INSTITUCIONAL Data de Publicação: 27 mai 2022 18:36 Data de Atualização: 02 jun 2022 09:56
As instituições de ensino têm sido uma grande porta — de entrada e de saída — para os inovadores. A inovação permeia o ensino e os projetos de pesquisa e extensão. Agora, há quem afirme que o interesse e a necessidade cresceram tanto que o artigo 207 da Constituição Federal já pode acrescentar “inovação” quando trata da obrigatoriedade das universidades de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Algo a se pensar e estudar, claro, antes de inovar.
O que tem ficado nítido é que os anos passam, as instituições amadurecem e as ações de inovação crescem. No Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) conseguimos observar inúmeras ações voltadas à inovação sendo implantadas e lapidadas, como o “Desafio de Ideias Inovadoras”, programa voltado aos estudantes de incentivo ao empreendedorismo e à inovação tecnológica; e também a implantação de um Polo da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Emprapii), que no IFSC está focado na pesquisa e inovação em Sistemas Inteligentes de Energia.
A união de professores, técnicos-administrativos e estudantes (pessoas com ideias e pessoas com talentos) — com o incentivo de agentes inovadores (pessoas com ideias e com capital) — têm surtido em muitas ideias saindo da cabeça, indo para o papel e até para as ruas. “São 11 projetos contratados até agora, com a média de R$ 600 mil. Temos projetos de pequenos valores, como R$ 60 mil para atender startups, e também contratamos projetos de R$ 6 milhões”, conta o diretor-geral do Polo Emprapii e professor do IFSC, Rubipiara Cavalcante Fernandes.
Em um desses projetos, o que tem sido mais divulgado por enquanto, firmou-se parceria com outros órgãos públicos para a conversão de veículos de uso institucional à combustão em carros elétricos. Ou seja: sim, o futuro chegou também às instituições públicas — seja no desenvolvimento e/ou na aplicação.
E os incentivos à inovação também percorrem as unidades do IFSC pelo estado. O principal evento para circulação de ciência do IFSC chama-se “Sepei”. E adivinha o que significa o “i” no final da palavra? Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação. O evento costuma reunir os resultados de mais de 500 práticas da educação profissional — em 2022 a sede será o Câmpus Joinville —, sendo que a seleção dos trabalhos ocorre localmente, em cada uma das 22 unidades espalhadas por Santa Catarina.
Os Sepei's (lá de 2013 a 2016) foram fundamentais para impulsionar o hoje empresário chapecoense do ramo de energia solar, Lucas Frizon. Formado em Engenharia de Controle e Automação no Câmpus Chapecó, Lucas teve incentivos no IFSC para participar de uma série de eventos e editais ligados à inovação e hoje inovar com a empresa Projeal. “A cada evento, a cada disciplina, desenvolvemos desafios cada vez mais complexos, com variáveis técnicas e pessoais", afirma. Essa bagagem proporciona que, atualmente, a empresa contrate estudantes ou ex-estudantes do IFSC como funcionários. Ou seja, inovadores que saíram de dentro do IFSC estão estimulando novos inovadores.
Mas, afinal, o que é inovação? Para inovar é preciso criar algo grande, ter uma super, mega ideia? Posso inovar a partir e na minha cidade, na minha escola? É natural, pensar em inovar faz uma série de questionamentos virem à tona. O caminho para os inovadores é, então, encontrar a motivação necessária e as respostas para as dúvidas que surgirem. E agora, onde começar a buscar?
O Movimento da Inovação em São Lourenço do Oeste
Localizada no noroeste de SC, na divisa com o Paraná, São Lourenço do Oeste tem pouco mais de 20 mil habitantes, e conta com cursos do IFSC desde 2014. Conforme o câmpus foi crescendo em termos de estrutura física, de professores e de técnicos-administrativos, a oferta de cursos foi aumentando e o número de estudantes e, consequentemente, de projetos e ideias também.
O amadurecimento e interesse por inovação, em uma região ainda com muitas perguntas e poucos agentes com respostas, proporcionou os primeiros passos de inovação. O Câmpus São Lourenço do Oeste do IFSC teve aprovado um projeto de R$ 100 mil, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), para a ativação do ecossistema de inovação e desenvolvimento da cultura de empreendedorismo na região Amnoroeste, que compreende oito municípios com uma população de pouco mais de 48 mil habitantes.
