SNCT Data de Publicação: 12 nov 2024 16:38 Data de Atualização: 14 nov 2024 10:23
Entender como as comunidades sobrevivem, com seus saberes acumulados ao longo dos séculos e milênios, aos impactos da perda de biodiversidade, solo e água é uma das tarefas mais importantes para a preservação e recuperação dos biomas brasileiros. A defesa do professor do Departamento de Geociências e Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Orlando Ednei Ferretti, foi destaque na abertura da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) do Câmpus Canoinhas, na noite de 4 de novembro.
Em sua palestra, Ferretti abordou o tema nacional da SNCT, “Biomas do Brasil: diversidade, saberes e tecnologias sociais”, um assunto que considera de fundamental importância para discussão nos institutos federais e universidades, para produção de ciência e conhecimento técnico a partir do conhecimento já existente. Ele citou como exemplos a terra preta de índio na Amazônia (desenvolvida há oito mil anos), as florestas culturais na Mata Atlântica (plantadas há cerca de cinco mil anos pelos povos nativos) e a recuperação de solos na Caatinga a partir de saberes ancestrais.
“É necessário observar o que já temos em termos de natureza, que são os biomas, e o que já temos construído de conhecimento social, a partir dos povos e comunidades tradicionais, comunidades de pequenos produtores e agricultores familiares, e transformar em novas tecnologias, pra gente pensar novas áreas rurais, novas áreas urbanas e a organização social do espaço geográfica. Os novos períodos históricos que se aproximam exigem adaptação”, enfatiza.
A previsão é de que os desastres naturais tendem a aumentar com o impacto de mudanças climáticas já estabelecidas. “É preciso pensar a recuperação dos biomas para o futuro. Além dos saberes tradicionais, existem tecnologias possíveis, que a ciência criou ainda no século 19. A principal delas é a criação de áreas protegidas modernas, com várias outras formas além das unidades de conservação. A gente tem as áreas verdes urbanas, áreas das comunidades quilombolas, áreas indígenas, áreas úmidas protegidas, as APPs - áreas de preservação permanente”, explica.
Ferretti destaca que estas áreas protegidas têm como princípios:
- aproximar o ser humano do ambiente natural;
- preservar culturas de povos e comunidades tradicionais;
- preservar ecossistemas e espécies;
- preservar nascentes e rios;
- conservar recursos naturais a serem utilizados pela sociedade;
- manter o patrimônio paisagístico;
- preservar o patrimônio histórico;
- preservar o solo;
- preservar o geopatrimônio: montanhas, cavernas, vales, praias etc;
- manter patrimônio genético de vegetação e fauna;
- regular o clima regional e local (e impacto sobre o clima mundial); e
- diminuir impactos dos desastres naturais.
“Pensar os biomas e os ecossistemas nas áreas protegidas é fundamental”, ressalta o pesquisador, lembrando que os biomas são muito mais que fauna e flora. “Tem também o ser humano e a sociedade atuando na transformação destes ambientes.”
Salas temáticas
Além da palestra de abertura, o tema Biomas do Brasil ganhou quatro salas temáticas, onde os visitantes puderam aprender mais sobre os biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. Os espaços foram organizados pelos estudantes de 1º e 2º anos dos cursos técnicos integrados em Alimentos e Edificações, sob supervisão do professor de Geografia, Joanderson Fernandes Simões.
A proposta foi integrar o conteúdo da parte física do território (clima, solo e vegetação) com o conteúdo paisagem e sua relação com os biomas, a fim de sensibilizar o público para perceber que a natureza é diversa e que todos os recursos são necessários. “Precisamos ter outro olhar sobre o meio ambiente, um olhar reflexivo e crítico da realidade”, comenta o professor.
Conforme Joanderson, por se identificarem com o tema, os alunos se engajaram nas pesquisas para criação de maquetes, vídeos, cartazes e exposições de recursos educacionais, tornando os trabalhos informativos e atrativos. “Senti que eles tentaram colocar a identidade deles em cada trabalho. Falando de ciência e tecnologias, conseguiram fazer a relação dos elementos, cada um do seu jeito, o que abrilhantou muito o evento.”
Sobre a SNCT
A parte principal da SNCT do Câmpus Canoinhas aconteceu entre 4 e 7 de novembro, com palestras, workshops, minicursos e eventos paralelos. Mas, a programação segue até junho de 2025. No dia 4, a abertura oficial teve apresentações culturais com um grupo de músicas xamânicas e com o coral do câmpus. Estiveram presentes o pró-reitor de Extensão e Relações Externas do IFSC, Valter Vander de Oliveira; diretor-geral do Câmpus Canoinhas, Joel José de Souza; chefe do Departamento de Ensino, Pesquisa e Extensão do Câmpus Canoinhas, Maurício Begnini; coordenadora da SNCT local, Cleoci Beninca; servidores e alunos.
Representando a comunidade externa, participaram o prefeito em exercício de Canoinhas, Marcos Antônio Kucarz; o presidente da Associação dos Municípios do Planalto Norte Catarinense (Amplanorte) e prefeito de Irineópolis, Lademir Fernando Arcari; o secretário de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Turismo de Canoinhas, Juliano Seleme; a diretora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Canoinhas, Vivian Lachman; o coordenador da Defesa Sanitária Animal da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), Fernando Roberto Leite Braga; a representante da Associação dos Engenheiros Agrônomos do Planalto Norte Catarinense (Asseaplan), Fernanda Maria Haiduk; e a coordenadora Regional do Meio Ambiente de Canoinhas, Zenici Dreher Herbst.
O evento tem o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Câmpus Canoinhas conta ainda com a parceria da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Cidasc, Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), Amplanorte, Asseaplan, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Coordenadoria Regional de Educação, Secretaria de Educação de Canoinhas e Floricultura Papyrus.