ESPECIAL Data de Publicação: 20 jun 2023 19:57 Data de Atualização: 13 jul 2023 20:36
O pescador Djalma dos Santos Silva viveu momentos de incertezas e aflição. O barco Safadi Seif em que ele era um dos oito tripulantes emborcou, o que significa que ele virou com toda a estrutura de cabeça para baixo, a 40 km de Garopaba, na noite dia 16 de junho. Ele e outros quatro tripulantes esperaram em alto-mar cerca de 24 horas para serem resgatados. Do período em que eles tiveram que abandonar a embarcação até o resgate, Djalma conta que os conhecimentos que aprendeu no curso de Pescador Profissional (POP-N2), ofertado pelo Câmpus Itajaí do IFSC em parceria com a Marinha do Brasil, foram fundamentais para que ele e os outros quatro tripulantes sobrevivessem. “Eu agradeço a vida que Deus me deu e segundo às aulas que eu recebi de salvatagem no IFSC. O que eu aprendi eu levei para mim, mantive a calma, esperei a última hora para sair do barco até quando eu vi que não tinha mais chance, até achar a boia e acionar. Eu agradeço primeiro a Deus e depois vocês desse curso.”
Depois do resgate, já em casa, Djalma mandou mensagem para o professor Benjamim Teixeira, do Câmpus Itajaí, que é também coordenador do Centro Nacional de Pesquisas do Mar (Cnpmar). “Ele me contou que o barco adernou (pender sobre um dos bordos), a balsa não abriu, eles que precisaram acioná-la. Ele orientava os tripulantes que o barco era o lugar mais seguro enquanto ele estivesse de pé e que eles só deveriam sair dali quando o barco não boiasse mais. Ai três se desesperaram e pularam sem colete na água. O Djalma contou que lembrava das aulas em que dizíamos que numa situação dessa, primeiro a gente salva a nossa vida e na hora que você estiver seguro, você ajuda os outros. Quando ele foi ajudar os outros, todos estavam muito desesperados, em pânico, tanto é que ninguém conseguiu colocar o colete. Ai o barco adernou, eles acionaram a balsa. O Djalma virou um líder, pegou comidas, boias, pensando que caso a balsa furasse eles poderiam ficar boiando.”
Djalma foi um dos 30 pescadores que fizeram o curso de Pescador Profissional (CFAQ- POP2) em 2022, que é voltado para o preparo de profissionais para ingresso na Marinha Mercante como aquaviários do terceiro grupo - pescadores, seção de convés e de máquinas, ofertado pelo Câmpus Itajaí em parceria com a Marinha do Brasil. O curso é obrigatório para quem trabalha embarcado e é ofertado pelo IFSC desde 2014 através de uma parceria com a Marinha do Brasil. Além desse curso, o Câmpus Itajaí oferta o de Pescador Profissional (CFAQ-POP1) e o curso de Pescador Especializado (CFAQ PEP N3) que também são voltados para o preparo de profissionais para ingresso na Marinha Mercante como aquaviários do terceiro grupo de profissionais. Em nove anos de oferta dos cursos, já foram formados 775 pescadores, sendo 113 no curso de Pescador Especializado, 212 no POP N1 e 450 no POP N2. “Nós somos uma das instituições acreditadas pela Marinha do Brasil para a oferta dos cursos. Em Santa Catarina, o IFSC é a única instituição autorizada a ofertar cursos para pescadores. No Brasil há mais alguns institutos federais que têm essa autorização, mas a oferta dos cursos é eventual. Apenas o Câmpus Itajaí têm ofertas regulares de cursos para pescadores”, explica o professor Benjamim.