A partir deste projeto foi lançado em 2022 o Movimento da Inovação, coordenado pelo IFSC, com outra instituição de ensino com sede na cidade, a Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), e da Associação Empresarial e Cultura de São Lourenço do Oeste (Acislo). As primeiras atividades do Movimento foram em abril, com um “Bate papo sobre inovação” com um epresário que oferece solução completa para gestão de provedores de internet; e em maio, com a visita de uma comitiva de estudantes, professores e empresários ao Pollen Parque, um dos 15 Centros de Inovação de Santa Catarina.
“Temos hoje muitos estudantes com potencial de transformar projetos e trabalhos de curso em grandes negócios, temos também várias pessoas espalhadas na sociedade com projetos maravilhosos guardados na gaveta necessitando de apoio e uma oportunidade para avançar com estes projetos. Enquanto instituição de ensino, temos que aproximar nossa comunidade acadêmica e sociedade dessas oportunidades”, acredita Daniel Carossi, diretor-geral do Câmpus São Lourenço do Oeste do IFSC.
Ao longo do ano estão previstas outras atividades focadas em inovação, e até agora fica evidente a importância de se estimular a conexão entre pessoas com ideias, pessoas com talento (técnicos, criativos e empreendedores) e pessoas com capital, ou seja, projetar um ambiente que atraia ou forme esses três grupos para que se desenvolva um ecossistema, segundo a Rede Catarinense de Centros de Inovação.
É o que o presidente da Fapesc, Fábio Zabot Holthausen, pontua como densidade de inovação. “Antes de se ter uma estrutura física, é preciso ter essa densidade. A preocupação de ter um espaço pode ser um movimento secundário. É preciso primeiro gerar o ecossistema, engajar profissionais. Depois que tiver densidade, isso naturalmente vai crescer e pode gerar um espaço físico, um prédio, como um Centro de Inovação”, afirma o presidente da Fapesc, .
O Pollen Parque, em Chapecó, é um dos bons exemplos pelo estado. “Mais importante que paredes, são as pessoas. O Pollen Parque, por exemplo, foi inaugurado há um ano com os espaços físicos todos preenchidos. Mas por quê? Porque houve todo um trabalho de incentivo nos anos anteriores relacionado a inovação”, contou o diretor da unidade fora de sede da Unochapecó, Haroldo Farinon, que também é diretor na Acislo.
Regionalização dos recursos e do conhecimento
Antes de sonhar com um grande espaço físico, a parceria entre IFSC, Unochapecó e Acislo tem focado em conseguir respostas a diversas perguntas e encontrar caminhos. Um deles tem sido contar com os recursos e o conhecimento de 25 anos da Fapesc, que cada vez tem se voltado mais para a regionalização.
“Estamos tentando ter um leque de opções que viabilizem oportunidades, ações naquela região e que o talento não precise sair de São Lourenço do Oeste e ir para Florianópolis para ter uma oportunidade. Queremos gerar oportunidades em São Lourenço. Que ele possa estudar todos os níveis de ensino, ter ideias, criar sua empresa localmente”, reforça o presidente Fábio.
A Fundação tem tentado chegar com mais força às regiões ampliando o volume de recursos, mas especialmente por meio de chamadas públicas com critérios de regionalização, para que os projetos concorram em sua própria região e no seu próprio ecossistema de inovação. “São ações, métodos que implementamos dentro de um modelo de gestão para estarmos mais próximos do nosso empreendedor, pesquisador, bolsista, estudantes”, reforça o presidente.
Ainda, “a Fapesc também não está apenas na Capital, temos uma sala cedida dentro do Pollen Parque, em Chapecó, para atender a comunidade do Oeste. Temos alguém que ouve, divulga as ações diariamente no espaço”, afirma Fábio.
Bate-papo do IFSC com a Fapesc
Com o devido incentivo e recursos também sendo enviados aos ecossistemas locais, chegamos no ponto-chave: a importância desse trabalho pontual, de formiguinha, que as instituições de ensino e seus parceiros têm incentivado para que as ideias saibam qual o melhor caminho a percorrer e, de fato, transformem-se em inovadoras.
