PESQUISA Data de Publicação: 21 mai 2020 12:17 Data de Atualização: 21 mai 2020 12:33
A tão discutida medida de isolamento social para combate à Covid-19 tem como meta não disseminar a infecção pelo vírus, mas com o objetivo final de não sobrecarregar as unidades de saúde. O alto potencial de contágio do coronavírus, associado ao quadro de acelerada piora do estado clínico dos pacientes e consequentemente do maior tempo de permanência dos casos críticos em unidades de terapia intensiva (UTI) são responsáveis pelo atual colapso no atendimento de hospitais. Aliado a esse panorama da saúde pública, o baixo número de leitos em UTIs, provocou professores do IFSC e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que passaram a desenvolver equipamentos e dispositivos para combate e tratamento da Covid -19.
O projeto aprovado no edital do Conif, dirigido a iniciativas de combate à pandemia, prevê a construção dos dois principais equipamentos de trabalho para a terapia da doença: um modelo de ventilador pulmonar de baixo custo e dois modelos de respiradores AMBU (unidade manual de respiração artificial ou respirador manual) automatizados.
Panorama
Estima-se que o público impactado pela pandemia no país seja, caso se confirmem as previsões, segundo o projeto aprovado no edital, da ordem de 600.000 pessoas (0,3% da população). Considerando a estimativa que o número de pacientes acometidos da doença que acabam necessitando de leitos de tratamento intensivo varia da ordem de 5 a 15%, este número pode atingir a ordem de até 90.000 pessoas.
A carência de ventiladores pulmonares mecânicos é um dos problemas apresentados no momento. O equipamento é utilizado em 50% das internações em leitos de UTI da rede do SUS enquanto na rede privada gira em torno de 20%. Entretanto, existem entraves para a adequação da estrutura da rede de saúde do país. O primeiro é o alto valor de investimento necessário para equipar uma unidade de tratamento intensivo. Conforme divulgações anteriores, o custo varia de aproximadamente R$ 120.000,00 a R$ 180.000,0 para equipar um único leito. Deste valor, apenas o respirador comercial custa em torno de R$ 70.000,00. Outro fator que vêm dificultando o atendimento da demanda é a alta procura, em todo o mundo, por este tipo de equipamento, fabricado principalmente por empresas estrangeiras.
Diante de todos esses fatores, profissionais do IFSC e da UFSC vêm trabalhando desde março no desenvolvimento de ventiladores pulmonares de baixo custo, automatização de respiradores AMBU entre outros dispositivos para atendimento da demanda. Como consta no projeto, a iniciativa se propõe, por meio do desenvolvimento destes dispositivos, a contribuir para o aumento da capacidade do sistema de saúde brasileiro, do ponto de vista de acessibilidade e disponibilidade de equipamentos, para atender a demanda dos casos de COVID-19, reduzindo assim a quantidade de óbitos durante a pandemia da doença. Já há equipamentos em fase de testes pré-clínicos e protótipos construídos ou em fase de conclusão que ao serem homologados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) podem vir a ser fabricados com um custo mais acessível por empresas nacionais.
Assim, a iniciativa visa incrementar a capacidade de atendimento de pacientes com Covid-19. O professor do Departamento Acadêmico de Metal Mecânica do Câmpus Florianópolis, Luiz Fernando Segalin de Andrade, conta que a ideia surgiu através do contato com o responsável pelo setor de Engenharia Clínica do Hospital Universitário da UFSC, Léo Fabrício Pereira, com quem já desenvolve atividade de extensão que substitui engrenagens e leitos automatizados. “Ainda no mês de março ele comentou sobre um grupo de professores, alunos e técnicos que, voluntariamente, estavam buscando desenvolver equipamentos para o combate à Covid-19. Ele então me passou o contato dos responsáveis e me inseri no grupo participando do desenvolvimento e construção de equipamentos. Assim, que entrei no grupo percebi que havia outros docentes do IFSC também atuando no grupo que se intitulou Equipamentos Médicos de Emergência (EME)”, relata Luiz.
O professor destaca que em relação à automatização do respirador AMBU, o grupo está com dois protótipos construídos e precisando de ajustes. “Uma das limitações tem sido a falta de recurso financeiro. Dessa forma, a aprovação no edital do Conif veio no momento exato para que consigamos seguir os trabalhos dentro do cronograma. O ventilador pulmonar, por sua vez, está já em uma fase de testes mais adiantada mas também demandando recursos para execução dos testes e adaptação do protótipo para todas as condições de trabalho necessárias.... Estamos no aguardo da liberação dos recursos, sabemos que as instituições que não precisaram da adequação do valor já receberam. No nosso caso, por termos feito a adequação ainda estamos dependendo da aprovação da Setec (Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica)”, diz Luiz, com alívio.
Automação do respirador AMBU
Trabalho
Segundo Segalin de Andrade, os trabalhos estão sendo desenvolvidos em parceria de forma bastante flexível. “Há uma equipe de coordenação geral do grupo EME formado por participantes da IFSC e do IFSC, mas há, também, uma divisão em subgrupos que têm uma gestão bastante autônoma. Assim, como foi uma iniciativa estritamente voluntária dos participantes, o trabalho tem sido dividido de maneira que as tarefas são assumidas voluntariamente por diferentes participantes”, diz ele.
O professor explica que os protótipos estão em fase de testes e melhorias: “depois de testados ainda deverão ser otimizados e encaminhados posteriormente para validação pré-clínica e clínica sendo, então, validados junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e disponibilizados para produção junto a empresas que possuam autorização da agência para produção de equipamentos médicos. Já existe, também, um encaminhamento de pedido de patente do ventilador pulmonar”. Nesta quinta-feira (21), estava em testes no hospital Sírio Libanês.
Ventilador Pulmonar
Ele adverte que, na realidade, como a Anvisa impõe restrições quanto à fabricação de equipamentos hospitalares, a ideia é disponibilizar os conceitos para possíveis empresas parceiras que possuam certificação da Anvisa para produção. “A ideia é desenvolvermos equipamentos com fácil fabricação e disponibilidade de itens comerciais de preferência sem depender de importação para que os fabricantes consigam produzir com baixo custo e rapidez os equipamentos necessários para o atendimento da demanda das unidades de saúde. Assim, se evitaria situações como as que temos presenciado de cargas de respiradores que não chegam ou que ficam retidas em outro país, por exemplo.
Equipe
O trabalho conta, além do coordenador Luiz Fernando Segalin de Andrade, com Adilson Pakuszewski, do Câmpus Caçador; Aldrwin Farias Hamad, Aurélio da Costa Sabino Netto, Fernando José Fernandes Gonçalves, Marcelo Vandresen, Roberto Ângelo Pistorello, Luciano Amaury dos Santos, do Câmpus Florianópolis. Da UFSC, a participação é por parte dos professores Lauro César Nicollazzi, Gierri Waltrich, e Saulo Güths. Além da parceria da UFSC, o projeto também conta com auxílio de pessoal da área da saúde e de outras instituições: professores Fernando Osni Machado, Doutor em Pneumologia (UFSC) e Rogério José Marczak, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Há ainda a previsão de três bolsistas de Apoio Técnico à Pesquisa, de nível Superior da UFSC.