Dentre a série de aulas ofertadas em cada um desses cursos, há aulas específicas de salvatagem, primeiros socorros e de combate a incêndio. “O que a gente observa nesses cursos é que muitos pescadores, mesmo já atuando há muito tempo na área, não têm qualquer conhecimento sobre salvatagem, primeiros socorros, combate a incêndio e chegam, inclusive, sem saber vestir um colete salva-vidas adequadamente. O que é fundamental em um caso de naufrágio. O passo a passo em uma situação como a que o Djalma viveu vai depender de uma série de condições, existem situações em que o naufrágio acontece devagar, com tempo bom, dá tempo dos tripulantes vestirem o colete, lançarem a balsa e entrarem nela sem se molhar. Mas, normalmente, os naufrágios ocorrem com tempo ruim, à noite, com ventania e muita onda. Neste caso, a primeira ação é vestir o colete salva-vidas, a gente vê que nesse caso só o Djalma conseguiu fazer isso. Segundo é preciso aguardar na embarcação até o último minuto, ela é o local mais seguro, mesmo estando com uma parte afundada, ela é um espaço maior, é mais fácil de o resgate encontrar. Mas no caso deles a embarcação afundou, chegou um momento em que eles precisaram sair da embarcação. A balsa inflou de cabeça para baixo e o Djalma usou os conhecimentos do curso para desvirá-la, isso em um momento de muito vento.”
Naufrágios
O comandante de embarcação do IFSC, Fabiano Rosa, que também é um dos servidores envolvidos na formação dos pescadores, explica que há duas formas de um tripulante se tornar um náufrago, quando ele cai da embarcação e fica a própria sorte e a segunda é quando é preciso abandonar a embarcação por diversos motivos como incêndio, colisão ou o naufrágio do barco. “Abandonar a embarcação é sempre em última instância, porque o barco mesmo parcialmente avariado, emborcado quando ele fica de lado ou de cabeça para baixo ele ainda é o local mais seguro.Caso não seja possível, é preciso fazer o abandono da embarcação pensando em como preservar a vida daquelas pessoas que estão na condição de náufrago até que venha uma embarcação resgatadora ou uma aeronave. Todos os barcos têm dispositivos de sobrevivência, que incluem coletes salva-vidas e a balsa salva-vidas e é importante que a tripulação esteja treinada para poder manusear todos esses equipamentos.”
O comandante de embarcação explica que a balsa salva-vidas, como a que foi utilizada pelo Djalma e os outros quatro tripulantes, é dotada de um dispositivo flutuante com uma cobertura . Ela fica condicionada dentro de uma caixa de fibra de vidro e em caso de emergência ela deve ser arremessada para a água e um sistema de insuflação é ativado por uma corda para que ela infle. “A balsa tem que acomodar obrigatoriamente o número máximo de pessoas permitido na embarcação. Essa balsa tem que manter essas pessoas por no mínimo seis dias para isso precisa ter ração líquida e sólida, uma série de medicamentos, utensílios para fazer curativo, roupa de proteção térmica em caso de hipotermia, kits de reparo e de pesca, sinalizadores para chamar a atenção de possíveis embarcações e aeronaves. Todos esses dispositivos devem passar por uma manutenção anual em que é feito também um teste para verificar a capacidade de flutuação da balsa. O fundamental da balsa é proteger o náufrago de situações como perda excessiva de calor corporal que pode ocasionar hipotermia e por conta disso a morte, desidratação e inanição. Dentro da balsa ele vai estar protegido do ambiente marinho, protegido da perda significativa de calor e vai ter acesso à água e a mantimentos.”
Inscrições abertas para o curso de Pescador Especializado
Estão abertas, até 4 de julho, as inscrições para o curso de “Pescador Especializado (CFAQ PEP N3)”. Para se inscrever é preciso ser brasileiro(a), ter ensino fundamental completo, idade superior a 18 anos e ter sido aprovado em teste físico. O teste físico será realizado no Trapiche da Praia da Armação, em Penha (SC). As aulas serão realizadas de agosto a novembro no período da tarde de forma presencial. Para se inscrever, clique aqui.
Para mais informações, acesse o edital edital nº 07/Deing/2023/2.
Por Beatrice Gonçalves | Jornalista do IFSC