Durante um bate-papo do diretor-geral do Câmpus SLO do IFSC, Daniel Carossi, com o presidente da Fapesc, Fábio Zabot Holthausen, os dois conversaram sobre a regionalização dos recuros estaduais:
Com os recursos que chegaram a São Lourenço do Oeste por meio do projeto aprovado e outras iniciativas dos parceiros, o diretor-geral do IFSC conta que, nos primeiros meses de execução, já foi possível conectar entusiastas e estudantes com ideias e vontade de empreender.
“Pelos relatos colhidos um dos grandes desafios é a respeito de qual caminho, quem pode ajudar, como posso tirar esta ideia e por em prática. E é nessa pegada que o Movimento da Inovação se propõe, aproximar e conectar essas pessoas para orientar e apoiar estas ideias”, ressalta Carossi. Entre as ações mapeadas ao longo de um ano de projeto ainda estão um estudo com a finalidade de mapear o ecossistema de inovação da região, apresentando tendências, potenciais de inovação e eventuais problemas aguardando por solução.
Sócia da empresa Sustentare Soluções Ambientais em São Lourenço do Oeste, Mariana Pastre Pereira também se juntou ao Movimento de Inovação na cidade. O objetivo? Expandir as oportunidades e levar conhecimento aos futuros empreendedores. “Temos a empresa há sete anos, foi a primeira de São Lourenço nesta área de solução ambiental, então também foi uma inovação, e tudo começou dentro da universidade, com apoio dos professores”, lembra.
Com ideias ainda na cabeça, o estudante do técnico em Desenvolvimento de Sistemas do IFSC em São Lourenço do Oeste, Micardo Devalcy, faz questão de acompanhar todas as atividades do Movimento da Inovação. O objetivo é conseguir colocar no papel o que está na cabeça e empreender. “É uma oportunidade para saber quais recursos estão disponíveis na nossa região. Nos perguntávamos o que fazer, por onde começar. E achávamos que era preciso uma ideia grande, mas com uma ideia pequena podemos começar a inovar”, afirma.
Mas, afinal, o que é inovação?
Em termos legais, no Brasil, a lei 10.973/2004 é considerada a “Lei de Inovação”. Além dela, outras legislações como a lei nº 13.243/2016 tratam do assunto e o Decreto 9.283/2018 regulamenta as leis anteriores. Basicamente, elas dispõem sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no país e explicam alguns termos, como sobre os próprios ecossistemas de inovação.
Existem várias concepções que trabalham com inovação, tanto no país como fora. Mas, resumidamente, o professor do IFSC Rubipiara Fernandes explica que existem dois tipos de inovação: a incremental e a disruptiva.
“Na incremental, por exemplo, você tem um produto e inova a partir de algo já existente, como a redução do tamanho de um produto, redução do custo, aprimoramento de uma técnica que causem menos impacto. Já a disruptiva é aquela nova, que pode acabar com outras tecnologias, como é o caso do smartphone e da própria Netflix, que acabou com locadoras de vídeo, pois hoje você assiste um vídeo a hora que quiser”, explica.
Os entrevistados pontuam ainda que, em alguns momentos, a inovação incremental para um setor é tão importante como uma inovação disruptiva para outro. “Como uma melhora num processo, num produto, gerando diminuição de custos, mais recursos, mais clientes, mais capilaridade de um serviço. Então, pequenas mudanças são significativas, aquelas que geram diminuição de custos, aumento de receita, por exemplo”, afirma o presidente da Fapesc ao reforçar a importância da inovação incremental para o dia a dia das empresas.
Voltando-se para o que tem visto dentro do IFSC e nos parceiros de projeto, o diretor do Câmpus SLO avalia que inovar é criar caminhos e respostas diferentes para os novos problemas: “tenho observado uma mudança muito rápida em diversas áreas da sociedade e junto a isso a necessidade de mudar a cultura, modelos e formas de trabalho/soluções para dar conta da nova demanda. Em termos práticos, inovar não é apenas criar algo novo, mas sim, fazer melhor, diferente do que às vezes por anos tradicionalmente viemos fazendo”.
Então, que comecem (e continuem) as inovações também em São Lourenço do Oeste e região!
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