ENSINO Data de Publicação: 14 mar 2025 17:55 Data de Atualização: 14 mar 2025 17:59
Um projeto de pesquisa interdisciplinar do Câmpus Itajaí que envolve professores de Biologia, Matemática, Português, Geografia e Artes e representantes da Univali e da Secretaria Estadual de Educação está buscando compreender a percepção de estudantes do Ensino Médio sobre o território. Isso tem sido feito com a aplicação de questionários em escolas estaduais e com alunos dos técnicos integrados do Câmpus Itajaí. A partir dos dados da pesquisa, a proposta é elaborar uma série de práticas pedagógicas que possam ser replicadas pelos professores nas escolas. “A proposta de aplicação dos questionários é tentar entender como esses jovens se relacionam com o ambiente, se tem informações, por exemplo, sobre saneamento básico, eventos extremos e climáticos no território em que eles estão inseridos. O que temos observado é que os estudantes sabem pouco sobre o território e que há uma desconexão com a realidade local”, avalia a professora de Biologia Laura Pioli Kremer, que é uma das coordenadoras do projeto.
Os dados levantados a partir dos questionários servirão como ponto de partida para uma série de ações de educação ambiental. Os questionários ainda estão sendo aplicados com estudantes das escolas estaduais e a proposta é que os resultados sejam compilados em um ebook. “Nós queremos entender como os indivíduos percebem o ambiente que o cerca e desenvolver práticas pedagógicas que de fato promovam reflexão para as ações de educação ambiental. Queremos dar subsídio para que os professores trabalhem esses conceitos em sala de aula. O professor de Geografia já trabalha noções de território em suas aulas e o de Biologia trabalha questões ambientais, mas a nossa proposta com esse trabalho é pensar em um material integrado.”
Uma das primeiras ações já realizadas com estudantes do IFSC foi solicitar que eles representassem simbolicamente o território onde vivem, um trabalho que foi desenvolvido nas aulas de Artes. “A partir das informações levantadas com a coleta de dados, os estudantes do IFSC precisavam elaborar uma ilustração, que poderia ser feita utilizando recursos de inteligência artificial, onde fossem contemplados os aspectos do seu próprio espaço temporal. Assim, após conceberem esse panorama do seu território, foi proposto que desenvolvessem um memorial descritivo dessas suas percepções e como elas foram detalhadas em suas ilustrações, incluindo seus processos de criação”, explica a professora de Artes Rita Peixe.
Após essa etapa, os estudantes utilizaram como método de reprodução das imagens a xilogravura. “As ilustrações foram reproduzidas nas pranchas de linóleo e, nelas, os alunos trabalharam com os instrumentos (goivas). Essas pranchas, após a intervenção das ferramentas nas ilustrações de cada um dos alunos, serão entintadas e reproduzidas em papéis especiais, com o uso da prensa. Esse processo refere-se à xilogravura, nesse caso, considerando a matriz, linoleogravura, e que pode ser repetido inúmeras vezes. O resultado será um material artístico e, acima de tudo, um subsídio importante para que se possa conhecer um pouco mais acerca das percepções dos alunos relacionadas ao seu território”, avalia a professora de Artes.
Na ilustração que produziu, o estudante do técnico em Recursos Pesqueiros Lucas Saraiva representou a avenida que fica em frente ao Câmpus Itajaí. “Esta rua não tem árvores e por conta disso não tem sombra, o que torna impossível andar nela em dias muito quentes. Eu vim de São Paulo e lá onde eu morava toda rua tinha árvores e tinha espaços de lazer próximos.”
A estudante Luiza Machado retratou a praia em sua ilustração por ser um dos poucos espaços de lazer da cidade. “Eu moro no bairro São Roque e lá há poucas calçadas e com pouca arborização. Eu vejo que faltam espaços de lazer na cidade e isso também é uma questão ambiental. As principais áreas de lazer da cidade, melhores pontos de ônibus e saneamento básico são em áreas onde os terrenos são mais caros e eu percebo que a questão da classe social interfere nessas escolhas.”
Além de participarem das atividades, os estudantes são bolsistas do projeto e acompanham a aplicação dos questionários nas escolas estaduais. Quando visitam as escolas, eles também costumam levar para essa atividade cartas com situações-problema para que sejam promovidas discussões socioambientais com os estudantes. “A maior parte dos alunos fala sobre as enchentes e de ter tido sua casa alagada, mas eles não conseguem perceber isso como um problema ambiental e não conseguem perceber também quem eles devem procurar em caso de buscar melhorar a infraestrutura da região onde moram”, explica a estudante Luiza Machado.