Projeto que transforma vinho em álcool 70º passa também a produzir sabonete e sabão para comunidade serrana

EXTENSÃO Data de Publicação: 22 set 2020 12:30 Data de Atualização: 22 set 2020 12:54

Após seis meses de pandemia do Coronavírus, a recomendação de saúde que ainda segue é a higienização. O distanciamento social vem sendo flexibilizado conforme a realidade de cada região e município. A higienização, que deve ser feita com a lavagem das mãos e o uso de álcool em gel 70º GL, contou neste último quesito com o conhecimento especializado de um grupo de professores do Câmpus Urupema e o engajamento da parceira Vinícola Abreu Garcia para a produção desse item higiênico e preventivo a partir da destilação e retificação de vinho. A essa iniciativa somam-se a fabricação de sabonetes, já em andamento, e sabão de álcool, a partir do próximo mês.

“Serão distribuídos para a comunidade, no posto de saúde, nas escolas. O grupo está pensando em ações de extensão para fazer a distribuição”, destaca o professor de matemática, Geovani Raulino, autor da iniciativa, sobre a destinação de todos os itens produzidos. “Além da escassez no mercado de produtos à base de álcool-gel, observou-se uma elevação do preço deste produto. Com isso, uma terceira situação nos chamou atenção: muitas pessoas no Brasil não têm acesso a produtos de higiene; na verdade, muitas pessoas sequer têm acesso à água”, argumenta o professor que atua nos cursos superiores, Tecnologia em Alimentos e Tecnologia em Viticultura e Enologia, e no curso técnico em Administração e nos cursos de Educação de Jovens e Adultos do IFSC. Segundo ele, serão produzidos aproximadamente 550L de álcool, com os 3.200 litros de vinho que foram arrecadados nos últimos meses.

A doação aconteceu tanto por parte da parceira Vinícola Abreu Garcia, de Campo Belo do Sul, quanto das apreensões da Receita Federal. O vinho recebido da empresa privada, 2.500 litros, foi transportado graças à colaboração do Corpo de Bombeiros do 5º Batalhão da Brigada Militar de Lages, representado pelo Cabo Arnito Lopes, que conduziu o caminhão-pipa. “A causa é nobre e voltada a população de maneira geral”, coloca o Major Muniz. O cantineiro, Fábio Junior Moraes e a líder de Produção, Dilcéia da Silva, da Vinícola, auxiliaram a equipe do projeto em todas as tratativas até o momento da acomodação do produto no transporte.

A coleta do vinho descartado pela Delegacia da Receita Federal, cerca de 600 litros, aconteceu no mês de julho. O projeto ainda conta com 100 litros que já estão no laboratório para produção.

O proprietário da empresa, Ernani Abreu Garcia, destaca a importância da iniciativa:

 

Mais produtos

Os sabonetes são produtos de base glicerinada e que levarão extratos essenciais de plantas cultivadas ou nativas da região, como a goiaba-serrana, para os serviços de saúde pública municipal de Urupema e municípios da região da Serra Catarinense e para a população de baixa renda desses municípios.

Para Geovani, os diferenciais dessa proposta em relação a outras iniciativas existentes são o engajamento da comunidade local e da sociedade civil na doação de insumos (óleo e banha para a produção de sabão), sustentabilidade (ação de utilização dos subprodutos da uva, do vinho e de outras matérias-primas alimentícias aptas à produção de álcool por destilação) e articulação com os órgãos municipais. “Toda essa etapa tem à frente a Comissão de Sustentabilidade do Câmpus Urupema que fortalece as ações já preconizadas pela administração do município na separação dos resíduos e rejeitos e no descarte adequado de lixo, incluídas as gorduras”, ressalta Raulino.

Na prática

O Câmpus Urupema possui cursos na área de tecnologia de vinhos e de outras bebidas alcoólicas (curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, curso Técnico em Viticultura e Enologia, e curso de pós-graduação Especialização em Tecnologia de Bebidas Alcoólicas e para o próximo ano Mestrado em Viticultura e Enologia), como cervejas e destilados. Essas produções são decorrentes do processamento de frutas como a uva e de outras cultivadas em grande escala na região, como a maçã, ou nativas e de grande impacto para os agricultores da região, como a goiaba-serrana e o pinhão.

Ele afirma que o processo de produção de álcool é simples. “O álcool é resultado do processo de fermentação alcoólica a partir do consumo de açúcares simples por microrganismos de vida simples, as leveduras. É através desse processo que se obtêm bebidas como a cerveja, o vinho e o hidromel, entre outros tantos fermentados de frutas. A destilação é uma operação em que o produto fermentado é aquecido, e as frações mais voláteis vão sendo evaporadas à medida que atingem a temperatura de evaporação. Nessa operação, os álcoois são arrastados do fermentado e, depois, condensados para serem coletados. Operações de destilação em sequência vão fracionando os diferentes álcoois, numa etapa a qual se denomina purificação. A retificação, que sucede a purificação, é a operação de acréscimo de água ao álcool, ajustando a concentração da solução na graduação que corresponde àquela que têm efeito de sanitização, ou seja, a graduação de 70 °GL”, explica Geovani.

Ele esclarece que a partir da obtenção do álcool, podem ser elaborados o gel alcoólico, com o acréscimo do polímero que gelifica o álcool e o coloca numa forma mais segura para a sua distribuição como produto de limpeza e de higiene. “Também com o álcool purificado, a adição de uma base forte de gordura e açúcar faremos sabão. Já os sabonetes serão elaborados a partir de base glicerinada, que tem poder hidratante, e a ela serão incluídas essências e extratos de plantas nativas da região, como a goiaba-serrana, que tem comprovadas propriedades antimicrobianas”, acrescenta o professor.

Ainda integram o projeto a professora Mariana de Vasconcellos Dullius, docente da área de Enologia, como coordenadora adjunta. Compõem a equipe de colaboradores servidores de diversas áreas do câmpus: professores Éder Daniel Corvalão, Giliani Veloso Sartori, Janice Regina Gmach Bortoli, Letícia Tramontini, Marcos Roberto Dobler Stroschein, Mariana Ferreira Sanches, Raquel Franciscatti dos Reis, e Jailson de Jesus; e os técnicos Giovani Furini, Lilian Back, Luiz Alberto Silva Stefanski, e Samuel da Silva Machado. Devido à situação (distanciamento social) que nos encontramos ainda não tem alunos na proposta. “Eles serão incluídos conforme formos fazendo essas ações vinculadas ao projeto”, coloca Raulino.

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