 15 de agosto será entregue o projeto de parceria. O governo brasileiro irá contribuir com seu expertise nesta área e o de Moçambique fará os investimentos necessários para isso por meio de um financiamento que eles conseguiram com o Banco Islâmico de Desenvolvimento. Moçambique tem como meta, ampliar a produção de pescados para garantir a segurança alimentar da população e nos próximos 10 anos passar de um importador de pescados para um exportador. Nós queremos contribuir com esse processo e o nosso foco de atuação, enquanto IFSC, se dará mais na área de ensino e de extensão ”, explica o pró-reitor do IFSC.

Durante a viagem, os representantes do governo brasileiro participaram de reuniões na Embaixada do Brasil, no Ministério do Mar, Águas Interiores e Pesca, no Instituto Oceanográfico, no Instituto Politécnico e no Instituto de Desenvolvimento da Pesca e da Aquicultura e fizeram visita técnicas a piscicultores e aquicultores. “Um das propostas que iremos apresentar é o de apoio a Escola do Mar, que é responsável pela formação de pessoas que atuam na área de aquicultura e piscicultura para que de fato eles consigam trabalhar ensino, pesquisa e extensão. A nossa atuação pode se dar na reestruturação dos projetos de curso que precisam ser revisados, na organização da parte administrativa do ensino, inclusive com a utilização de softwares como o Suap, que foi desenvolvido pelo Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e na formação dos professores já que muitos só têm a graduação e poderiam fazer pós-graduação no Brasil.”

O pró-reitor explica que para a execução desse projeto será preciso envolver uma série de profissionais “ As demandas deles são muitas e vamos precisar do apoio de profissionais como da arquitetura para readequação dos espaços, da área de TI que possam automatizar processos, de profissionais da área de alimentos e de gastronomia para pensar em outras formas de consumir e conservar os alimentos. Há demanda também para atualizar e melhorar a regulamentação da pesca.”

O pró-reitor explica que a missão brasileira se deu a partir de um convite do governo moçambicano após a visita de membros do governo ao câmpus de Itajaí do IFSC em junho de 2023. “Eles buscavam um país que pudesse dar esse apoio tecnológico e quando conheceram os cursos ofertados pelo IFSC nesta área e a infraestrutura disponível perceberam que este é um modelo de escola que eles buscam para Moçambique.”

Entre os integrantes da comitiva brasileira, estava o professor do Câmpus Itajaí Benjamim Teixeira. “Para mim foi uma experiência bastante enriquecedora participar dessa missão pela minha profissão de oceanógrafo, pela instituição que a gente representa e por conhecer um povo muito querido, que nos vê como irmãos. Eu vejo que a gente pode contribuir muito com o plano de desenvolvimento dessas instituições, na área de gestão, governança e inclusive contribuir com a restruturação dos projetos pedagógicos dos cursos, mas não dá para aplicar os PPCs dos nossos cursos lá, sem levar em consideração a realidade local.”

O professor Benjamim explica que 90% da pesca no país é artesanal e que o peixe é a principal fonte de proteína consumida no país. “A pesca é muito importante para garantir a segurança alimentar da população. Mas para que eles consigam de fato atender a demanda local, é preciso que a cadeia produtiva passe por uma série de reformulações, o que eu observo é que as necessidades que eles têm hoje são semelhantes as que a gente tinha na década de 1970.  A produção de alevinos é de má qualidade e no caso da produção de tilápias a taxa de reversão sexual que eles têm é muito baixa. No cultivo de tilápia, o ideal é que se tenha uma alta população de machos, porque se tiver muitas fêmeas em um tanque elas irão se reproduzir, o que irá gerar uma superpopulação de peixes, faltará espaços para eles e muito irão morrer. Quando a tilápia nasce, por 27 dias, a gente trata o alevino com a ração que tem testosterona, para conseguir ter uma alta população de machos porque não havendo reprodução, teremos tilápias maiores, com mais carne. No Brasil, a taxa de reversão sexual é de 99,99%, em Moçambique eles falam em 85%, mas eu acredito que a taxa seja ainda menor.” 

Outro ponto levantado pelo professor é o tamanho das tilápias consumidas lá. “Aqui no Brasil, a gente só consome a tilápia quando ela chega em torno de 1kg e só usamos o filé. Parte das sobras do animal são utilizadas para fazer ração. Lá, eles consomem a tilápia com 350 gramas e consomem todo o animal, porque não há oportunidade de desperdiçar nada. Não há também no país fábrica de ração para peixes, não há fábrica de aerador que é fundamental quando você tem uma alta população de peixes em um tanque. Nesse sentido, é preciso melhorar a genética das espécies para fazer com que elas cresçam mais rápido e no caso da fabricação de ração é preciso incrementar a produção de milho e soja que são utilizados nesse processo.”

Com relação à produção de mariscos, o professor explica que a produção é ainda incipiente. “Eles têm muita dificuldade em vender marisco, porque como a produção é muito baixa, não há mercado. Em um local que visitamos, eles nos disseram que as primeiras produções de marisco foram congeladas sem passar por um cozimento, o que estragou a produção.”
Apesar das dificuldades encontradas, o professor avalia que eles têm um grande potencial. “É um país com quase três mil quilômetros de costa litorânea, o clima deles é muito bom para o cultivo dos peixes, não tem um inverno rigoroso, como o que temos aqui no sul do Brasil. Nos locais que nós visitamos em todos encontramos bastante água, o que também é fundamental para esse tipo de cultivo e eles estão próximos de grandes mercados consumidores como a China e a Índia.”

Além da qualificação para a ampliação do cultivo de peixes, o professor avalia que o Brasil pode contribuir também com a formação dos pescadores. “Em conversa com a autoridade marítima de Moçambique, identificamos que seria importante ampliar a formação dos pescadores no sentido de salvaguarda da vida no mar aos moldes dos cursos que o IFSC oferta em parceria com a Marinha do Brasil. O que habilita esses trabalhadores aos padrões internacionais de salvatagem.”  

 

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