Neabi do Câmpus Itajaí promove mesa-redonda para refletir sobre a importância de uma educação antirracista

EVENTOS Data de Publicação: 22 nov 2024 17:20 Data de Atualização: 22 nov 2024 17:22

Na última terça-feira (19), o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas do Câmpus Itajaí (Neabi) promoveu uma mesa-redonda para debater educação antirracista. O evento marcou a oficialização do 14º Neabi do IFSC e foi um importante momento para ouvir relatos de pessoas que tem no seu dia a dia histórias atravessadas pelo racismo como do estudante do Câmpus Itajaí Bruno Oliveira, do professor visitante do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC José Bento Rosa da Silva, da radialista e coordenadora do Baque Mulher Itajaí/ Balneário Vanuza Azevedo, da presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento da Comunidade Negra de Itajaí (Conegi) e advogada Márcia Guimarães e do professor do câmpus Gaspar Luiz Herculano. 

Para começar as discussões, o grupo de teatro do Câmpus fez uma encenação baseada em um relato da escritora Carolina Maria de Jesus no livro “O quarto do despejo”. Na encenação, ela é apontada na rua por ser negra.
Assim como Carolina, um dos relatos mais fortes foi o do estudante Bruno Oliveira do técnico integrado do Câmpus Itajaí. Ele é um dos fundadores do Neabi e sua batalha para a constituição do núcleo se intensifica a partir das agressões que sofreu.“Eu já não aguentava mais, eles pegaram fotos minhas e começaram a fazer figurinhas racistas e um dia já iria partir para a agressão física, porque eu já tinha me tornado o preto reativo.  Mas no momento, eu encontrei uma servidora e foi ai que começamos a pensar no Neabi para não deixar que essas falas caíssem no esquecimento. Eu vejo o Neabi enquanto um espaço acolhedor, não quero ser visto como ameaça ou inspiração, eu quero que as pessoas me respeitem.”
Como Bruno, o  professor visitante do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC José Bento Rosa da Silva lembrou de quando entrou na escola. Segundo ele, foi nesse momento que “me tornei preto”. “De onde eu vim, gente era gente. Foi só quando eu entrei no primeiro ano do primário  é que eu virei o pretinho e no começo isso me incomodava.” 

A radialista e coordenadora do Baque Mulher Itajaí/ Balneário Vanuza Azevedo também lembrou de um caso que aconteceu quando ela foi visitar uma escola. “Quando eu e mais duas integrantes do Baque Mulher chegamos na escola, uma criança de uns 11 anos nos olhou e disse são pretas. Isso me doeu.”

A presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento da Comunidade Negra de Itajaí (Conegi) e advogada Márcia Guimarães lembrou que só no último mês chegaram a até eles dois casos de racismo em escolas da região. “Tivemos o caso de uma criança que foi espancada no banheiro de uma escola e de uma professora que foi xingada por outra. Isso em apenas um mês.”

A professora da rede municipal de Itajaí, membra do grupo Mariama e mãe de estudante de uma estudante do técnico integrado do Câmpus Itajaí Regina Almeida também deu seu relato. “Eu sou mãe de estudante e depois de ver minha filha reprovar fui entender que ela fez isso de forma proposital para não ficar na mesma turma em que ela estudava e sofria racismo.”

O professor do câmpus Gaspar Luiz Herculano do Câmpus Gaspar, que é membro da diretoria da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e Negras (ABPN) e um dos fundadores do primeiro Neabi do IFSC falou sobre a necessidade de uma política antirracista no IFSC. “O Neabi de Gaspar tem 10 anos e foi criado a custa de muita briga. Nós temos desenvolvido uma pesquisa de Pibiq no Câmpus Gaspar para analisar o ingresso, a permanência e o êxito dos estudantes negros e temos observado que não há uma  política antirracista no IFSC. Em casos de agressão a estudantes apenas se coloca como uma agressão sem citar a questão racial e isso é importante.   É fundamental compreender que buscar a educação antirracista é uma obrigação de todos nós. O racismo me atravessa todos os dias. Eu venho de uma universidade que não tinha professores negros na UFRJ. Quando os estudantes do primeiro ano costumam chegar na minha sala, dar de cara comigo é algo impactante para eles, porque eu não estou no arquétipo de professor de instituto federal.”

EVENTOS CÂMPUS ITAJAÍ